In ilo tempore o homem busca se encontrar com Deus (Eliade, 2001). É de fato o grande anseio da humanidade; um encontro com aquilo que pode nos satisfazer, saciando esta nossa "fome" de poder (Nietzsche). Esta ansiedade por algo que o preencha é inata ao homem, todos precisam de algo. Desde o mais abastado dos homens até o mais sôfrego dos miseráveis, paira uma espécie de insatisfação sobre todos. O fato é que o homem, de per si, nunca está satisfeito - ele sempre quer mais. Grosso modo - mesmo correndo o risco de uma abordagem simplista - esta é a grande resposta dos mais variados viciados nas mais variadas modalidades de vícios. Quiçá, eu preciso, é uma necessidade!
Ademais, percorrendo os corredores dos antídotos humanos a nossa carência de ser, deparamo-nos com as mais diletas narrativas mitológicas, com as mais laboriosas poesias e as mais abstratas filosofias. Tudo, para conduzir o homem a suficiência. Neste íterim - a glória. Segundo Joseph Campbell (1986), os heróis surgem desta paixão pela glória, pelo encontro do ser (suficiência). Segundo ele, todos quantos foram encontrados por uma grande aventura (épica), se depararam com esta fórmula, a saber: irrupção de um problema - desafio mitológico pela resolução - frustração pela excentricidade da glória. De acordo com Campbell, reside aí a sobeja diversidade das histórias mitológicas e a conspícua produção de novos heróis, a saber, do anseio do homem pelo ser (suficiência, glória).
Nesta perspectiva, surge no seio da humanidade uma odisséia pela satisfação. São muitos os que pensam, como os mais conhecidos heróis mitológicos, que podem encontrar esta satisfação por suas próprias forças. Desta forma, levando em consideração o "tamanho" da ambição humana; deste ponto em diante aos nos referirmos a satisfação, suficiência ou glória, entenderemos que estas apontaram sempre a Deus - como diria Dostoievski. Com base nisso, chegamos ao âmago de nossa discussão, a saber: Pode o homem encontrar a Deus?
São muitos os que dizem que sim! Que você poder encontar a Deus no final de uma "penitência", por exemplo. Outros dizem que você pode encontar a Deus quando sua mente estiver eminentemente vazia. Outros ainda que você precisa tão somente "abrir" o coração. E os argumentos se multiplicam aos borbotões. A meu ver, temos aqui um bom exemplo da velha maneira grega de conceber a relação do homem com Deus, a qual é deveras simples, encontre-o!
Entretanto, creio veementemente que as coisas não são tão simples. Primeiro, não existem vários deuses, como se concebe até os dias de hoje, mas, apenas um - O Deus Todo Poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Redentor. Segundo, mesmo que fosse possível divisá-lo (pois é Espírito), onde encontrá-lo? Após o Aqueronte? No coração de algum dragão? No fundo de alguma lagoa mágia ou no degustar de alguma bebida xamântica? Onde? Temos, então, dois grandes problemas, os maiores problemas da humanidade. Os quais seriam: a total dependência de um Deus intangível (humanamente falando), e a total falta de um instrumento que nos conduzisse a Ele. Explico.
Quando assevero nossa total dependência, falo no que tange a auto-suficiência de Deus. Dizer que Ele é auto-suficiente é o mesmo que pensar em termos absolutos - Ele não precisa de nós para ser Deus. Logo, nós precisamos deseperadamente d'Ele para sermos, pelo menos, servos. Ato contínuo, sendo Deus absoluto - estando muito bem servido de si - e resgatando a doutrina fulcral do "Pecado Original", que nos separa inexoravelmente de seu Ser perfeito, amealhado a premissa que pelo pecado Deus se encontra "irado" com a humanidade e necessita, em sua santidade, de algo que aplaque esta ira, eu pergunto: O que oferecer a Deus? Melhor, como chegar até Ele para oferecer-lhe algo? Mais, sendo Ele perfeito, onde encontar perfeição numa terra completamente depravada (pecado original), para, a partir daí, oferecer-lhe?
Leitor, nós não tínhamos forças e muito menos meios. Estávamos de "mãos", literalmente, atadas.
Só havendo, portanto, uma solução: Por não podermos encontrar a Deus, teríamos que ser encontrados por Ele. Logo, pasme, foi o que ocorreu!
Em nossa luta tosca (como cegos espirituais procurando um caminho espiritual) por satifação (Deus), mais parecíamos "ovelhas que não possuíam pastor" (Mc 6.34) cada um de nós se "desviava por seus próprios caminhos" (Is 53.6). Era uma visão lastimósa, muito triste. Então "Deus - a revelia do percebido nas mitologias - sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos (o que prova a falta de forças e meios) em nossos delitos (pecado original), nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos (Ef 2.4-5). Deus parte em nossa direção, se compadesse de nós, "nos ama primeiro", e de uma maneira extritamente sobrenatural "cancela o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removendo-o inteiramente, encravando-o na cruz" (Cl 2.14). Ele, serve como autoridade em si e resolve o primeiro de nossos problemas (falta de forças) utilizando um meio que jamais nos serviria - a cruz, resolvendo, assim, o segundo de nossos problemas (a falta de meios).
Em seu eterno propósito, Deus, finalmente, nos encontra!
Finalmente, acredito que o homem jamais encontrará, por tudo que foi asseverado, a "satisfação" que busca, por suas próprias forças - porque o homem está morto (sem forças e sem meios para isso). Ele precisa de algo que lhe manifeste e supra esta sensação de vázio, algo que finalmente o faça descansar. Esse algo, Deus.
Mas, você pode não concordar com nada do que eu falei, e pode deliberadamente continuar sua jornada por satisfação. Creio que você pode estar sentindo o mesmo vazio sentido por Dostoievski, que disse, "Dentro de casa ser humano existe um vazio do tamanho de Deus". Então, sabendo agora o que tens que procurar, BOA SORTE!
Um comentário:
As pressuposições apresentadas, mostram que na condição humana, totalmente depravada o homem sempre se "fadigará em procurar um meio de chegar a Deus, se não chegar ao seu imaginario deus",porém é maravilhoso ver que Deus sabe de nossa ignorância completa, e nos revela o meio, Jesus Cristo. Parabéns professor Jamerson, um texto conciso e relevante para esse mundo com tantas ideias criadas pelo proprio homem, sobre o Tema.
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