terça-feira, 4 de setembro de 2018


Simão e a Pecadora

Considerações acerca das possíveis motivações que nos conduzem até o Senhor Jesus


O mesmo Deus para duas motivações distintas (V36-39)
                Lucas nos diz que o fariseu Simão, convidou o Senhor Jesus para que fosse jantar com ele. Seguramente este homem já tivera oportunidade de ouvir as palavras de Jesus, de modo que, provavelmente esperando alguma espécie de promoção pessoal; resolveu recebê-lo em sua casa – perceba que várias pessoas ilustres também são convidadas para prestigiar a Simão e seu convidado.
Uma vez na casa de Simão, Jesus tomou lugar. A mesa daquela época seria como um centro, um divã, nos dias de hoje. Ela era baixa, quase rente ao chão, tinha forma de “U” e era toda cercada com almofadas. Ao sentar, os que não eram escravos tiravam as suas sandálias e reclinavam-se sobre um dos braços, enquanto que o outro ficava livre para comer e os pés permaneciam voltados para trás.
O fato que chama atenção é que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou até Ele um vaso de alabastro com unguento. O fato de Lucas mencionar que ela era da cidade, aponta para o fato de que o fariseu a conhecia bem. Ou seja, Simão conhecia quem era a mulher e que espécie de vida ela possuía.
Por sua vez, sabendo a mulher que Jesus estava na casa do fariseu, resolveu presentear-lhe com o que tinha de mais precioso. Sua postura perante o Senhor Jesus deixa isso bastante claro, uma vez que ela, estando por detrás, passa a acariciar-lhe os pés, chorando.
A pecadora vai ainda mais além em sua profunda entrega a Deus, e, num ato proibido a todas as mulheres judias da época, ela desprende o véu dos seus longos cabelos, e, com eles, passa a enxugar os pés de Jesus. Enquanto ela lavava os pés empoeirados do Mestre com suas lágrimas e enxugava-os com seus cabelos, enternecia-os com seus lábios beijando-os profusamente.
Quando, finalmente, percebera que os pés do Mestre estavam prontos, quebrou o preciosíssimo vaso de alabastro e perfumou os pés de Jesus. Um vaso de alabastro era um objeto caríssimo feito de um material mais nobre que o mármore, e que só era encontrado nas regiões da Cilícia. A história assevera que eles possuíam um gargalo muito longo, de modo que para serem usados, precisavam ser quebrados.
                A visão da mulher tocando em jesus e lhe prestando todo aquele cuidado deixou o fariseu Simão estupefato. Talvez, naquele momento, Simão achasse que se realmente Jesus fosse um profeta, saberia prontamente “quem e qual” a mulher que estava lhe tocando. Ele provavelmente deixava transparecer a todos a maneira com que estava abismado pelo fato d’Ele deixar-se tocar por uma pecadora.
Neste ponto eu pergunto: - Você consegue perceber a nítida diferença nas motivações de Simão, o fariseu, e da mulher que estava furtivamente em sua casa?
Simão estava preocupado com status, em ser visto com Jesus. Ele sabia que Jesus era um mestre festejado e poderoso, conhecia sua reputação e a maneira com que ele estava revolucionando Jerusalém com sua mensagem. Logo, Simão não queria perder a oportunidade de estar mais próximo de um homem assim. Sua ambição era meramente social e intelectual.
A Mulher, por sua vez, reconhecia em Jesus o Messias, àquele que finalmente poderia restituir toda a dignidade que o pecado havia roubado de sua humilde vida. Ela não queria perder a oportunidade de ser transformada pelo Mestre, de entregar sem reservas a Ele tudo o que de mais precioso possuía. Ela não queria simplesmente ser vista com Ele, queria servi-lo, amá-lo, adorá-lo.
Eis, portanto, a grande diferença de postura entre Simão, o fariseu, e a mulher pecadora. Para Simão, Jesus era a possibilidade de manter-se na mesma vida, de aperfeiçoá-la, enquanto que para a mulher, jesus era a possibilidade abandonar a àquela vida, de acabá-la de uma vez.  
Em outras palavras, Simão estava meramente envolvido com Jesus, enquanto que a mulher estava profundamente comprometida.

O conhecimento que temos do nosso próprio pecado nos dará uma ideia da dimensão que temos de nossa própria dívida (V40-43)
                Sabiamente, o Senhor Jesus aproveita o clima criado pela postura de Simão e o objeta da seguinte maneira: - Simão, tenho uma lição para você! Ao que Ele respondeu: - Dize-a Mestre.
Simão achava que Jesus estava por instruir-lhe com uma das áridas lições farisaicas, destituídas de calor humano, de vida. Não sabia ele que como um ser onisciente, Jesus sabia exatamente o que se passava em seu coração, e, desta forma, estava prestes a dar-lhe uma lição que mudaria para sempre a sua vida.
Desta forma, o Senhor Jesus passa a contar-lhe a história de dois homens que coincidentemente possuíam uma dívida com o mesmo credor. Com a diferença de que um devia 500 denários, enquanto que o outro apenas 50. Um denário era o equivalente a um dia de trabalho. Logo, um dos devedores devia o equivalente a 500 dias de trabalho árduo, uma verdadeira fortuna, enquanto que o outro devia apenas 50.
Jesus diz que o credor, graciosamente, perdoou a ambos, e, ao final, olhando nos olhos de Simão, pergunta: - Qual deles, portanto, o amará mais?
                Até este ponto o pobre e cego fariseu não conseguia distinguir que Jesus se referia a ele e a mulher. Isto porque Simão achava que sua condição diante de Deus era muito diferente da condição da mulher. Afinal, ele era um poderoso fariseu, enquanto que ela, não passava de uma pecadora. Não sabia ele que na verdade suas condições diante de Deus eram exatamente as mesmas. A compreensão destas é que era diferente!
                Momento em que finalmente Simão responde: - Suponho que aquele a quem mais perdoou. Ao que Jesus ajuntou: - Pela primeira vez, Simão, julgaste bem!
                Ao que parece, fora neste momento que, para surpresa de Simão, ele finalmente percebeu que aquela história dizia respeito a ele. Neste ponto, a bruma que envolvia o coração daquele soberbo fariseu estava se dissipando, enquanto Jesus percebia que o mesmo estava finalmente pronto para ser confrontado pela mensagem!

Quando compreendemos quanto devíamos e a maneira com que fomos perdoados, podemos, também, perdoar (V44-50)
                - Vês esta mulher? Ora, Simão só conseguia enxergar uma pecadora, e não uma serva de Deus que recebia a Cristo de todo coração. Com esta pergunta, o Senhor Jesus queria que ele abrisse os olhos para algo mais, algo que àqueles que se auto justificam jamais conseguiram ver – a premente necessidade que todos temos de Jesus!
Àquele homem se orgulhava da maneira zelosa com que “servia a Deus”, quando, na verdade, nunca tinha ao menos se achegado aos pés de Jesus, nunca tinha vivido uma experiência real com Ele.
“Quem vê a si mesmo como bom, não percebe a sua necessidade de um Salvador. Quão diferente é quando compreendemos que somos pecadores condenados, e entendemos que basta um único pecado para nos condenar por toda a eternidade” Martin Lloyd-Jones.
É com base nesta observação que Jesus mostra a Simão quem verdadeiramente o amava, Ele diz: - Não me deste água para os pés, enquanto ela regou meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me beijastes no rosto, ela, por sua vez, não cessa de beijar os meus pés. Não ungistes a minha cabeça com óleo, enquanto que esta pecadora, com bálsamo caríssimo, ungiu-me os pés.
É como se o Senhor Jesus estivesse dizendo: - Você está vendo, Simão? Sendo meu anfitrião, não me fizeste o mínimo, não me deste o menor valor, enquanto que esta mulher, de maneira tão doce, demonstrou-me todo o seu amor.
Talvez isto aconteça porque, somente aqueles que compreendem sua real necessidade de um salvador, poderão de fato encontrá-lo e agradecê-lo por sua gloriosa salvação.
                Logo, é verdade dizer que a maneira com que nós amamos a Jesus é diretamente proporcional a dimensão do perdão que sabemos ter recebido d’Ele. Em outras palavras, enquanto o fariseu só queria ostentar nobreza com a presença de Jesus, a mulher estava disposta a entregar tudo o que possuía para estar próxima do Filho de Deus – pois ela sabia o valor que Ele tinha.
Portanto, apenas àqueles que conseguem dimensionar o tamanho da dívida que possuíam podem dar o devido valor a pessoa do Senhor Jesus e consequentemente ao perdão que receberam d’Ele.
                Que hoje, prostrados aos pés de Jesus, nós possamos provar para Ele como é precioso para nós o seu perdão. Que Ele tenha certeza, assim como teve daquela mulher, que nós o amamos. Só esse amor pode fazer com que a nossa adoração seja verdadeira. Sendo assim, aproxime-se de Jesus com amor suficiente para ouvi-lo dizer: A tua fé te salvou; vai-te em paz!

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

VIDA

No princípio dos dias,
temos uma vaga ideia de vida.
Temos coragem para viver,
mas não sabemos como.


No meio dos dias,
temos uma clara ideia de vida.
Sabemos como viver,
mas não temos coragem.


Agora
Temos coragem para viver,
e sabemos como.
Mas, não temos vida. 

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A FEMINILIDADE E O CASAMENTO

Quanto tempo, não?

Após um longo período sem escrever para o blog, estes dias recebi o bondoso convite de escrever algo. Não tem muito a ver com o que outrora escrevíamos aqui. Mas, como a saudade bateu, compartilho o que escrevi. Quem sabe se outros textos virão? Bem, agora só o tempo dirá.

...

in Ef 5.22-24

Quando Paulo escreveu aos efésios ele se encontrava preso na cidade de Roma. Um dos interesses de Paulo em escrever para a principal cidade da Ásia Menor fora fortalecer a mesma quanto a sua permanência na fé e no serviço do Mestre, uma vez que a cidade estava um tanto abalada pelo fato do principal representante do cristianismo entre os gentios se encontrar manietado na capital do império.

Esse breve contexto histórico, de per si, nos mostra a importância desta carta e bem assim o zelo que Paulo nutria por esta igreja, notadament
e a comunidade de fé em que ele mais se demorou ao longo de suas viagens, três anos. No que tange aos assuntos tratados por Paulo nesta epístola, figura o que nós escolhemos para servir como base para nossa reflexão, qual seja, a postura da mulher no âmbito do relacionamento conjugal. Sem dúvida, um assunto muito importante para Paulo, caso contrário, ele não “perderia tempo” tratando do mesmo.

O tema que estamos abordando se encontra inserido num assunto maior – o relacionamento entre os cônjuges – onde Paulo procura aconselhar tanto os maridos como as esposas. Ele inicia seus conselhos a partir das mulheres, isso me parece algo muito honroso, porque de acordo com a cultura da época, dificilmente as mulheres iniciaram qualquer coisa. Digo isso porque a esta altura, em termos culturais, as mulheres não possuíam qualquer proeminência. Elas eram desprovidas de direitos civis e sociais, para a sociedade da época soavam como uma espécie de cidadã de segunda categoria. O sentimento que se tinha era de que, quando solteira, a moça pertencia a seu pai – sendo este livre para estipular dotes, oferecê-la como moeda de troca em negócios escusos, desposá-la como esposa para homens desafeiçoados com fim de fortalecer famílias, etc. – o qual, através do pátrio poder, podia dispor de sua filha das mais variadas maneiras. Quando casada, o leque de possibilidades quanto à “serventia” da mulher diminuía consideravelmente. Contudo, uma coisa não mudava, ela ainda era tida como mero objeto, só que de propriedade de outro homem, no caso, seu marido.

Neste azo, a mensagem pregada por Jesus e perpetuada por homens tais como o apóstolo Paulo surge de forma revolucionária. Num contexto sócio-cultural em que as mulheres eram vistas da forma como retratamos, privilegiá-las, tê-las em consideração, seria no mínimo contra producente; algo de somenos importância, pois, afinal de contas, havia “coisas mais importantes” para se tratar que se preocupar com mulheres. Não obstante, de forma magistral, fora justamente isso que a mensagem do evangelho fez.

No evangelho, digo, na proposta estabelecida por Jesus e difundida nesta carta por Paulo, a mulher é tratada de forma diametralmente oposta. Agora, ela possui direitos e têm os seus deveres estabelecidos. Finalmente, ela pode sentir-se parte de algo, ter uma razão de ser, uma missão. É justamente disso que Paulo trata nos versos que ora analisamos. Ele diz: as mulheres sejam, em tudo, submissas ao seu próprio marido. Se lermos rapidamente este texto, temos a tendência natural de acharmos que quase nada mudou, afinal de contas, olha a tal submissão aí de novo. No entanto, a submissão proposta pelo evangelho não tem quase nada haver com a submissão experimentada pelas mulheres até então.

Digo isto porque, agora, o contexto é completamente diferente. Apesar da idéia de “ascendência” quanto ao homem permanecer, este, quando muito, não é mais dono da mulher e sim, responsável por ela. Sua missão, enquanto sacerdote de sua casa é auxiliar a sua esposa a trilhar um caminho que mais enalteça a Cristo e glorifique o seu nome. E é justamente para auxiliar nesta missão que a mulher deve prestar submissão a ele. Parece-me que é isso o que Paulo quis dizer quando asseverou que as mulheres devem ser submissas ao seu próprio marido na proporção em que a igreja é submissa a Cristo. Logo, se a missão de Cristo é conduzir a sua igreja incólume até a presença do Pai, a missão do marido para com a sua esposa não é em nada diferente.     

É por isso que no contexto da epístola ora tratada Paulo pressupõe que os cônjuges passaram pela experiência do novo nascimento, ou seja, foram alcançados eficazmente pelo evangelho – “pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz” Ef 5.8. Essa experiência ao tempo que capacita o homem a exercer o seu sacerdócio, também equipa a mulher com as ferramentas necessárias para auxiliá-lo – leia-se estar sob sua liderança – sendo submissa. Ambas as funções, sem a iluminação do Espírito Santo, não seriam nada fáceis. Daí a preocupação de Paulo em sugerir, a princípio, o relacionamento com Deus, para só então, o relacionamento com o cônjuge.

Para se ter uma idéia de como o evangelho é importante nesse sentido, atente para o fato de como a coisa muda sob a ótica do mesmo. A partir de agora, a mulher está não como mera coadjuvante (um objeto usado por quem exerce autoridade sobre ela), mas como a protagonista de sua própria história auxiliando (inferindo, opinando, participando) o homem que Deus lhe deu para amar, a conduzi-la até a casa de seu Pai celestial. Contudo, essa historia pode ficar ainda melhor, isso porque há uma meta a ser alcançada, pois, a missão do homem não é tão somente conduzir a mulher, mas amá-la, e isso numa proporção tal, a ponto de sua própria vida vir a responder pela dela. Até que, finalmente, este homem possa chegar ao final de sua jornada, e neste dia glorioso provar para Deus que teve êxito em sua missão, pois, tendo o Filho como exemplo, ele também estará apresentando sua noiva “como uma igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito”.

Desta forma, ante o exposto, eu pergunto: como não se submeter a um projeto assim?

Todavia, infelizmente, muitas mulheres não estão exercendo bem esta sua sublime missão. Ao que parece, isso devido ao fato de que a maioria destas mulheres ainda não conseguiu descobrir em termos bíblicos sua verdadeira feminilidade. Tais mulheres, por não compreenderem o projeto de Deus para suas vidas, lutam por assumir funções que não lhe competem, o que tem causado desconforto para suas vidas e transtornos para os seus relacionamentos. Além desta falta de conhecimento, há ainda outros dois fatores que tem sido preponderantes para o surgimento do problema aventado: a pressão ideológica (feminismo) e social (secularismo). Tais fenômenos têm concorrido para trazer muitos problemas. As mulheres que sucumbem aos mesmos alienam-se de Deus e crêem piamente que poderão substituí-lo com mantras motivacionais e frases de efeito que mais aumentam sua “sede de ser” que necessariamente lhes auxiliam em sua inglória jornada rumo a lugar nenhum.

Destarte, mais do que nunca, creio que a melhor maneira de resgatarmos a verdadeira feminilidade entrementes esta geração corrupta e perversa é promovendo um retorno a Palavra, ao projeto elaborado pelo próprio Deus para a vida das mulheres. Por mais que as pessoas tentem legar a mensagem do evangelho a um segundo plano, o panorama atual nos mostra que não existe nenhuma outra alternativa, se não, a promoção do projeto de Deus para a humanidade. De modo que, homens e mulheres, compreendam suas respectivas funções e lutem, com a graça de Deus, para implantar na terra os valores do seu Reino.

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

O QUE É ETNOCENTRISMO

O QUE É ETNOCENTRISMO - páginas 5-10


     PENSANDO EM PARTIR

Etnocentrismo é uma visão do mundo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas.
Assim, a colocação central sobre o etnocentrismo pode ser expressa como a procura de sabermos os mecanismos, as formas, os caminhos e razões, enfim, pelos quais tantas e tão profundas distorções se perpetuam nas emoções, pensamentos, imagens e representações que fazemos da vida daqueles que são diferentes de nós. Este problema não é exclusivo de uma determinada época nem de uma única sociedade. Talvez o etnocentrismo seja, dentre os fatos humanos, um daqueles de mais unanimidade.
Como uma espécie de pano de fundo da questão etnocêntrica temos a experiência de um choque cultural. De um lado, conhecemos um grupo do “eu”, o “nosso” grupo, que come igual, veste igual, gosta de coisas parecidas, conhece problemas do mesmo tipo, acredita nos mesmos deuses, casa igual, mora no mesmo estilo, distribui o poder da mesma forma, empresta à vida significados em comum e procede, por muitas maneiras, semelhantemente. Aí, então, de repente, nos deparamos com um “outro”, o grupo do “diferente” que, às vezes, nem sequer faz coisas como as nossas ou quando as faz é de forma tal que não reconhecemos como possíveis. E, mais grave ainda, este “outro” também sobrevive à sua maneira, gosta dela, também está no mundo e, ainda que diferente, também existe.
Este choque gerador do etnocentrismo nasce, talvez, na constatação das diferenças. Grosso modo, um mal-entendido sociológico. A diferença é ameaçadora porque fere nossa própria identidade cultural. O monólogo etnocêntrico pode, pois, seguir um caminho lógico mais ou menos assim: Como aquele mundo de doidos pode funcionar? Espanto! Como é que eles fazem? Curiosidade perplexa? Eles só podem estar errados ou tudo o que eu sei está errado! Dúvida ameaçadora?! Não, a vida deles não presta, é selvagem, bárbara, primitiva! Decisão hostil!
O grupo do “eu” faz, então, da sua visão a única possível ou, mais discretamente se for o caso, a melhor, a natural, a superior, a certa. O grupo do “outro” fica, nessa lógica, como sendo engraçado, absurdo, anormal ou ininteligível. Este processo resulta num considerável reforço da identidade do “nosso” grupo. No limite, algumas sociedades chamam-se por nomes que querem dizer “perfeitos”, “excelentes” ou, muito simplesmente, “ser humano” e ao “outro”, ao estrangeiro, chamam, por vezes, de “macacos da terra” ou “ovos de piolho”. De qualquer forma, a sociedade do “eu” é a melhor, a superior. representada como o espaço da cultura e da civilização por excelência. É onde existe o saber, o trabalho, o progresso. A sociedade do “outro” é atrasada. E o espaço da natureza. São os selvagens, os bárbaros. São qualquer coisa menos humanos, pois, estes somos nós. O barbarismo evoca a confusão, a desarticulação, a desordem.
O selvagem é o que vem da floresta, da selva que lembra, de alguma maneira, a vida animal. O “outro” é o “aquém” ou o “além”, nunca o “igual” ao “eu”.
O que importa realmente, neste conjunto de idéias, é o fato de que, no etnocentrismo, uma mesma atitude informa os diferentes grupos. O etnocentrismo não é propriedade, como já disse, de uma única sociedade, apesar de que, na nossa, revestiu-se de um caráter ativista e colonizador com os mais diferentes empreendimentos de conquista e destruição de outros povos.
A atitude etnocêntrica tem, por outro lado, um correlato bastante importante e que talvez seja elucidativo para a compreensão destas maneiras exacerbadas e até cruéis de encarar o “outro”. Existe realmente, paralelo à violência que a atitude etnocêntrica encerra, o pressuposto de que o “outro” deva ser alguma coisa que não desfrute da palavra para dizer algo de si mesmo.
Creio que é necessário examinar isto melhor e vou fazê-lo através de uma pequena estória que me parece exemplar.
Ao receber a missão de ir pregar junto aos selvagens um pastor se preparou durante dias para vir ao Brasil e iniciar no Xingu seu trabalho de evangelização e catequese. Muito generoso, comprou para os selvagens contas, espelhos, pentes, etc.; modesto, comprou para si próprio apenas um moderníssimo relógio digital capaz de acender luzes, alarmes, fazer contas, marcar segundos, cronometrar e até dizer a hora
sempre absolutamente certa, infalível. Ao chegar, venceu as burocracias inevitáveis e, após alguns meses, encontrava-se em meio às sociedades tribais do Xingu distribuindo seus presentes e sua doutrinação. Tempos depois, fez-se amigo de um índio muito jovem que o acompanhava a todos os lugares de sua pregação e mostrava-se admirado de muitas coisas, especialmente, do barulhento, colorido e estranho objeto que o pastor trazia no pulso e consultava freqüentemente. Um dia, por fim, vencido por insistentes pedidos, o pastor perdeu seu relógio dando-o, meio sem jeito e a contragosto, ao jovem índio.
A surpresa maior estava, porém, por vir. Dias depois, o índio chamou-o apressadamente para mostrar-lhe, muito feliz, seu trabalho. Apontando seguidamente o galho superior de uma árvore altíssima nas cercanias da aldeia, o índio fez o pastor divisar, não sem dificuldade, um belo ornamento de penas e contas multicolores tendo no centro o relógio. O índio queria que o pastor compartilhasse a alegria da beleza transmitida por aquele novo e interessante objeto. Quase indistinguível em meio às penas e contas e, ainda por cima, pendurado a vários metros de altura, o relógio, agora mínimo e sem nenhuma função, contemplava o sorriso inevitavelmente amarelo no roso do pastor. Fora-se o relógio.
Passados mais alguns meses o pastor também se foi de volta para casa. Sua tarefa seguinte era entregar aos superiores seus relatórios e, naquela manhã, dar uma última revisada na comunicação que iria fazer em seguida aos seus colegas em congresso sobre evangelização. Seu tema: “A catequese e os selvagens”. Levantou-se, deu uma olhada no relógio novo, quinze para as dez. Era hora de ir. Como que buscando uma inspiração de última hora examinou detalhadamente as paredes do seu escritório. Nelas, arcos, flechas, tacapes, bordunas, cocares, e até uma flauta formavam uma bela decoração. Rústica e sóbria ao mesmo tempo, trazia-lhe estranhas lembranças. Com o pé na porta ainda pensou e sorriu para si mesmo. Engraçado o que aquele índio foi fazer com o meu relógio.
Esta estória, não necessariamente verdadeira, porém, de toda evidência, bastante plausível, demonstra alguns dos importantes sentidos da questão do etnocentrismo. Em primeiro lugar, não é necessário ser nenhum detetive ou especialista em Antropologia Social (ou ainda pastor) para perceber que, neste choque de culturas, os personagens de cada uma delas fizeram, obviamente, a mesma coisa. Privilegiaram ambos as funções estéticas, ornamentais, decorativas de objetos que, na cultura do “outro”, desempenhavam funções que seriam principalmente técnicas. Para o pastor, o uso inusitado do seu relógio causou tanto espanto quanto o que causaria ao jovem índio conhecer o uso que o pastor deu a seu arco e flecha. Cada um “traduziu” nos termos de sua própria cultura o significado dos objetos cujo sentido original foi forjado na cultura do “outro”. O etnocentrismo passa exatamente por um julgamento do valor da cultura do “outro” nos termos da cultura do grupo do “eu”.
Em segundo lugar, esta estória representa o que se poderia chamar, se isso fosse possível, de um etnocentrismo “cordial”, já que ambos – o índio e o pastor – tiveram atitudes concretas sem maiores conseqüências. No mais das vezes, o etnocentrismo implica uma apreensão do “outro” que se reveste de uma forma bastante violenta. Como já vimos, pode colocá-lo como “primitivo”, como “algo a ser destruído”, como “atraso ao desenvolvimento”, (fórmula, aliás, muito comum e de uso geral no etnocídio, na matança dos índios).
Assim, por exemplo, um famoso cientista do início do século, Hermann Von Ihering, diretor do Museu Paulista, justificava o extermínio dos índios Caingangue por serem um empecilho ao desenvolvimento e à colonização das regiões do sertão que eles habitavam. Tanto no presente como no passado, tanto aqui como em vários outros lugares, a lógica do extermínio regulou, infinitas vezes, as relações entre a chamada “civilização ocidental” e as sociedades tribais. Isso lembra o comentário, tristemente exemplar, de uma criança, de um grande centro urbano, que, de tanto ouvir absurdos sobre o índio, seja em casa, seja nos livros didáticos, seja na indústria cultural, acabou por defini-los dizendo: “o índio é o maior amigo do homem”.
Em terceiro lugar, a estória ainda ensina que o “outro” e sua cultura, da qual falamos na nossa sociedade, são apenas uma representação, uma imagem distorcida que é manipulada como bem entendemos. Ao “outro” negamos aquele mínimo de autonomia necessária para falar de si mesmo. Tudo se passa como se fôssemos autores de filmes e livros de ficção científica onde podemos falar e pensar o quanto é cruel, grotesca e monstruosa uma civilização de marcianos que capturou nosso foguete. Também, porque somos os autores destes filmes e livros, nada nos impede de criarmos um marciano simpático, inteligente e super-poderoso que com incrível perícia salva a Terra de uma colisão fatal com um meteoro gigante. Claro, como o marciano não diz nada, posso pensar dele o que quiser.
Assim, de um ponto de vista do grupo do “eu”, os que estão de fora podem ser brabos e traiçoeiros bem como mansos e bondosos. Aliás, “brabos e “mansos” são dois termos que muitas vezes foram empregados no Brasil para designar o “humor” de determinados animais e o “estado” de várias tribos de índios ou de escravos negros. A figura do louco, por exemplo, na nossa sociedade, é manipulada por uma série de representações que oscilam entre estes dois pólos, sendo denegrida ou exaltada – como o marciano – ao sabor das intenções que se tenha. Isto não só ao longo da história, mas também em diferentes contextos no presente. A expressão “fulano é muito louco” pode ser elogiosa em certos casos e pejorativa em outros. Em alguns momentos da história o louco foi acorrentado e torturado, em outros, foi feito portador de uma palavra sagrada e respeitada.
Aqueles que são diferentes do grupo do eu – os diversos “outros” deste mundo – por não poderem dizer algo de si mesmos, acabam representados pela ótica etnocêntrica e segundo as dinâmicas ideológicas de determinados momentos. Na nossa chamada “civilização ocidental”, nas sociedades complexas e industriais contemporâneas, existem diversos mecanismos de reforço para o seu estilo de vida através de representações negativas do “outro”. O caso dos índios brasileiros é bastante ilustrativo, pois alguns antropólogos estudiosos do assunto já identificaram determinadas visões básicas, determinados estereótipos, que são permanentemente aplicados a estes índios.
Eu mesmo realizei, há alguns anos, um estudo sobre as imagens do índio nos livros didáticos de História do Brasil. Estes livros têm importância fundamental na formação de uma imagem do índio, pois são lidos e, mais ainda, estudados por milhões de alunos pré-universitários nos mais diversos recantos do país. Alguns destes livros alcançam tiragens altíssimas e já tiveram mais de duzentas edições. Através deles circula um “saber” altamente etnocêntrico – honrosas exceções – sobre os índios. Os livros didáticos, em função mesmo do seu destino e de sua natureza, carregam um valor de autoridade, ocupam um lugar de supostos donos da verdade. Sua informação obtém este valor de verdade pelo simples fato de que quem sabe seu conteúdo passa nas provas. Nesse sentido, seu saber tende a ser visto como algo “rigoroso”, “sério” e “científico”. Os estudantes são testados, via de regra, em face do seu conteúdo, o que faz com que as informações neles contidas acabem se fixando no fundo da memória de todos nós. Com ela se fixam também imagens extremamente etnocêntricas.
Alguns livros colocavam que os índios eram incapazes de trabalhar nos engenhos de açúcar por serem indolentes e preguiçosos. Ora, como aplicar adjetivos tais como “indolente” e “preguiçoso” alguém, um povo ou uma pessoa, que se recuse a trabalhar como escravo, numa lavoura que não é a sua, para a riqueza de um colonizador que nem sequer é seu amigo: antes, muito pelo contrário, esta recusa é, no mínimo, sinal de saúde mental.
Outro fato também interessante é que um número significativo de livros didáticos começa com a seguinte informação: os índios andavam nus. Este “escândalo” esconde, na verdade, a nossa noção absolutizada do que deva ser uma roupa e o que, num corpo, ela deve mostrar e esconder. A estória do nosso amigo missionário serviu para a constatação das dificuldades de definir o sentido de um objeto – o relógio ou o arco – fora dos seus contextos culturais. Da mesma maneira, nada garante que os índios andem nus a não ser a concepção que eles mesmos teriam de nudez e vestimenta.
Assim, como o “outro” é alguém calado, a quem não é permitido dizer de si mesmo, mera imagem sem voz, manipulado de acordo com desejos ideológicos, o índio é, para o livro didático, apenas uma forma vazia que empresta sentido ao mundo dos brancos. Em outras palavras, o índio é “alugado” na História do Brasil para aparecer por três vezes em três papéis diferentes.
O primeiro papel que o índio representa é no capítulo do descobrimento. Ali, ele aparece como “selvagem”, “primitivo”, “pré-histórico”, “antropófago”, etc. Isto era para mostrar o quanto os portugueses colonizadores eram “superiores” e “civilizados”. O segundo papel do índio é no capítulo da catequese. Nele o papel do índio é o de “criança”, “inocente”, “infantil”, “almas-virgens”, etc., para fazer parecer que os índios é que precisavam da “proteção” que a religião lhes queria impingir.
O terceiro papel é muito engraçado. E no capítulo “Etnia brasileira”. Se o índio já havia aparecido como “selvagem” ou “criança”, como iriam falar de um povo – o nosso – formado por portugueses, negros e “crianças” ou um povo formado por portugueses, negros e “selvagens”? Então aparece um novo papel e o índio, num passe da mágica etnocêntrica, vira “corajoso”, “altivo”, cheio de “amor à liberdade”.
Assim são as sutilezas, violências, persistências do que chamamos etnocentrismo.
Os exemplos se multiplicam nos nossos cotidianos. A “indústria cultural” – TV, jornais, revistas, publicidade, certo tipo de cinema, rádio – está freqüentemente fornecendo exemplos de etnocentrismo. No universo da indústria cultural é criado sistematicamente um enorme conjunto de “outros” que servem para reafirmar, por oposição, uma série de valores de um grupo dominante que se auto-promove a modelo de humanidade.
Nossas próprias atitudes frente a outros grupos sociais com os quais convivemos nas grandes cidades são, muitas vezes, repletas de resquícios de atitudes etnocêntricas. Rotulamos e aplicamos estereótipos através dos quais nos guiamos para o confronto cotidiano com a diferença. As idéias etnocêntricas que temos sobre as “mulheres”, os “negros”, os “empregados”, os “paraíbas de obra”, os “colunáveis”, os “doidões”, os “surfistas”, as “dondocas”, os “velhos”, os “caretas”, os “vagabundos”, os gays e todos os demais “outros” com os quais temos familiaridade, são uma espécie de “conhecimento” um “saber”, baseado em formulações ideológicas, que no fundo transforma a diferença pura e simples num juízo de valor perigosamente etnocêntrico.
Mas, existem idéias que se contrapõem ao etnocentrismo. Uma das mais importantes é a de relativização. Quando vemos que as verdades da vida são menos uma questão de essência das coisas e mais uma questão de posição: estamos relativizando.
Quando o significado de um ato é visto não na sua dimensão absoluta mas no contexto em que acontece: estamos relativizando. Quando compreendemos o “outro” nos seus próprios valores e não nos nossos: estamos relativizando. Enfim, relativizar é ver as coisas do mundo como uma relação capaz de ter tido um nascimento, capaz de ter um fim ou uma transformação. Ver as coisas do mundo como a relação entre elas. Ver que a verdade está mais no olhar que naquilo que é olhado. Relativizar é não transformar a diferença em hierarquia, em superiores e inferiores ou em bem e mal, mas vê-la na sua
dimensão de riqueza por ser diferença.
A nossa sociedade já vem, há alguns séculos, construindo um conhecimento ou, se quisermos, uma ciência sobre a diferença entre os seres humanos. Esta ciência chama-se Antropologia Social. Ela, como de resto quase todas as atitudes que temos frente ao “outro”, nasceu marcada pelo etnocentrismo. Ela também possui o compromisso da procura de superá-lo. Diferentemente do saber de “senso comum”, o movimento da Antropologia é no sentido de ver a diferença como forma pela qual os seres humanos deram soluções diversas a limites existenciais comuns. Assim, a diferença não se equaciona com a ameaça, mas com a alternativa. Ela não é uma hostilidade do “outro”, mas uma possibilidade que o “outro” pode abrir para o “eu”.
Assim, gostaria, agora, de acompanhar alguns movimentos pelos quais passou a Antropologia neste jogo de refletir sobre a diferença. Entender alguns movimentos deste jogo é acompanhar a superação do etnocentrismo na arena do intelecto e da razão e na arena da emoção e do sentimento. Acredito até que, num certo nível, esta superação que ocorre na ciência que é a ponta de lança do conhecimento do “outro” possa, no plano da sociedade mais geral, ser traduzida num humanismo de olhar mais conseqüente.
A diferença das escolhas humanas se fixa, no conhecimento antropológico, no mínimo, como alternativa e testemunho de muitos “outros”, aqui e pelo mundo afora, cujas formas de existência serão sempre a presença do humano em sua singularidade.
O percurso que, na Antropologia, busca a superação do etnocentrismo implicou diferentes movimentos e pode, com maior ou menor grau de dificuldade, ser observado a partir de vários ângulos. Optei por traçar o caminho em torno de algumas visões do conceito de “cultura” dentro da Antropologia. Alguém já disse que o antropólogo é aquele que pensa sobre as questões da cultura humana. De fato, seguindo a pista dada pelos diferentes conceitos de cultura de que a Antropologia dispõe perceberemos como esta foi vista de maneiras mais etnocêntricas que cederam espaço a outras visões mais relativizadoras.   Antes, porém, de ver isto tudo – os conceitos de cultura nas teorias formais da Antropologia –, convém fazer rápida passagem pelo panorama de uma época que acho ter sido fundamental para a constituição de um “sentimento” da Antropologia. Trata-se dos séculos XV, XVI e XVII com suas navegações, expedições, espantos, colonizações, alucinações, sacações e aberturas. E um momento básico de encontro com o “outro”. O “velho” mundo buscando coisas cujas dimensões talvez nem soubesse. O “novo” mundo um tanto indefeso frente ao furacão que começava a envolvê-lo. Povos assustados com o olhar o “outro” frente a frente. Momento marcante a exigir que se começasse a pensar a diferença, porque esta já se impunha na força de sua radicalidade.


ROCHA, Everardo P. Guimarães. O Que é Etnocentrismo – Ed. Brasiliense, 1988. PP 5-10.

sábado, 25 de maio de 2013

DIP - Domingo da Igreja Perseguida

 
Dia 26 de Maio, como comumente se realiza ao longo de vários anos, a igreja livre estará fazendo menção aos cristãos que vivem em contexto de hostilidade extrema ao evangelho. A Missão Portas Abertas, agência que trabalha com nossos irmãos perseguidos, intitulou este dia como o "Domingo da Igreja Perseguida - DIP".
 
O DIP é uma oportunidade ímpar de divulgarmos o sofrimento profundo em que vivem os nossos irmãos. Por isso, no próximo dia 26, esteja orando e levando sua igreja a orar e se movimentar em prol desta causa tão nobre. Em Cristo,
 
Equipe Supracultural

sábado, 11 de maio de 2013

2ª CONFERÊNCIA MISSIONÁRIA

Todos estão convidados!

 
Abs,
Supracultural
 


quarta-feira, 24 de abril de 2013

SUA VOZ ECOA NAS SELVAS


Estes dias o Senhor me concedeu a oportunidade de ler um dos melhores livros que já li em toda a minha vida. Trata-se da autobiografia de Sophie Muller, que figura em nossas livrarias sob o título: Sua Voz Ecoa nas Selvas.
A história de Sofia, como ficou conhecida esta norte-americana radicada na Colômbia, possui o poder de cativar tanto as mentes quanto os corações daqueles que graciosamente são conduzidos às linhas redigidas por esta guerreira do Senhor ao longo de suas idas e vindas pelos rios que cortam a Amazônia internacional, situada nos limites que dividem Colômbia, Venezuela e Brasil.
Esta querida serva de Deus ouviu falar de seu Senhor ainda muito jovem ao passear por um dos acessos ao metrô de Nova Iorque. Não sabia ela que de cima de um caixote surrado, ouviria a mensagem que transformaria para sempre a sua vida. Depois deste episódio, Sophie não mais abandonaria o desejo de servir a Jesus.
Tempos depois, já devidamente treinada e de posse das informações necessárias sobre o campo ao qual o Senhor havia ministrado ao seu coração. A senhorita Muller chega ao que seria o seu lar pelo resto de sua vida. As selvas amazônicas, no caso, a região regada pelos rios Negro e Içana – o qual faz parte tanto do território brasileiro como colombiano.
A princípio, o objetivo de Sofia era evangelizar os karom, como são conhecidos os índios Baniwas em solo colombiano. Contudo, numa de suas viagens, “sem que soubesse” Sofia atravessa a fronteira entre os dois países e passa, também, a evangelizar as terras de Santa Cruz. Surgia, deste aparente acaso, uma das mais bem sucedidas empreitadas missionárias entre os índios brasileiros.
Ao longo de mais de quarenta anos Sofia Muller evangelizou diversas tribos, tais como baniwas, puinaves, kuripacos, kobeos, piapocos, guaíbos e guaiaberos. Isso sem contar suas investidas entre índios completamente destituídos, a época, da presença do “homem branco”, caso dos cuivas selvagens e dos macus.
É enorme a divida que temos enquanto missionários e servos do Senhor para com a vida e a obra de Sofia Muller. Seu exemplo de abnegação e amor pelo Senhor Crucificado são contagiantes. É de tirar o fôlego à narrativa dos perigos e das aventuras vivenciadas por esta insigne missionária em terras completamente selvagens, num ambiente tão hostil que os mais zelosos desbravadores pensariam duas vezes antes de se aventurarem por eles. A contribuição das pesquisas feitas por Sofia entre as diversas etnias por ela evangelizadas, suas traduções e todas as gravuras por ela catalogadas foram providencias para a continuidade do trabalho desenvolvida pelas demais agencias missionárias que continuaram o legado deixado por ela.
Neste breve relato, gostaria de externar a maneira como o contato com a história de Sofia Muller tem influenciado missionários espalhados por todo o globo. Encorajando-os a perseverar naquilo que Deus tem colocado em suas mãos, não importando os reveses pelos quais os mesmos tenham que passar. Some-se a isso, a profunda admiração tão facilmente percebível nas feições dos anciãos das tribos alcançadas por Sofia, quando os mesmos se referem a ela como a mulher enviada por Deus para lhes salvar de seus fetiches e pagelanças, as quais, lhes afastavam do Deus Todo-Poderoso criador de todas as coisas.
Ademais, por conta do fulgor do brilho manifesto na vida desta destemida missionária tão profundamente apaixonada por seu Senhor, certa vez, na iminência de se sondar como ela podia ser tão cativa a vontade soberana daquele que “é tudo em todos”, lhe perguntaram:
            - Sofia, como se deu o seu chamado?
            - Chamado? Ora, eu nunca tive um!
- Eu simplesmente li uma ordem e obedeci.
Que a voz de Sofia Muller possa ecoar nas selvas até o momento de ser substituída pelo clamor da “última trombeta”.
Vicit agnus noster e um sequamur