sexta-feira, 13 de maio de 2011

MINHAS IMPRESSÕES SOBRE JOSEPH CAMPBELL, E O PODER DO MITO

Sendo uma das maiores autoridades do mundo em mitologia, Joseph Campbell nos legou um exemplo insofismável de que mente e coração podem, perfeitamente, andarem juntos. Novaiorquino de nascimento (1904), Campbell cresceu numa cidade interiorana e teve acesso a todas as benesses oriundas do poder aquisitivo da então emergente classe média. Desde tenra idade, o frágil Campbell sempre se mostrou suscetível a história e ao conhecimento popular de sua época, se interessando por contos folclóricos e, sobretudo, pela história dos índios que antecederam os primeiros ingleses a aportar no "Novo Mundo".

A partir de então, o mito e todas as suas implicações se amalgamaram de maneira tão pungente a vida do jovem Campbell que, não mais o deixaram até o dia de sua morte (1987). Para ele, mitologia não era um tatalar de histórias fictícias e incongruentes, não era a apelação objetiva de uma "ciência" emergente e, até então, aparentemente sem objeto, mas, o descobrir de uma "épica aventura".

Para Campbell, mitos deveriam ser estudados por pessoas apaixonadas e altruítas, pessoas que tivessem sensibilidade para sentir a brisa que emanava do Egeu durante as viagens de Odisseu, que sentíssem o respirar ofegante de Hércules em meio a seus exóticos "trabalhos", que perdessem o fôlego na fúria de Posseidon, que sentíssem o cheiro das matas intocadas dos muitos mitos nativos dos índios espalhados pelas américas, que preferissem sede excruciante a se dobrar ao Ente, que se deleitassem nas doces águas de Emnemosine, e que jamais perdessem o gosto por uma nova aventura [...]. Esse, em minha humilde opinião, seria, na perspectiva de Joseph Campbell, o perfil de alguém que gostasse de mitologia.

Destarte, em seu opúsculo "O Herói de Mil Faces", Campbell nos conduz aos sonhos que jazem nas mentes daqueles que se recusam a perder de vista a natureza lúdica da vida. Daqueles que insistem em não se render perante o secularismo ceticista que impimge nas mentes de nossos jovens a equivocada idéia de que mito e falácia são sinônimos. Nas páginas deste ditoso livro ovacionado pelo campo da fenomenologia, é possivle se ouvir um grito latente que se manifesta nos dizeres: "Fora com um pensamento assim tão pobre de espírito; tão vazio de vida". Não obstante serem os mitos, culturalmente falando, os balizadores do desenvolvimento social de todas as culturas hodiernas.

Ademais, falar de mito para Campbell era falar de vocação, dizia ele:

 "Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida - Você não precisa de mitologia. Acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito sem ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas, você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?"

 Resposta, melhorará a sua vida! Lhe dará novos óculos para ver o mundo! Este é o poder do mito.


Não obstante, amiúde a idéia de "história fictícia" a que estamos acostumados e, corroborando a posição de Campbell, Mircea Eliade (1907-1986), acredita que o mito precisa ser estudado como uma "verdade". Não a sua verdade necessariamente, ou mesmo a verdade de sua cultura, mas, sobretudo, uma verdade que você precisa alcançar, compreender e respeitar. Opino que este posicionamento de Eliade, em pleno despertar do pensamento contextualizado do século XX, revolucionou a academia.

Ato contínuo, analisando conjuntamente as perspectivas destes diletos autores, percebo um "divisor de águas" no campo da contextualização bíblica. É indubitável a mudança de foco que estes argumentos produzem em nosso entendimento de comunicação cultural. Neste íterim, o missionário (comunicador) deixa de ser um espécie de destruidor cultural das sociedades que deseja alcançar, e passa a ser um estudioso de verdades que, se bem aplicadas, produziram uma ponte sólida para que o evangelho possa transformar sem, necessariamente, mutilar. Nas palavras de Campbell, "mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana". 

A bem da verdade, é cedo para percebermos porosamente as mudanças que tenho objetado. Entretanto, o momento é alvissareiro. 

Finalmente, num mundo em que os novos heróis estão morrendo de inanição, que fique claro a todos as culturas a laboriosa contribuição de Joseph Campbell ao estudo do homem e suas implicações culturais e metafísicas. São pessoas da estirpe de Campbell, que nos asseguram que a beleza dos contos jamais se perderão, enquanto jovens idealistas houver. Eu creio em heróis! 


Enciclopédia Livre
O Poder do Mito, Joseph Campbell
O Herói de Mil Faces, Joseph Campbell

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