LARAIA, Roque Barros Cultura: um conceito antropológico – 23ª Ed – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
I PARTE
1 – Determinismo Biológico
Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do diformismo sexual, mas é falso que as diferenças de comportamento existente entre pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente.
O comportamento dos indivíduos depende de um “aprendizado”, de um processo que chamamos de “endoculturação”. Um menino e uma menina agem diferentes não em razão de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada.
2 – Determinismo Geográfico
O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Os principais autores são: Pollio, Ibn Kaldhun, Bodin. Para eles a relação entre o clima, a fauna e a flora é que vão determinar a produção cultural.
Em 1920, antropólogos como Boas, Wisler, Kroeber, refutaram este pensamento determinista e asseveraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre fatores culturais. E mais, que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo ambiente físico.
3 – Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura
A primeira definição de cultura foi formulada por Edward Tylor (1832-1917). “Tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”
Após Tylor, tivemos John Locke que criticou duramente a tese que o homem possui uma herança cultural inata, asseverando que a mesma só fluiria da experiência. A seguir vieram James Turgot (1727-1781) e Jean-Jackes Rosseau (1712-1778) ambos atribuindo a fomentação de cultura a educação.
Assim, o que de fato diferenciou o homem, dos demais animais, foi a possibilidade de comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos capazes de tornar mais eficiente seu aparato biológico.
4 – O Desenvolvimento do Conceito de Cultura
Cultura era concebida de maneira uniforme, ou seja, as causas naturais e definidas determinavam o comportamento humano, de modo que a natureza humana podia ser estudada com grande precisão na comparação das raças do mesmo grau de civilização. Esta compreensão fora fortemente influenciada pelas ideias de Charles Darwin.
Este pensamento fora duramente criticado por Stocking, por “deixar de lado toda questão do relativismo cultural e tornar impossível o moderno conceito de cultura”. O relativismo cultural não cabia na definição hora formulada, porque, asseverava a evolução multilinear. Ou seja, a diversidade cultural.
A principal critica a ao evolucionismo unilinear (método comparativo), inicia-se com Franz Boas (1858-1949). Boas atribui a antropologia a execução de 2 tarefas:
A - A reconstrução da história dos povos ou regiões particulares,
B – A comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.
Boas desenvolveu o particularismo histórico (ou Escola Cultural Americana), segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes percursos históricos que enfrentou.
Outro antropólogo da Escola Americana (Método Histórico) foi Alfred Kroeber (1876-1960), para ele graças a cultura a humanidade se distanciou do mundo animal. Mais do que isto, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas. Para ele, a grande variedade na operação de um numero tão pequeno de funções (alimentação, sono, respiração, sexo) é que faz com que o homem seja considerado ser predominantemente cultural. Os seus comportamentos não são biologicamente determinados. Pelo fato de o homem ter evoluído, sem, no entanto, sofrer mutações biológicas, diz-se que o homem de certa forma libertou-se da natureza.
“O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é o herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam”
A comunicação é um processo cultural. Explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral.
5 – Idéia Sobre a Origem da Cultura
Claude Lévy-Strauss, o mais destacado antropólogo francês, considera que acultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma. Esta seria a proibição do incesto.
6 – Teorias Modernas Sobre Cultura
De acordo com Roger Keefing, a cultura pode ser como um “sistema adaptativo”. Seria uma visão neo-evolucionista. Método pouco utilizado.
O método Keesing, também considera as teorias idealistas de cultura, as quais são:
A – Cultura como Sistema Cognitivo – Consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade.
B – Cultura como Sistema Estrutural – Perspectiva desenvolvida por Strauss, procura descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas evoluções culturais.
C – Cultura como Sistema Simbólico – Posição desenvolvida nos EUA, estudar a cultura é estudar um código de símbolos, partilhados pelos membros dessa cultura.
II Parte
COMO OPERA A CULTURA
1 – A Cultura Condiciona a Visão de Mundo do Homem
O modo de ver o mundo, as apreciações, de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado de uma determinada cultura
Indivíduos de culturas diferentes podem facilmente ser identificados por uma serie de características, tais como modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar as evidencias linguísticas, o fato da mais imediata observação empírica.
Etnocentrismo, consiste no fato do homem vê o mundo através de sua cultura, acreditando ser ela a mais correta e a mais natural.
2 – A Cultura Interfere no Plano Biológico
Transformações e ritos culturais podem interferir significativamente sob um indivíduo. O banzo, por exemplo, é um poderoso exemplo de uma transformação cultural que interfere no plano biológico.
3 – Os Indivíduos Participam Diferentemente de sua Cultura
Qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os aspectos de sua cultura. “Nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito, em nenhuma sociedade são todos os indivíduos igualmente bem socializado”. Um indivíduo não pode ser igualmente familiarizado com todos os aspectos de sua sociedade, pelo contrário, ele poder ser completamente ignorante a respeito de alguns aspectos.
O importante é que deve existir um mínimo de participação do indivíduo na pauta do conhecimento da cultura a fim de permitir a sua articulação com os demais membros da sociedade.
4 – A Cultura tem uma Lógica Própria
Para se compreender esta verdade, a que se perceber as situações que norteiam a vida dos indivíduos pela ótica dos mesmos. Cada cultura divergirá entre si porque a natureza não possui meios de determinar ao homem um só tipo taxionômico.
5 – A Cultura é Dinâmica
Qualquer sistema cultural está em contínuo processo de mudança, as culturas jamais são estáticas.
As mudanças culturais podem ocorrer de 2 maneiras:
1 – Internamente, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural.
2 – De um resultado do contato de um sistema cultural com outro.
Cada sistema cultural está sempre em mudança.
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