terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

ROBINSON CAVALVANTI, UM TRIBUTO

"Não sabeis que, hoje, caiu em Israel um príncipe e um grande homem?" II Sm 3.38b


Foi com imenso pesar que ontem à noite, ao longo de uma de nossas aulas no seminário recebi uma triste notícia. Eu havia acabado de citar um velho e muito querido mentor, um companheiro de tempos outros, talvez um dos maiores pensadores que a igreja brasileira já possuiu em todos os tempos. Como sempre, a citação foi muito bem acolhida, e, instantaneamente, despertou nos alunos o desejo de saber quem havia burilado tão pertinente colocação. Foi aí, exatamente neste ponto, que aquela trágica informação atravessou meu coração como um relâmpago que subitamente singra o céu tempestuoso de inverno.

- Professor, disse alguém na sala.

- Este homem não morreu? Indagou.

-Não, lógico que não. Citei seu nome completo, e como de costume teci uma série de comentários elogiosos sobre este que tanto admirava. Entretanto, a resposta que obtive, me deixou ainda mais chocado.

- Sim professor, agora tenho certeza, não param de postar no facebook a respeito da morte deste pastor.

Meus irmãos, confesso que tive que me esforçar o máximo para não derramar todas as lágrimas possíveis naquele momento. Contudo, esforçando-me para calar o grito de dor que aquele momento era quase que incontrolável, perguntei:

- Como aconteceu?

Se eu ao menos vislumbrasse o que iria ouvir, talvez tivesse sido melhor não ter perguntado.

- Professor, respeitosamente disse alguém. - Ele fora esfaqueado pelo próprio filho!

Foi assim, tão furtivamente, que um velho guerreiro do Senhor tombou em batalha. O filho, até então o único suspeito de ter praticado o delito, era na verdade adotado e passara cerca de dezesseis anos nos EUA, estudando. Estas duas verdades, a respeito do garoto, já demonstram um pouco do caráter do velho que pela primeira vez me falou sobre um tal desconhecido, Rev. Dr. Martin Luther King Jr, isso, há muitos anos. Mas, quais verdades, primeiro, o garoto era adotado - o Bispo Robinson sempre acreditou no altruísmo, no amor, e no imenso poder que emana da segunda chance. Segundo, o rapaz estava nos EUA, estudando, - Robinson, sempre acreditou e defendeu a necessidade de uma boa educação. Digo que o emérito Bispo, havia tombado em batalha, porque fora na batalha de ajudar um ser humano - chamado carinhosamente de filho - que o mesmo veio a desfalecer mortalmente ferido. Assim morrem os valentes!

O Bispo Robinson e sua amada esposa Miriam Cotias Cavalcante - a qual também fora assassinada no mesmo instante - descansam em tenra paz nos braços do Rei dos Reis, triunfaram.

Não obstante, as marcas deixadas pela vida do Bispo Robinson em minha vida permaneceram por um pouco mais de tempo - enquanto houver ar em meus pulmões!

Como esquecer aquele belo dia - eu ainda não havia sido alcançado pela graça - em que um de meus melhores amigos me emprestou "A Utopia Possível", talvez o livro que melhor influenciou a minha vida e ministério. Depois dele, minha percepção de cristianismo mudou completamente. Fora com o Bispo, que aprendi que uma mente brilhante, pertinente e significativa não é em nada incompatível com o Reino de Deus, mas, pelo contrário, se tais características são regadas a um engajamento prático, isso é maravilhoso aos olhos do Senhor.

Depois da Utopia, já no seminário, descobri alguns outros livros maravilhosos do profeta anglicano - apaixonado pela história da igreja - que também me imbuíram da responsabilidade de amalgamar minha vida ao meu discurso, obrigando-me a viver uma "ortodoxia que manifestasse o frescor da atualidade".

Fora através da influência teórica de Robinson Cavalcante que eu mi vi apaixonado pela manifestação da glória de Deus até os confins da Terra, isso, como era de seu feitio, de uma maneira estritamente integral - "o evangelho todo para o homem todo." Fora este o seu legado nas mais relevantes revistas cristãs, nos mais importantes encontros globais para evangelização mundial, e em toda a influência que exerceu ao longo de toda a sua vida e ministério.

Robinson era um estadista do Reino, um destes que o mundo não era digno. Inteligente, destemido, militante, confiante, relevante, impactante. Sendo estas apenas algumas das características que encontrávamos, sem muito esforço, no caráter deste servo do Senhor.

Seja este o meu humilde tributo, velho amigo.

Existia muito mais que gostaria de deixar escrito aqui. Mas, prefiro homenageá-lo, agora, com aquilo que de você, ficou em mim!

"A esperança e a chama da fé, jamais se apagarão, enquanto jovens idealistas houver. E, de vasos de barro, o Senhor nos suscitar santos exemplos. Eu também tenho um sonho!"

Você me ajudou a ser um vazo de barro, um sonhador. Obrigado!

Até logo velho... espero ver-te em breve. Você era demais!

Pr. Jamerson Lopes do Nascimento

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

CULTURA: um conceito antropológico

LARAIA, Roque Barros Cultura: um conceito antropológico – 23ª Ed – Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.

I PARTE

1 – Determinismo Biológico

       Os antropólogos estão totalmente convencidos de que as diferenças genéticas não são determinantes das diferenças culturais. A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do diformismo sexual, mas é falso que as diferenças de comportamento existente entre pessoas de sexos diferentes sejam determinadas biologicamente.

      O comportamento dos indivíduos depende de um “aprendizado”, de um processo que chamamos de “endoculturação”. Um menino e uma menina agem diferentes não em razão de seus hormônios, mas em decorrência de uma educação diferenciada.

2 – Determinismo Geográfico

       O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Os principais autores são: Pollio, Ibn Kaldhun, Bodin. Para eles a relação entre o clima, a fauna e a flora é que vão determinar a produção cultural.

    Em 1920, antropólogos como Boas, Wisler, Kroeber, refutaram este pensamento determinista e asseveraram que existe uma limitação na influência geográfica sobre fatores culturais. E mais, que é possível e comum existir uma grande diversidade cultural localizada em um mesmo ambiente físico.

3 – Antecedentes Históricos do Conceito de Cultura

          A primeira definição de cultura foi formulada por Edward Tylor (1832-1917). “Tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”

           Após Tylor, tivemos John Locke que criticou duramente a tese que o homem possui uma herança cultural inata, asseverando que a mesma só fluiria da experiência. A seguir vieram James Turgot (1727-1781) e Jean-Jackes Rosseau (1712-1778) ambos atribuindo a fomentação de cultura a educação.

      Assim, o que de fato diferenciou o homem, dos demais animais, foi a possibilidade de comunicação oral e a capacidade de fabricação de instrumentos capazes de tornar mais eficiente seu aparato biológico.

4 – O Desenvolvimento do Conceito de Cultura

    Cultura era concebida de maneira uniforme, ou seja, as causas naturais e definidas determinavam o comportamento humano, de modo que a natureza humana podia ser estudada com grande precisão na comparação das raças do mesmo grau de civilização. Esta compreensão fora fortemente influenciada pelas ideias de Charles Darwin.

         Este pensamento fora duramente criticado por Stocking, por “deixar de lado toda questão do relativismo cultural e tornar impossível o moderno conceito de cultura”. O relativismo cultural não cabia na definição hora formulada, porque, asseverava a evolução multilinear. Ou seja, a diversidade cultural.

     A principal critica a ao evolucionismo unilinear (método comparativo), inicia-se com Franz Boas (1858-1949). Boas atribui a antropologia a execução de 2 tarefas:

       A -  A reconstrução da história dos povos ou regiões particulares,

    B – A comparação da vida social de diferentes povos, cujo desenvolvimento segue as mesmas leis.

       Boas desenvolveu o particularismo histórico (ou Escola Cultural Americana), segundo a qual cada cultura segue os seus próprios caminhos em função dos diferentes percursos históricos que enfrentou.

       Outro antropólogo da Escola Americana (Método Histórico) foi Alfred Kroeber (1876-1960), para ele graças a cultura a humanidade se distanciou do mundo animal. Mais do que isto, o homem passou a ser considerado um ser que está acima de suas limitações orgânicas. Para ele, a grande variedade na operação de um numero tão pequeno de funções (alimentação, sono, respiração, sexo) é que faz com que o homem seja considerado ser predominantemente cultural. Os seus comportamentos não são biologicamente determinados. Pelo fato de o homem ter evoluído, sem, no entanto, sofrer mutações biológicas, diz-se que o homem de certa forma libertou-se da natureza.

      “O homem é o resultado do meio cultural em que foi socializado. Ele é o herdeiro de um longo processo acumulativo, que reflete o conhecimento e a experiência adquiridas pelas numerosas gerações que o antecederam”

        A comunicação é um processo cultural. Explicitamente, a linguagem humana é um produto da cultura, mas não existiria cultura se o homem não tivesse a possibilidade de desenvolver um sistema articulado de comunicação oral.

5 – Idéia Sobre a Origem da Cultura

       Claude Lévy-Strauss, o mais destacado antropólogo francês, considera que acultura surgiu no momento em que o homem convencionou a primeira regra, a primeira norma. Esta seria a proibição do incesto.

6 – Teorias Modernas Sobre Cultura

       De acordo com Roger Keefing, a cultura pode ser como um “sistema adaptativo”. Seria uma visão neo-evolucionista. Método pouco utilizado.

        O método Keesing, também considera as teorias idealistas de cultura, as quais são:

    A – Cultura como Sistema Cognitivo – Consiste em tudo aquilo que alguém tem de conhecer ou acreditar para operar de maneira aceitável dentro de sua sociedade.

   B – Cultura como Sistema Estrutural – Perspectiva desenvolvida por Strauss, procura descobrir na estruturação dos domínios culturais – mito, arte, parentesco e linguagem – os princípios da mente que geram essas evoluções culturais.

      C – Cultura como Sistema Simbólico – Posição desenvolvida nos EUA, estudar a cultura é estudar um código de símbolos, partilhados pelos membros dessa cultura.

II Parte

COMO OPERA A CULTURA

1 – A Cultura Condiciona a Visão de Mundo do Homem

     O modo de ver o mundo, as apreciações, de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o resultado de uma determinada cultura

     Indivíduos de culturas diferentes podem facilmente ser identificados por uma serie de características, tais como modo de agir, vestir, caminhar, comer, sem mencionar as evidencias linguísticas, o fato da mais imediata observação empírica.

       Etnocentrismo, consiste no fato do homem vê o mundo através de sua cultura, acreditando ser ela a mais correta e a mais natural.

2 – A Cultura Interfere no Plano Biológico

     Transformações e ritos culturais podem interferir significativamente sob um indivíduo. O banzo, por exemplo, é um poderoso exemplo de uma transformação cultural que interfere no plano biológico.

3 – Os Indivíduos Participam Diferentemente de sua Cultura

         Qualquer que seja a sociedade, não existe a possibilidade de um indivíduo dominar todos os aspectos de sua cultura. “Nenhum sistema de socialização é idealmente perfeito, em nenhuma sociedade são todos os indivíduos igualmente bem socializado”. Um indivíduo não pode ser igualmente familiarizado com todos os aspectos de sua sociedade, pelo contrário, ele poder ser completamente ignorante a respeito de alguns aspectos.

     O importante é que deve existir um mínimo de participação do indivíduo na pauta do conhecimento da cultura a fim de permitir a sua articulação com os demais membros da sociedade.

4 – A Cultura tem uma Lógica Própria

          Para se compreender esta verdade, a que se perceber as situações que norteiam a vida dos indivíduos pela ótica dos mesmos. Cada cultura divergirá entre si porque a natureza não possui meios de determinar ao homem um só tipo taxionômico.    

5 – A Cultura é Dinâmica

          Qualquer sistema cultural está em contínuo processo de mudança, as culturas jamais são estáticas.

           As mudanças culturais podem ocorrer de 2 maneiras:

            1 – Internamente, resultante da dinâmica do próprio sistema cultural.

            2 – De um resultado do contato de um sistema cultural com outro.

            Cada sistema cultural está sempre em mudança.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

VISÃO NACIONAL PARA A CONSCIÊNCIA CRISTÃ

A catorze anos participo do Encontro Para a Consciência Cristã. Não tenho palavras para expressar o quanto as palestras e pregações ouvidas contribuíram para a formação do Pastor que hoje sou. Através deste encontro maravilhoso que é completamente gratuito, tive a dileta oportunidade de ouvir os mais conceituados pregadores do Brasil e do Mundo, o que não seria possível não fosse a magnitude deste evento - sendo tudo para a Glória de Deus.

A dez anos sou mantenedor deste trabalho, e, concomitantemente, tenho me empenhado para apoiar o mesmo e divulgá-lo da melhor maneira possível, pois, penso ser esta uma visão que deveria ser espalhada por todo o Brasil. Algo verdadeiramente abençoador e engrandecedor.

Não obstante, tendo em vista a grandiosidade do evento e a origem diversa - quando ao local de origem - dos pregadores e palestrantes, sem contar a mega-estrutura que é montada e desmontada todos os anos naquilo que é o maior espaço aberto para eventos de nossa querida cidade. O custo para realização do evento é também grandioso. Segundo informações do Pr. Euder Faber, presidente da VINACC, o custo total do evento para este ano ficará em torno de R$ 700.000,00. Valor que para a organização do evento, é uma enormidade, tendo em vista a mesma ser uma instituição sem fins lucrativos que é mantida quase que exclusivamente com ofertas de mantenedores.

Entretanto, não olhando para condição do problema e sim para grandiosidade inefável de nosso Deus. A VINACC, lançou uma carta aberta a igreja brasileira. Para que juntos possamos suprir todas as necessidades do evento e consequentemente dar vasão ao 15º Encontro para Consciência Cristã. A carta segue na íntegra.


CARTA ABERTA À IGREJA BRASILEIRA

Campina Grande, 7 de fevereiro de 2012.

Há mais de uma década, a VINACC tem promovido o Encontro para a Consciência Cristã, com o propósito de exaltar a pessoa de Jesus Cristo, defender a fé cristãedificar a Igreja proclamar o Evangelho. Esses pilares fundamentais têm norteado nossas ações com vistas a cumprir o desafio de “... batalhar pela fé, que uma vez por todas foi entregue aos santos.” (Jd 3).
Somos uma instituição sem fins lucrativos ou político-partidários, que defende o cristianismo bíblico, herdeiro da reforma e dos avivamentos pelos quais passou a Igreja de Jesus ao longo dos séculos. Quanto à fé e prática, somos cristocêntricos. Teologicamente, defendemos um Evangelho puro e simples, conservador dos ideais de Deus para o seu povo, compreendido nos estritos limites das Escrituras Sagradas que, para nós, é infalível, inerrante e eterna. 
O nosso compromisso é com a verdade do Evangelho, mesmo que isso nos traga dor, sofrimento ou dificuldades. E é justamente isso que gostaríamos de compartilhar com você que entende que é Igreja do Senhor e corresponsável, por manter viva a chama do genuíno Evangelho. 
Fato é que ante a crise ética e moral que se abate sobre a sociedade contemporânea e respinga sobre a Igreja, nossa postura de compromisso com o Evangelho, nos causa dificuldade, retaliação e até perseguição.  Não nos permitimos receber ajuda de igrejas ou organizações que adotam a teologia da prosperidade, com vistas a não corrompermos nossos princípios básicos; também, não negociamos nossos valores fundamentais, recebendo recursos oriundos de pessoas ou organizações que têm interesses eleitoreiros ou alguma intenção escusa. Embora possamos contar com alguma contribuição do poder público, para a realização dos Encontros para a Consciência Cristã, estas, quando ocorrem, se dão com todas as formalidades legais e cobrem apenas parte dos custos. Some-se a isso tudo o fato de pessoas e organizações comprometidas com o presente século, não só não nos apoiarem como também trabalharem para inviabilizar o Encontro.  É diante desse quadro que vemos nossas fontes de financiamento cada vez escassas e limitadas ao “remanescente fiel” da Igreja de Cristo.  No entanto, somos gratos a Deus e cremos que para ele não há impossível e que ele continua agindo em e através de sua Igreja.
A VINACC e o Encontro para a Consciência Cristã são mantidos, basicamente, por meio de doações de pessoas e organizações que reconhecem a importância da verdade do genuíno Evangelho e estão comprometidas com sua proclamação “até os confins da terra”. É por isso que gostaríamos de contar com sua colaboração:
Diante destes fatos, queremos convidar você a se unir conosco, de três formas:
1ª) Intercedendo pela VINACC e pelo 14º Encontro para a Consciência Cristã a fim de  que Deus aja poderosamente, abençoando os preletores e participantes lhes proporcionando momentos de crescimento espiritual;
2ª) Participando do evento.  Em 2012, o Encontro acontece de 15 a 21 de fevereiro (durante o período do Carnaval) em Campina Grande – PB, reunindo cristãos das mais variadas denominações, e contando com a participação de preletores de renome internacional que têm sido poderosos instrumentos de Deus para transformação de vidas, em palestras, debates e preleções;
3ª) Abençoando financeiramente este evento, (os custos desta edição giram em torno de R$ 700.000,00 (setecentos mil reais), seja se tornando um mantenedor da VINACC ou fazendo uma doação para o Encontro,  tornando possível essa  missão de levar uma visão cristocêntrica a uma sociedade impregnada de relativismo e incredulidade. 
A nossa oração é para que o Senhor Jesus, através do Seu Santo Espírito, possa tocar em seu coração e lhe falar muito mais do que podemos expressar nesta simples carta.
Que o Senhor nos abençoe e nos ajude.

Pr. Euder Faber
Presidente da VINACC

“Porque somos cooperadores de Deus.” (1 Cor 3.9)

Maiores informações sobre o evento, como contribuir e realidade financeira do encontro : www.conscienciacrista.org.br

VINACC - 2º CONSCIÊNCIA CRISTÃ TEEN

Segundo Alister McGrath, uma das grandes dificuldades encontradas pela igreja hodierna é a falta de profundidade intelectual de seus membros. Segundo ele, esta lacuna em muito tem contribuído para a má formação da cosmovisão cristã de nossa geração, e, consequentemente, tem produzido uma geração de jovens fúteis e alienados - não em sua totalidade, mas em sua crassa maioria. 

Ambicionando combater esta triste realidade, a VINACC - Visão Nacional para uma Consciência Cristã. Oferece, a partir de hoje, o 2º Consciência Cristã Teen, o qual é um congresso apologético pensado para suprir as necessidades intelectuais da juventude e desta forma contribuir para a formação de uma cosmovisão cristocêntrica.

Tal congresso, sem sombra de dúvida, haverá de ser uma benção, participem!

Ademais, segue o cartaz de divulgação com todos os detalhes:


Prestigiem, façamos de nossa juventude um farol santo que fulgure ininterruptamente a Glória de Deus.

Equipe Supracultural.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

NICK VUJICIC, E A CONTEXTUALIZAÇÃO QUE VEM DO ALTO

Não é comum este tipo de veiculação no Supracultural. Entretanto, penso que o vídeo que compartilho agora, funciona como um poderoso exemplo de que Deus, em seu eterno propósito, ambiciona comunicar sua mensagem da maneira mais audível possível, mesmo que para isso algo de difícil compreensão tenha que acontecer. Portanto, nada mais justo e honroso, que compartilhar neste espaço tão conspícua história de vida.

Talvez, quando a mensagem parece nos chegar mais complexa, é que ela soa mais relevante, esclarecedora.

Entrementes, o vídeo fala à respeito da história de vida de Nick Vujicic. Nick, nasceu com uma deficiência muito rara, e, por isso, ao longo de toda a sua trajetória, Nick tem lutado para dar sentido aquilo que, a princípio, não possuía nenhum significado aparente, sua própria vida. Destarte, em certo ponto de sua caminhada, um encontro esclarecedor fez toda a diferença. Nick fora encontrado salvificamente por aquele que é expert em transformar vidas, Jesus. 

Desde então, assim como Cristo, Nick tem servido como um tributo ao amor e ao poder acolhedor de um Deus que, para nos provar que se preocupa conosco e que nos ama, nos faz conhecer e admirar a vida de servos que experimentam em seu próprio corpo o plano salvífico de Deus em se revelar a seus amados contextualizadamente. No caso de Nick, especificamente, Deus nos fala através da garra, do denodo, e, acima de tudo, da superação. 

Deus, na pessoa de seu Filho, fez com que Nick se encontrasse para que, a partir dele, encontrasse a muitos. Em seu corpo frágil e diminuto, Nick é ao mesmo tempo uma mensagem relevante e supracultural da parte de Deus.

Nick Vujicic, um homem do qual "o mundo não era digno" (Hb 11.38a). 



"Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim" Gl 2.20

"Uma mensagem vazia de vida é vazia de significado"

P.S. O caráter precede a missão e uma alma vale mais que o mundo inteiro  

sábado, 11 de fevereiro de 2012

RELATIVIZANDO, ROBERTO DA MATTA

Algumas considerações antropológicas dentro da obra do ilustre sociólogo Roberto da Matta. Fichamento de parte do primeiro capítulo de "Relativizando, uma introdução à antropologia social".


DAMATTA, Roberto. Relativizando; uma introdução a antropologia social/ Roberto DaMatta – Rio de Janeiro, 1987.

Primeira parte

A ANTROPOLOGIA NO QUADRO DAS CIÊNCIAS

1 – Ciências naturais e Ciências Sociais.

As ciências naturais estudam fatos simples e são facilmente isoláveis. Tais fenômenos seriam facilmente, por isso mesmo, recorrentes e sincrônicos [...] a matéria prima da ciência natural, portanto, é todo o conjunto de fatos que se repetem e tem uma constância verdadeiramente sistêmica, já que podem ser vistos, isolados e, assim, reproduzidos dentro de condições de controle razoáveis, num laboratório.” P.17.

“As chamadas ciências sociais estudam fenômenos complexos, situados em plano de causalidade e determinação complicados. Nos eventos que constituem a matéria prima do antropólogo, do sociólogo, do historiador, do cientista político, do economista e do psicólogo, não é fácil isolar causas e motivações exclusivas.”    

“A matéria-prima das ciências sociais, assim, são eventos com determinações complicadas e que podem ocorrer em ambientes diferenciados tendo, por causa disso, a possibilidade de mudar seu significado de acordo com o ator, as relações existentes num dado momento e, ainda, com a sua posição numa cadeia de eventos anteriores e posteriores.” P. 19.  
                                                                                                                                                      
“Mesmo que possamos reunir os mesmos personagens, músicas, comidas, vestes e mobiliário do passado, ainda assim podemos dizer que está faltando algo: a atmosfera da época, o clima do momento. [...] O conjunto criado pela ocasião social que de certo modo decola dela e, recaindo sobre ela, provoca o que podemos chamar de “sobredeterminações”, como uma imagem projetada numa tela ou num espelho.”

“Nas ciência naturais os fenômenos podem ser percebidos, divididos, classificados e explicados dentro de condições de laboratório.” P. 20.
                                                                                                                                                        
“Assim, uma das diferenças básicas entre os dois ramos do conhecimento era que os fatos sociais são , geralmente, irreproduzíveis em condições controladas.”

2 – Uma Diferença Crucial.

“Nas ciências sociais trabalhamos como fenômenos que estão bem perto de nós, pois pretendemos estudar eventos humanos, fatos que nos pertencem integralmente.” Nas ciências da natureza isto não é possível, uma vez que, por exemplo, não podemos interagir com animais.

A relação entre o ser pesquisador e o pesquisado “é um dado fundamental e revolucionário, pois foi somente a partir do início desse século que nós antropólogos sociais temos procurado testar nossas interpretações nesses dois níveis: no da nossa sociedade e cultura e também no nível da sociedade estudada, com o próprio nativo. [...] Porque quando apresento a minha teoria ao meu “objeto” eu não só estou me abrindo para uma relativização dos meus parâmetros epistemológicos, como também fazendo nascer um plano de debate inovador: aquele formado por uma dialética entre o fato interno, com o fato externo. E essa dialética acaba por inventar um plano comparativo fundado na reflexividade, na circularidade e na crítica sociológica, o que radicalmente diferente da comparação bem comportada, onde a consciência do observador fica inteiramente de fora, como uma espécie de computador cósmico, a ela sendo atribuída a capacidade de tudo dar sentido sem nunca se colocar no seu próprio esquema comparativo”.p. 26-27
                                                                                                             
“A raiz das diferenças entre “ciências naturais” e “ciências sociais” fica focalizada, portanto, no fato de que a natureza não pode falar diretamente como investigador; ao passo que cada sociedade humana conhecida é um espelho onde a nossa própria existência se reflete”.

3 – Antropologias e Antropologia.

“Procurando definir um “lugar” para a antropologia social, é preciso não esquecer as relações da antropologia com seus outros ramos, a saber: Antropologia Biológica, Antropologia Arqueológica e a Antropologia Social/Cultural.
                                                                                                                                              
Antropologia Biológica – Estuda o homem enquanto ser biológico, dotado de um aparato físico e de uma carga genética, com um percurso evolutivo definido e relações específicas com outras ordens e espécies de seres vivos.

Antropologia Arqueológica – Diz respeito ao estudo do homem no tempo, através dos monumentos, restos de morada, documentos, armas, obras de arte e realizações técnicas que foi deixando no seu caminho enquanto civilizações davam lugar a outras no curso da história.
                                                                                                        
Antropologia Social; Cultural ou Etnologia – Estuda o homem enquanto produtor e transformador da natureza, concebendo o homem como membro de uma sociedade e de um dado sistema de valores. Estuda o homem como resposta as transformações da natureza.
                                                                                                                                             
“O estudo da Antropologia Social será sempre o estudo das “diferenças”, plano efetivo e concreto em que a chamada humanidade se realiza e se torna visível”.p.34.

4 – Os Planos da Consciência Antropológica

Se divide nos planos de consciência Biológica e Arqueológica.

Consciência Biológica – “Nos coloca diante dos espaços primordiais, dos gestos decisivos, do tempo que corre numa escala fria, lenta, infinita. Ela nos permite especular sobre aquele momento mágico quando o milagre do significado deve ter se realizado e todas as coisas se juntaram num primeiro sistema de classificação”.p. 37. 

Consciência Arqueológica – “É aquela que nos toca em temporalidades infinitas e com uma história igualmente fria, onde os espaços entre os acontecimentos são enormes. Permite diferenciar civilizações, sistemas produtivos e regimes políticos específicos”.      

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

APRENDER ANTROPOLOGIA, FRANÇOIS LAPLANTINE

LAPLANTINE, François. Aprender Antropologia. Editora Brasiliense – 8ª Ed. Trad. Marie-Agnés chauvel. SP 1994.
O CAMPO E A ABORDAGEM ANTROPOLÓGICOS
“O projeto de fundar uma ciência do homem – uma antropologia – é, ao contrário, muito recente. De fato, apenas no final do século XVIII é que se começa a constituir um saber científico que toma o homem como objeto de conhecimento, e não mais a natureza, apenas nessa época é que o espírito científico pensa, pela primeira vez, em aplicar ao próprio homem os métodos até então utilizados na área física ou biológica”.                                                                                                               
“As sociedades estudadas pelos primeiros antropólogos são sociedades longínquas as quais são atribuídas as seguintes características: Sociedades de dimensões restritas, que tiveram poucos contatos com os grupos vizinhos; cuja tecnologia é pouco desenvolvida em relação a nossa; e nas quais há uma menor especialização das atividades e funções sociais. São também qualificadas de “simples”; em conseqüência, elas irão permitir a compreensão, como numa situação de laboratório, da organização “complexa” de nossas próprias sociedades”.                                                                                                                              
Por muito tempo acreditou-se que o objeto de estudo da antropologia eram as sociedades ditas primitivas, assim, com o rápido desenvolvimento das sociedades, o “selvagem”, está, por assim dizer, sujeito ao desaparecimento. Surge daí, uma crise na antropologia: Será que com o desaparecimento do selvagem também desaparecerá a antropologia?                                     
A resposta a essa pergunta passa por três estágios, o primeiro diz que se o objeto de estudo perder-se, poderá o antropólogo passar a estudar a “sociologia”, ele também pode estudar o camponês, como uma espécie de selvagem, e, por fim, o aspecto epistemológico, quiçá o mais viável.                                                                                                                                                          
“O objeto teórico da antropologia não está ligado, na perspectiva na qual começamos a nos situar a partir de agora, a um espaço geográfico, cultural ou histórico particular. Pois a antropologia não é senão um certo olhar, um certo enfoque que consiste em: 1 – O estudo do homem interior; 2 – O estudo do homem em todas as sociedades, sob todas as latitudes em todos os seus estados e em todas as épocas.” p 16.
In, O estudo do homem inteiro
Uma abordagem antropológica objetiva levar em consideração as múltiplas dimensões do ser humano em sociedade. Existem cinco áreas da antropologia que o pesquisador deve estudar ao trabalhar de maneira ampla:
1 – Antropologia Biológica – consiste no estudo das variações dos caracteres biológicos do homem no espaço e no tempo. Sua problemática é a das relações entre o patrimônio genético e o meio (geográfico, ecológico, social), ela analisa as particularidades morfológicas e fisiológicas ligadas a um meio ambiente, bem como a evolução destas particularidades. p 17.
2 – Antropologia Pré-Histórica – É o estudo do homem através dos vestígios materias enterrados no solo (ossadas, mas também quaisquer marcas da atividade humana). Seu projeto, que se liga a arqueologia, vida reconstruir as sociedades desaparecidas, tanto em suas técnicas e organizações sociais, quanto em suas produções culturais e artísticas. p 17.
3 – Antropologia Linguística – A linguagem é, com toda evidência, parte do patrimônio cultural de uma sociedade. É através dela que os indivíduos que compõem uma sociedade se expressam e expressam seus valores, suas preocupações, seus pensamentos. Só o estudo da língua permite: Compreender como os homens pensam o que vivem e o que sentem; como eles expressam o universo e o social; como, eles interpretam seus próprios saber e saber-fazer.
4 – Antropologia Psicológica – Consiste no estudo dos processos e do funcionamento do psiquismo humano. Somente através dos comportamentos – conscientes e inconscientes – dos seres humanos particulares podemos apreender essa totalidade sem a qual não é antropologia. É a razão pela qual a dimensão psicológica (e também psicopatológica) é absolutamente indissociável do campo do qual procuramos aqui dar conta. p 19.
5 – Antropologia Social e Cultural (ou etnologia) – Diz respeito a tudo quanto constitui sociedade: seus modos de produção econômica suas técnicas, sua organização política e jurídica, seus sistemas de parentesco, seus sistemas de conhecimento, suas crenças religiosas, sua língua.
In, O estudo do homem em sua diversidade
“Aquilo que, de fato caracteriza a “unidade” do homem, de que a antropologia como já o dissemos e voltaremos a dizer, faz tanta questão, é sua aptidão praticamente infinita para inventar modos de vida e formas de organização social extremamente diversos. E, a meu ver, apenas a nossa disciplina permite notar, com a maior proximidade possível, que essas formas de comportamento e de vida em sociedade que tomávamos todos espontaneamente por inatas (nossas maneiras de andar, dormir, vestir, encontrar, emocionar …) são, na realidade, o produto de escolhas culturais. Ou seja, aquilo que os seres humanos tem em comum é sua capacidade para se diferenciar uns dos outros, para elaborar costumes, línguas, modos de conhecimento, instituições, jogos profundamente diversos; assim, se há algo natural a espécie humana é a sua aptidão à variação cultural”. p 22.
In, Dificuldade
1 – A primeira dificuldade se manifesta, como sempre, ao nível das palavras. Etnologia ou Antropologia? A primeira (de origem francesa) estuda a pluralidade irredutível das etnias, isto é, das culturas. A segunda (anglo-saxônica), estuda a unidade do gênero humano. Optando-se por antropologia, deve-se falar em Antropologia Social – cujo objetivo privilegiado é o estudo das instituições – ou (com os autores americanos) de Antropologia Cultural – que consiste mais no estudo dos comportamentos. p 25.                                                                                                                                                                                            
2 – A segunda diz respeito ao gral de cientificidade que convém atribuir a antropologia. O homem está em condições de estudar cientificamente o homem, isto é, um objeto que é da mesma natureza que o sujeito? Para Radcliffe-Brown (1968), as sociedades são sistemas naturais e devem ser estudadas como tais. Para Evans-Pritchard (1969), as sociedades devem ser estudadas como sistemas simbólicos. p 26.                                                                                                                                                               
3 – Uma terceira dificuldade é a relação da antropologia com a história. Estreitamente vinculadas nos século XVIII e XIX, as duas práticas vão rapidamente se emancipar uma da outra no século XX. As rupturas, de fato, se devem em grande medida aos antropólogos. Evans-Pritchard “O conhecimento da história das sociedades não é de nenhuma utilidade quando se procura compreender o funcionamento das instituições”. Leach “A geração de antropólogos a qual pertenço tira seu orgulho de sempre ter-se recusado a tomar a história em consideração”. P 26.                                                                                                                   
4 – O antropólogo deve contribuir enquanto antropólogo, para a transformação das sociedades que ele estuda? Minha convicção é que o antropólogo, para ajudar os atores sociais a responder a essa questão, não deve, pelo menos enquanto antropólogo, trabalhar para transformação das sociedades que estuda. Auxiliar uma determinada cultura na explicitação para ela mesma de sua própria diferença é uma coisa; organizar política, econômica e socialmente é outra coisa. P 30.
PRIMEIRA PARTE
MARCOS PARA UMA HISTÓRIA DO PENSAMENTO ANTROPOLÓGICO
1 – A PRÉ-HISTÓRIA DA ANTROPOLOGIA:
A descoberta das diferenças pelos viajantes do século XVI e a dupla resposta ideológica dada daquela época até nossos dias.                                                                                                                                                                                                                           “A gênese da reflexão antropológica é contemporânea à descoberta do Novo Mundo. O renascimento explora espaços até então desconhecidos e começa a elaborar discursos sobre os habitantes que povoam aqueles espaços.”
In, A figura do mal selvagem e do bom civilizado.
“A extrema diversidade das sociedades humanas raramente apareceu aos homens como um fato, e sim como uma aberração exigindo uma justificação. A antiguidade grega designava sobre o nome de bárbaro tudo o que não participava da helenidade, o renascimento, os séculos XVII e XVIII falavam de naturais ou de selvagens, opondo assim a animalidade a humanidade. O termo primitivos é que triunfará no século XIX, enquanto optamos preferencialmente na época atual pelo subdesenvolvido”.
“Além da religião, outro critério para avaliação das sociedades ditas primitivas seria:
1 - A aparência física: Eles estão nus ou “vestidos de peles de animais”;
2 – Os comportamentos alimentares: Eles “comem carne crua”, e é todo o imaginário do canibalismo que irá aqui se elaborar;
3 – A inteligência tal como pode ser apreendida a partir da linguagem: eles falam “uma língua inteligível”.
De Pauw, nos propõe suas reflexões a respeito dos índios da América do Norte:
“Deve existir nos americanos, uma causa qualquer que embrutece sua sensibilidade e seu espírito. A qualidade do clima, a grosseria de seus humores, o vício radical do sangue, a constituição de seu temperamento excessivamente fleumático podem ter diminuído o tom e o saracoteio desses homens embrutecidos” p 43.                                                                                 
Acreditando que os povos que viviam abaixo da linha latitudinal que até então dividia o mundo, eram inferiores, um autor escreveu o seguinte: “A natureza tirou tudo de um hemisfério desse globo para dá-lo a outro, a diferença entre um hemisfério e o outro é total, tão grande quanto poderia ser e quanto podemos imaginá-la”. p 44.                                                   
“Os julgamentos que acabamos de relatar – que estão, notamos, em ruptura com a ideologia dominante do século XVIII, em especial com o “Discurso sobre a Desigualdade”, de Rousseau, publicado vinte anos antes – por excessivos que sejam apenas radicalizam ideias compartilhadas por muitas pessoas nessa mesma época. Ideias que serão retomadas e expressas nos mesmos termos em 1830 por Hegel, o qual, em sua “Introdução à Filosofia da História”, nos expõe o horror que ele ressente frente ao estado de natureza, que é o desses povos que jamais “ascenderão” à história e à “consciência de si”.p 45.               
Ainda segundo Hegel, na “Fenomenologia do Espírito” o “negro” nem mesmo se vê atribuir o estatuto de vegetal. “Ele cai”, escreve Hegel, “para o nível de uma coisa, de um objeto sem valor”.p 46.
In, A figura do bom salvagem e do mal civilizado.
“O caráter privativo dessas sociedades sem escrita, sem tecnologia, sem sacerdotes, sem religião organizada, sem clero, sem polícia, sem leis, sem estado – acrescentar-se-á no século XX sem complexo de Édipo – não constitui uma desvantagem. “O selvagem não é quem pensamos”. Entretanto, “a figura do bom selvagem só encontrará sua formulação mais sistemática e mais radical , dois séculos após o renascimento: no rousseauísmo do século XVIII, e, em seguida, no Romantismo”.                                                                                                                                                                                                      
Num elogio ao estado original de natureza. Léry, entre os Tupinambás, interroga-se sobre o que se passa “aquém”, isto é, na Europa. Ele escreve, a respeito de nossos grandes usuários: “eles são mais cruéis do que os selvagens dos quais estou falando”. E Montaigne, sobre esses últimos: “Podemos de fato chamá-los de bárbaros sobre as regras da razão, mas não quanto a nós mesmos que os superamos em toda a sorte de barbáries”.                                                                                                                          
Em resumo, “a partir da observação direta de um objeto distante (Léry) e da reflexão a distância sobre este objeto (Montaigne), tem-se a constituição progressiva, não de um saber antropológico, muito menos de uma ciência antropológica, mas sim de um saber pré-antropológico. p 53.
2O SÉCULO XVIII:
A invenção do conceito de homem
“Se durante o renascimento esboçou-se, com a exploração geográfica de continentes desconhecidos, a primeira interrogação sobre a existência múltipla do homem, essa interrogação fechou-se muito rapidamente no século seguinte, no qual a evidência do “COGITO”, fundador da ordem do pensamento clássico, exclui da razão o louco, a criança, o selvagem, enquanto figuras da anormalidade”.                                                                                                                                               
“Será preciso esperar o século XVIII para que se constitua o “projeto” de fundar uma “ciência de homem”, isto é, “positivo” sobre o homem. Enquanto encontramos no século XVI elementos que permitem compreender a pré-história da antropologia, enquanto o século XVII interrompe nitidamente essa evolução, apenas no século XVIII é que entramos verdadeiramente, como mostrou Foucault (1966), na modernidade. Apenas nessa época, e não antes, é que se pode apreender as condições históricas, culturais e epistemológicas da possibilidade daquilo que vai se tornar a antropologia”.
“O projeto antropológico (e não a realização da antropologia como a entendemos hoje) supõe:
1 - “A construção de um certo número de conceitos”, começando pelo próprio conceito de homem, não apenas enquanto sujeito, mas enquanto objeto do saber, abordagem totalmente inédita (sujeito observante e sujeito observável).                 
2 - “A constituição de um saber que não seja apenas de reflexão, e sim de observação”, começa a constituição dessa “positividade” de um saber “empírico” (e não mais transcendental) sobre o homem enquanto ser vivo (biologia), que trabalha (economia), pensa (psicologia) e fala (linguística). Bebendo de Montesquieu “O Espírito das Leis”, Saint-Simon foi o primeiro a falar em uma “ciência da sociedade”.p 55.                                                                                                                                                               
3 - “Uma problemática essencial”: a da diferença. “A sociedade do século XVIII vive uma crise da identidade do humanismo e da consciência europeia. Parte de suas elites busca suas referências em um confronto com o distante”.                          
4 - “Um método de observação e análise – o Método Indutivo”, os grupos sociais que começam a ser comparados a organismos vivos, podem ser considerados como sistemas “naturais” que devem ser estudados empiricamente, a partir da observação de fatos, a fim de extrair princípios gerais, que hoje chamaríamos de leis. Os principais pensadores foram Adam Smith, e, antes dele, David Hume.                                                                                                                                                                                   
A partir da “natureza dos objetos observados”, a perspectiva, antes cosmográfica (Séculos XVI e XVII), assume um viés etnográfico, e, apenas no século XVIII se traça o “primeiro esboço daquilo que se tornará uma antropologia social e cultural. Simultaneamente, o foco passa do “objeto de estudo” para a “atividade epistemológica”. “Não basta mais observar, é preciso processar a observação. Não basta mais interpretar o que é observado, é preciso interpretar interpretações”. É essa atividade de organização e elaboração que, em 1789, Chavane chamará de “ETNOLOGIA”.p 58.                                            
Mesmo o século XVIII sendo essencial a elaboração dos fundamentos de uma “ciência humana”, ainda existiam obstáculos que impediam o advento de uma antropologia cientifica, os quais são:
1 - “A distinção entre o saber cientifico e o filosófico”.                                                                                                                         
2 – A não separação do discurso antropológico do século XVIII da história natural.
3 O TEMPO DOS PIONEIROS
Os pesquisadores-eruditos do século XIX                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                             “O século XVI descobre e explora espaços até então desconhecidos e tem um discurso selvagem sobre os habitantes que povoam esses espaços. Após um parêntese no século XVII, esse discurso se organiza no século XVIII: ele é “iluminado” a luz dos filósofos, e a viagem se torna viagem filosófica”. No século XVIII, […] é a época durante a qual verdadeiramente se constitui a antropologia enquanto disciplina autônoma: a ciência das sociedades primitivas em todas as dimensões (biológica, técnica, econômica, política, religiosa, linguística, psicológica...)” p. 63.                                                                                       
“Com a “Revolução Industrial Inglesa e a Revolução Política Francesa, percebe-se que a sociedade mudou e nunca mais voltará a ser o que era. No século XIX, o contexto geopolítico é totalmente novo: é o período da conquista colonial, que desembocará em especial na assinatura, em 1885, do Tratado de Berlim, que rege a partilha da África entre potências européias e poe um fim as soberanias africanas. É no movimento dessa conquista que se constitui a antropologia moderna, o antropólogo acompanhando de perto, como veremos, os passos dos colonos... É no pensamento teórico dessa antropologia que consiste a Teoria Evolucionsita.”                                                                                                                                                                                              
“O que é também muito característico dessa antropologia (evolucionista), que pretende ser cientifica, é a considerável atenção dada:
1 – A essas populações que aparecem como sendo as mais “arcaicas” do mundo: os aborígenes australianos;                     
2 – ao estudo do parentesco;                                                                                                                                                                   
3 – e ao da religião.
“Esmagados sob o peso dos materiais, os evolucionistas consideram os fenômenos recolhidos (o totemismo, a exogamia, a magia, o culto aos antepassados, a filiação matrilinear...) como costumes que servem para exemplificar cada estágio. E quando faltam documentos, alguns (Frazer) fazem por intuição a reconstituição dos elos ausentes, procedimento absolutamente oposto, como veremos mais adiante, ao da etnografia contemporânea, que procura, através da introdução de fatos minúsculos recolhidos em uma única sociedade, analisar a significação e a função das relações sociais.” p. 70.        
“Isso colocado, como é fácil – e até risório – desacreditar hoje todo o trabalho que foi realizado pelos pesquisadores – eruditos da época evolucionista.”.  “...mas como poderíamos criticá-los por isso, já que eles foram precisamente os fundadores de uma disciplina que não existia antes deles.”p.72.                                                                                                                                               
“O que é iminentemente característico desse período é a intensidade do trabalho que realizou, bem como sua imensa curiosidade. Durante o século XIX, assistimos a criação das sociedades cientificas de etnologia, das primeiras cadeiras universitárias, e, sobretudo, dos museus como o que foi fundado no palácio de Trocadero em 1879 e que se tornará o atual Museu do Homem.”                                                                                                                                                                                           
“Através dessa atividade extrema, esses homens do século passado colocavam o problema maior da antropologia: explicar a universalidade e a diversidade das técnicas, das instituições, dos comportamentos e das crenças, comparar as práticas sociais de populações infinitamente distantes uma das outras tanto no espaço como no tempo.” […] são eles que mostraram pela primeira vez que as disparidades culturais entre os grupos humanos não eram de foram alguma a consequência de predisposições congênitas, mas apenas o resultado das situações técnicas e econômicas. Assim, uma das características principais do evolucionismo é o seu “anti-racismo”.p. 73.                                                                                                                                            
“Não há, como mostrou Kuhn (1983), conhecimento cientifico possível sem que se constitua uma teoria servindo de “paradigma”, isto é, de modelo organizador do saber, e a teoria da evolução teve incontestavelmente, no caso, um papel decisivo. Foi ela que deu seu impulso a antropologia. O paradoxo (aparente porque o conhecimento cientifico se dá sempre mais por descontinuidade teóricas do que por acumulação), é que a antropologia só se tornará cientifica (no sentido que entendemos) introduzindo uma ruptura em relação a esse modo de pensamento que lhe havia no entanto aberto o caminho.” p.74.
4 – OS PAIS FUNDADORES DA ETNOGRAFIA
Boas e Malinowski
“A etnografia propriamente dita só começa a existir a a partir do momento no qual se percebe que o pesquisador deve ele mesmo efetuar no campo sua própria pesquisa, e que esse trabalho de observação direta é parte da pesquisa.”
BOAS (1858-1942)
“Com ele assistimos a uma verdadeira virada da prática antropológica. Boas era antes de tudo um homem de campo. Suas pesquisas totalmente pioneiras, iniciadas, a partir dos últimos anos do século XIX (em particular entre os Kwakiutl e os Chinook de Colúmbia Britânica), eram conduzidas de um ponto de vista que hoje qualificaríamos de microssociológico”p. 77.              “A partir de Boas, […] não se pode mais confiar nos investigadores […], apenas o antropólogo pode elaborar uma monografia. Pela primeira vez o teórico e o observador estão reunidos.”p. 78.                                                                                           
“Assistimos ao nascimento de uma verdadeira etnografia profissional que não se contenta mais em coletar materiais à maneira de antiquarios, mas procura detectar o que faaz a unidade da cultura que se expressa através desses diferentes materiais.”p. 78.                                                                                                                                                                                
“Finalmente, ele foi um dos primeiros a nos mostrar não apenas a importância, mas também a necessidade, para o etnólogo, do acesso a língua da cultura na qual trabalha. As tradições que estuda não poderiam ser-lhes traduzidas. Ele próprio deve reconhecê-las na língua de seus interlocutores”p. 78.
MALINOWSKI (1884-1942)
“Malinowski, dominou incontestavelmente a cena antropológica, de 1922, ano de publicação de sua primeira obra, Os Argonautas do pacífico Ocidental, até sua morte, em 1942.”
1 - “Ninguém antes dele tinha se esforçado em penetrar tanto, como ele fez no decorrer de sua estadias sucessivas nas ilhas Trombriand, na mentalidade dos outros, e em compreender de dentro, por uma verdadeira busca de despersonalização, o que sentem os homens e as mulheres que pertencem a uma cultura que não é a nossa.”p. 80.                                                               
2 - “Instaurando uma ruptura com a história conjetural (a reconstituição especulativa dos estágios), e também com a geografia especulativa (a teoria difusionista, que tende, no início do século, a ocupar o lugar do evolucionismo, e postula a existência de centros de difusão da cultura, a qual se transmite por empréstimo), Malinowski considera que uma sociedade deve ser estudada enquanto uma totalidade, tal como funciona no momento mesmo que observamos. Com Malinowski, a antropologia se torna uma “ciência” da alteridade que vira as costas ao empreendimento evolucionista de reconstituição das origens da civilização, e se dedica ao estudo das lógicas particulares características de cada cultura. Hoje todos os etnólogos estão convencidos de que as sociedades humanas tanto quanto a nossa são sociedades humanas tanto quanto a nossa, que os homens e mulheres que nelas vivem são adultos diferentemente de nós, e não “primitivos”, autômatos atrasados que pararam em uma época distante e vivem presos a tradições estúpidas. Mas nos anos 20 isso era propriamente revolucionário.”p 81.                              
3 - “ A fim de pensar essa coerência interna, Malinowski elabora uma teoria (O FUNCIONALISMO) que tira seu modelo das ciências da natureza: o indivíduo sente um certo número de necessidades, e cada cultura tem precisamente como função à de satisfazer a sua maneira essas necessidades fundamentais.”                                                                                                  
4 – O homem deve ser estudado através da tripla articulação do social, do psicológico e do biológico.” p. 82.        
“Compreendendo que o único modo de conhecimento em profundidade dos outros é a participação a sua existência, ele inventa literalmente e é o primeiro a pôr em prática a observação participante.” p. 84.
5 – OS PRIMEIROS TEÓRICOS DA ANTROPOLOGIA
Durkheim e Mauss
DURKHEIM
“Durkheim, nascido em 1858, o mesmo ano que Boas, mostrou em suas primeiras pesquisas preocupações muito distantes das da etnologia, e mais ainda da etnografia. Em “As Regras do Método Sociológico” (1894), ele opõe a “precisão” da história à “confusão” da etnografia, e se dá como objeto de estudo “as sociedades cujas crenças, tradições, hábitos, direitos, incorporam-se em movimentos escritos e autênticos. Mas, em As formas Elementares da Vida Religiosa (1912), ele revisa seu julgamento, considerando que não é apenas importante, mas também necessário estender o campo de investigação da sociologia dos materiais recolhidos pelos etnólogos nas sociedades primitivas.” p. 88.                                                                        
“Sua preocupação maior é mostrar que existe uma especificidade do social, e que convém consequentemente emancipar a sociologia, ciência dos fenômenos sociais, dos outros discursos sobre o homem, e, em especial, do da psicologia. […] a causa determinante de um fato social deve ser buscada nos fatos sociais anteriores e não nos estados da consciência individual.” p. 88.                                                                                                                                                                              
“Essa irredutibilidade do social tem para Durkheim a seguinte consequência: os fatos sociais são “COISAS” que só podem ser explicados sendo relacionados a outros fatos sociais.” p. 89.
MAUSS
Marcel Mauss (1872-1950), nasceu como Durkheim, em Epinal, quatorze anos após este, de quem é sobrinho. Suas contribuições teóricas respectivas na constituição da antropologia moderna são ao mesmo tempo muito próximas e muito diferentes. Se Maus, faz tanto quanto Durkheim, questão de fundar a autonomia do social, separam-se muito rapidamente a respeito de dois pontos fundamentais: o estatuto que convém atribuir a antropologia, e uma exigência epistemológica que hoje qualificaríamos de pluridisciplinar.” p. 89.                                                                                                                                                   
“Um dos conceitos principais formado por Mauss é o do “FENÔMENO SOCIAL TOTAL”, constituindo na integração dos diferentes aspectos (biológico, econômico, jurídico, histórico, religioso, estético...) constitutivos de uma dada realidade social que convém apreender a sua integralidade.” p. 90.                                                                                                             
“Assim, essa “totalidade folhada”, segundo a palavra de Lévi-Strauss, comentador de Mauss (1960), isto é, “formada de uma multitude de planos distintos”, só pode ser apreendida na experiência dos indivíduos”. Devemos, escreve Mauss, “observar os comportamentos dos seres totais, e não divididos em faculdades”. E a única garantia que podemos ter de que um fenômeno social corresponde a realidade da qual procuramos dar conta é que possa ser apreendido na experiência concreta de um ser humano, naquilo que tem de único: “O que é verdadeiro, não é a oração ou o direito, e sim o melanésio de tal ou tal ilha”.                                                                                                                                                                                                               
“Ora, o que caracteriza o modo de conhecimento próprio das ciências do homem, é que o observador-sujeito, para compreender seu objeto, esforça-se para viver nele mesmo a experiência deste, o que só é possível porque esse objeto é, tanto quanto ele, sujeito”. p. 91.
OBS.:Este fichamente compreende apenas a 1ª parte do livro, a qual vai da página 1-91.