In ilo tempore o homem busca se encontrar com Deus (Eliade, 2001). É de fato o grande anseio da humanidade; um encontro com aquilo que pode nos satisfazer, saciando esta nossa "fome" de poder (Nietzsche). Esta ansiedade por algo que o preencha é inata ao homem, todos precisam de algo. Desde o mais abastado dos homens até o mais sôfrego dos miseráveis, paira uma espécie de insatisfação sobre todos. O fato é que o homem, de per si, nunca está satisfeito - ele sempre quer mais. Grosso modo - mesmo correndo o risco de uma abordagem simplista - esta é a grande resposta dos mais variados viciados nas mais variadas modalidades de vícios. Quiçá, eu preciso, é uma necessidade!
Ademais, percorrendo os corredores dos antídotos humanos a nossa carência de ser, deparamo-nos com as mais diletas narrativas mitológicas, com as mais laboriosas poesias e as mais abstratas filosofias. Tudo, para conduzir o homem a suficiência. Neste íterim - a glória. Segundo Joseph Campbell (1986), os heróis surgem desta paixão pela glória, pelo encontro do ser (suficiência). Segundo ele, todos quantos foram encontrados por uma grande aventura (épica), se depararam com esta fórmula, a saber: irrupção de um problema - desafio mitológico pela resolução - frustração pela excentricidade da glória. De acordo com Campbell, reside aí a sobeja diversidade das histórias mitológicas e a conspícua produção de novos heróis, a saber, do anseio do homem pelo ser (suficiência, glória).
Nesta perspectiva, surge no seio da humanidade uma odisséia pela satisfação. São muitos os que pensam, como os mais conhecidos heróis mitológicos, que podem encontrar esta satisfação por suas próprias forças. Desta forma, levando em consideração o "tamanho" da ambição humana; deste ponto em diante aos nos referirmos a satisfação, suficiência ou glória, entenderemos que estas apontaram sempre a Deus - como diria Dostoievski. Com base nisso, chegamos ao âmago de nossa discussão, a saber: Pode o homem encontrar a Deus?
São muitos os que dizem que sim! Que você poder encontar a Deus no final de uma "penitência", por exemplo. Outros dizem que você pode encontar a Deus quando sua mente estiver eminentemente vazia. Outros ainda que você precisa tão somente "abrir" o coração. E os argumentos se multiplicam aos borbotões. A meu ver, temos aqui um bom exemplo da velha maneira grega de conceber a relação do homem com Deus, a qual é deveras simples, encontre-o!
Entretanto, creio veementemente que as coisas não são tão simples. Primeiro, não existem vários deuses, como se concebe até os dias de hoje, mas, apenas um - O Deus Todo Poderoso, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, nosso Redentor. Segundo, mesmo que fosse possível divisá-lo (pois é Espírito), onde encontrá-lo? Após o Aqueronte? No coração de algum dragão? No fundo de alguma lagoa mágia ou no degustar de alguma bebida xamântica? Onde? Temos, então, dois grandes problemas, os maiores problemas da humanidade. Os quais seriam: a total dependência de um Deus intangível (humanamente falando), e a total falta de um instrumento que nos conduzisse a Ele. Explico.
Quando assevero nossa total dependência, falo no que tange a auto-suficiência de Deus. Dizer que Ele é auto-suficiente é o mesmo que pensar em termos absolutos - Ele não precisa de nós para ser Deus. Logo, nós precisamos deseperadamente d'Ele para sermos, pelo menos, servos. Ato contínuo, sendo Deus absoluto - estando muito bem servido de si - e resgatando a doutrina fulcral do "Pecado Original", que nos separa inexoravelmente de seu Ser perfeito, amealhado a premissa que pelo pecado Deus se encontra "irado" com a humanidade e necessita, em sua santidade, de algo que aplaque esta ira, eu pergunto: O que oferecer a Deus? Melhor, como chegar até Ele para oferecer-lhe algo? Mais, sendo Ele perfeito, onde encontar perfeição numa terra completamente depravada (pecado original), para, a partir daí, oferecer-lhe?
Leitor, nós não tínhamos forças e muito menos meios. Estávamos de "mãos", literalmente, atadas.
Só havendo, portanto, uma solução: Por não podermos encontrar a Deus, teríamos que ser encontrados por Ele. Logo, pasme, foi o que ocorreu!
Em nossa luta tosca (como cegos espirituais procurando um caminho espiritual) por satifação (Deus), mais parecíamos "ovelhas que não possuíam pastor" (Mc 6.34) cada um de nós se "desviava por seus próprios caminhos" (Is 53.6). Era uma visão lastimósa, muito triste. Então "Deus - a revelia do percebido nas mitologias - sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos (o que prova a falta de forças e meios) em nossos delitos (pecado original), nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos (Ef 2.4-5). Deus parte em nossa direção, se compadesse de nós, "nos ama primeiro", e de uma maneira extritamente sobrenatural "cancela o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removendo-o inteiramente, encravando-o na cruz" (Cl 2.14). Ele, serve como autoridade em si e resolve o primeiro de nossos problemas (falta de forças) utilizando um meio que jamais nos serviria - a cruz, resolvendo, assim, o segundo de nossos problemas (a falta de meios).
Em seu eterno propósito, Deus, finalmente, nos encontra!
Finalmente, acredito que o homem jamais encontrará, por tudo que foi asseverado, a "satisfação" que busca, por suas próprias forças - porque o homem está morto (sem forças e sem meios para isso). Ele precisa de algo que lhe manifeste e supra esta sensação de vázio, algo que finalmente o faça descansar. Esse algo, Deus.
Mas, você pode não concordar com nada do que eu falei, e pode deliberadamente continuar sua jornada por satisfação. Creio que você pode estar sentindo o mesmo vazio sentido por Dostoievski, que disse, "Dentro de casa ser humano existe um vazio do tamanho de Deus". Então, sabendo agora o que tens que procurar, BOA SORTE!
A relevância dos aspectos contextuais e fenomenológicos para comunicação do Evangelho.
domingo, 29 de maio de 2011
sábado, 21 de maio de 2011
AMAZING GRACE
A música, bem como a história que emerge de seu pano de fundo "Jornada pela Graça", pode ser assistida em português num filme que trás o mesmo nome. Trata-se da história de William Wilberforce (Ioan Gruffudd), brilhante cristão e emérito abolicionista britânico. O filme, um clássico regado a perseverança e fé, trata-se de uma daquelas histórias capazes de mudar o mundo, como mudou!
Fico devendo algo sobre o Rev John e sobre seu grande amigo William Wilberforce, os quais deveras admiro. Por hora, compartilho a letra da música (tradução livre) e um dos mais belos vídeos que já tive o prazer de ver.
AMAZING GRACE (Tradução Livre, Graça Maravilhosa)
Graça magnífica, tão doce o som
Que salvou um naufrago como eu
Uma vez eu estava perdido, mas agora fui encontrado
Estava cego, mas agora eu vejo
Foi a graça que ensinou o meu coração a temer
E a graça alivou os meus medos
Tão preciosamente apareceu aquela graça
Acreditei no primeiro momento
Graça magnífica, tão doce o som
Que salvou um naufrago como eu
Uma vez eu estava perdido, mas agora fui encontrado
Estava cego, mas agora eu vejo
quarta-feira, 18 de maio de 2011
RESSOCIALIZE
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Não me deterei em elogios a peculiar percepção de Bandeira porque tenho falado sobre ele há algum tempo nesse espaço - Se bem que é pacífico a todos o apreço que tenho por este corifeu do pensamento modernista brasileiro. Entrementes, levando em consideração a poesia que, grosso modo, é um de meus mais diletos prazeres, confesso, a revelia do que caracteriza o homem médio que; imiscuído em minhas leituras (das mais variadas) e, acima de tudo, em minha vida devocional com Deus, encontro um conforto que dificilmente poderia definir em palavras. Conforto esse que sobrepuja qualquer prazer hodierno.
Desta forma, se estivesse em mim escolher - e graças a Deus que não está - com certeza não sairia de meu escritório. Continuaria por horas a fio naquela comunhão íntima com Deus e, como de costume, me deleitando nas páginas que demoradamente ouso virar sempre que posso.
Não me culpo por isso, essa era a vida que muitos de meus referencias queriam para si, vide Lutero, Calvino, Edwards e outros. O fato é que o conhecimento de Deus e toda a sua ternura que emerge dos escritos dos seus servos, deixam qualquer dos mortais inexoravelmente absorto.
No entanto, se consseguíssemos sorte neste mister, seríamos, preponderantemente, os mais mesquinhos de todos os homens. Isto porque roubaríamos esta mesma alegria - que flui de Deus - dos demais seres humanos. Algo que com certeza Ele jamais permitiria. Assim, plenamente convencido desta verdade, a qual é o âmago do evangelho, tenho lutado contra meus próprios interesses e tenho tentado viver não para mim mesmo, mas para a Glória d'Ele (Gl 5.20).
Destarte, resolvi me dedicar academicamente a maneiras plausíveis de comunicar estas "Boas Novas de grande alegria" de maneira que todos pudessem compreende-la, não importando o contexto em que se encontrassem. Me entreguei completamente a esta causa e mergulhei, tanto quanto pude, nas literaturas que me ajudassem neste sentido.
Ato contínuo, sempre sob a égide de que precisava comunicar o "Reino de Deus conforme o Evangelho de Cristo" (integralmente), e amalgamando esta premissa a paixão que nutro pela antropologia e pela fenomenologia, parti numa viagem maravilhosa pelo campo apaixonante da contextualização, me dedicando, quase que exclusivamente, a culturas alheias e a perspectivas mitológicas. E isto por um tempo considerável.
Ademais, não penso ter errado, absolutamente. Entretanto, creio que amealhado a esta paixão por fenômenos e histórias épicas, eu poderia ter apinçado um pouco da cultura e do momento histórico que me cerca. Digo isto, porque mesmo envolvido em projetos de cunho social e sendo um dos defensores do adimplamento da missão integral no contexto local, me vi surpreendido com o fato de que a realidade que hora vivo, em certa medida, suplanta as dificuldades de muitas das narrativas que aprendi a amar.
Meu ponto é que a reflexão teológica e/ou missiológica, deve ser regada a horizontalidade. Não a teórica, a qual estou acostumado, mas a prática. Sem querer me esconder sobre um verniz de "bom samaritano", me encontro numa espécie de contraproducência no que tange a relação: produção teórica x resposta prática. Talvez, alguém mais próximo de mim, pense ser esta reflexão um tanto dura, contudo, temo que mesmo numa jornada singela, iniciada a muito tempo, não tenha saído ainda de minha "zona de conforto".
Desta forma, resolvi - para usar um termo de Edwards - aplainar verticalidade e horizontalidade, não porduzir uma em detrimento da outra. Resolvi ser "relevante" de fato, como creio serem relevantes as pessoas que buscam esta postura. Quero produzir uma teologia ortodoxa que tenha o aroma de minha geração, a originalidade que requer o momento. Tal postura sempre esteve em meu coração, e, de fato, eu pensava vivê-la, mas, se a vivi, não foi com a intesidade com a qual quero ser lembrado.
Portanto, enquanto estiver em mim, quero me instrumentalizar na ambição de produzir e/ou executar uma teologia que dirima a quantidade de "bichos" a semelhança do percebido por Bandeira no texto supra. Quero ser uma resposta "real" a necessidade aguda de uma sociedade materialista que não sabe a diferença entre dignidade e miserabilidade, ou que se sabe, simplesmente não se importa.
Quero lutar para não sentir esta mesma morbidez da próxima vez que vir uma foto como a que estampa este texto. Quero ser de fato sal e luz. Quero ser uma resposta. Quero ser relevante. Quero contribuir com tudo o que sou para o fim de tanto sofrimento.
Oh Senhor! Ajuda-me, ele não é um bicho, é um homem!!! Que mundo é esse?
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Não me deterei em elogios a peculiar percepção de Bandeira porque tenho falado sobre ele há algum tempo nesse espaço - Se bem que é pacífico a todos o apreço que tenho por este corifeu do pensamento modernista brasileiro. Entrementes, levando em consideração a poesia que, grosso modo, é um de meus mais diletos prazeres, confesso, a revelia do que caracteriza o homem médio que; imiscuído em minhas leituras (das mais variadas) e, acima de tudo, em minha vida devocional com Deus, encontro um conforto que dificilmente poderia definir em palavras. Conforto esse que sobrepuja qualquer prazer hodierno.
Desta forma, se estivesse em mim escolher - e graças a Deus que não está - com certeza não sairia de meu escritório. Continuaria por horas a fio naquela comunhão íntima com Deus e, como de costume, me deleitando nas páginas que demoradamente ouso virar sempre que posso.
Não me culpo por isso, essa era a vida que muitos de meus referencias queriam para si, vide Lutero, Calvino, Edwards e outros. O fato é que o conhecimento de Deus e toda a sua ternura que emerge dos escritos dos seus servos, deixam qualquer dos mortais inexoravelmente absorto.
No entanto, se consseguíssemos sorte neste mister, seríamos, preponderantemente, os mais mesquinhos de todos os homens. Isto porque roubaríamos esta mesma alegria - que flui de Deus - dos demais seres humanos. Algo que com certeza Ele jamais permitiria. Assim, plenamente convencido desta verdade, a qual é o âmago do evangelho, tenho lutado contra meus próprios interesses e tenho tentado viver não para mim mesmo, mas para a Glória d'Ele (Gl 5.20).
Destarte, resolvi me dedicar academicamente a maneiras plausíveis de comunicar estas "Boas Novas de grande alegria" de maneira que todos pudessem compreende-la, não importando o contexto em que se encontrassem. Me entreguei completamente a esta causa e mergulhei, tanto quanto pude, nas literaturas que me ajudassem neste sentido.
Ato contínuo, sempre sob a égide de que precisava comunicar o "Reino de Deus conforme o Evangelho de Cristo" (integralmente), e amalgamando esta premissa a paixão que nutro pela antropologia e pela fenomenologia, parti numa viagem maravilhosa pelo campo apaixonante da contextualização, me dedicando, quase que exclusivamente, a culturas alheias e a perspectivas mitológicas. E isto por um tempo considerável.
Ademais, não penso ter errado, absolutamente. Entretanto, creio que amealhado a esta paixão por fenômenos e histórias épicas, eu poderia ter apinçado um pouco da cultura e do momento histórico que me cerca. Digo isto, porque mesmo envolvido em projetos de cunho social e sendo um dos defensores do adimplamento da missão integral no contexto local, me vi surpreendido com o fato de que a realidade que hora vivo, em certa medida, suplanta as dificuldades de muitas das narrativas que aprendi a amar.
Meu ponto é que a reflexão teológica e/ou missiológica, deve ser regada a horizontalidade. Não a teórica, a qual estou acostumado, mas a prática. Sem querer me esconder sobre um verniz de "bom samaritano", me encontro numa espécie de contraproducência no que tange a relação: produção teórica x resposta prática. Talvez, alguém mais próximo de mim, pense ser esta reflexão um tanto dura, contudo, temo que mesmo numa jornada singela, iniciada a muito tempo, não tenha saído ainda de minha "zona de conforto".
Desta forma, resolvi - para usar um termo de Edwards - aplainar verticalidade e horizontalidade, não porduzir uma em detrimento da outra. Resolvi ser "relevante" de fato, como creio serem relevantes as pessoas que buscam esta postura. Quero produzir uma teologia ortodoxa que tenha o aroma de minha geração, a originalidade que requer o momento. Tal postura sempre esteve em meu coração, e, de fato, eu pensava vivê-la, mas, se a vivi, não foi com a intesidade com a qual quero ser lembrado.
Portanto, enquanto estiver em mim, quero me instrumentalizar na ambição de produzir e/ou executar uma teologia que dirima a quantidade de "bichos" a semelhança do percebido por Bandeira no texto supra. Quero ser uma resposta "real" a necessidade aguda de uma sociedade materialista que não sabe a diferença entre dignidade e miserabilidade, ou que se sabe, simplesmente não se importa.
Quero lutar para não sentir esta mesma morbidez da próxima vez que vir uma foto como a que estampa este texto. Quero ser de fato sal e luz. Quero ser uma resposta. Quero ser relevante. Quero contribuir com tudo o que sou para o fim de tanto sofrimento.
Oh Senhor! Ajuda-me, ele não é um bicho, é um homem!!! Que mundo é esse?
domingo, 15 de maio de 2011
O CÍRCULO DE ERANOS
O Círculo de Eranos é um marco na história do pensamento humano no que tange a produção científica de textos fenomenológicos e antropológicos. Este seleto grupo de eméritos pesquisadores das áreas da ciência da religião, psicologia, história da religião, mitologia e fenomenologia; se reunia num dos mais aprazíveis cenários mundiais, o Lago Maggiore, em Ascona, Suiça.
O círculo teve seu gérmem através da paixão quee Olga Froebe-Kapteyn (1881-1962), grande erudita de ascendência inglesa, nutria pela manifestação do sagrado e consequentemente por seu estudo. A primeira reunião ocorreu num momento de crasso anacronismo político no cenário mundial. Não obstante uma série de avanços nas áreas das ciencias humanas, a sociedade amargava um período de intensa inconsistência bélica, a saber, o nacionalismo facista e o marxismo comunista. Foi neste clima funesto de intrigas políticas que em 1933 o círculo se reuniu pela primeira vez.
A palavra "eranos", de origem grega, significa "comida em comum". A própria etimologia da palavra aponta para o motivo de tão conspícua reunião, quiçá, uma reflexão pungente no campo dos conflitos ideológicos que grassavam a sociedade de então. Ademais, o pano de fundo teórico também não dispensava o arquétipo supracultural que a hermeneutica de então trazia a tona, fruto da discussão que emergia dos citados campos de estudo que emblemavam os componentes do círculo.
Destarte, o círculo também tinha como meta a aproximação epistemológica dos vários ramos do estudo do sagrado, fato que legitimava o símbolo escolhido por seus componentes, a saber, o deus pagão Hermes, o qual significa a conjunção de caminhos opostos. Tal conjunção de caminhos ambicionava a manifestação de um sentido para as irrupções arquétipas por meio de uma hermeneutica simbólica. Sendo esta a principal atuação do círculo.
Após 1933, as reuniões cotinuaram a acontecer uma vez por ano sempre no mês de Agosto e perduraram por, pelo menos; 70 anos, quando vieram a se extinguir. A cada ano um novo tema era proposto e cada participante tinha oportunidade de se manifestar e expor suas idéias, contribuindo, desta forma, para o "banquete de idéias".
O Círculo de Eranos é seguramente o mais notável dos grupos que já surgiu nestes moldes, a revelia de meu interesse pelo tema, tenho neste seleto grupo boa parte de meus teóricos favoritos, e, não obstante o fato deles estarem sendo lembrados neste texto in memorian, ressalto a relevância que cada um deles, em seus respectivos campos de pesquisa, trouxeram para o desenvolvimento da humanidade em geral.
O Círculo de Eranos, com mais algumas peças (que infelizmente não foram contemporaneas dos fatos), seria, a meu ver, uma espécie real do que chamaria de "Banquete".
O grupo original era formado por:
Henry Corbin,
Mircea Eliade,
Gilbert Durand,
Joseph Campbell,
Haya Kawai,
Karl Kerenyi,
Laurens Van Der Post,
Gershom Sholer,
D. T. Suzuki,
Victor Zukerkandl,
Heinrich Zimmer.
Fontes:
Revista Anthropos, nº 154.
Enciclopédia Livre,
www.adepac.org
O círculo teve seu gérmem através da paixão quee Olga Froebe-Kapteyn (1881-1962), grande erudita de ascendência inglesa, nutria pela manifestação do sagrado e consequentemente por seu estudo. A primeira reunião ocorreu num momento de crasso anacronismo político no cenário mundial. Não obstante uma série de avanços nas áreas das ciencias humanas, a sociedade amargava um período de intensa inconsistência bélica, a saber, o nacionalismo facista e o marxismo comunista. Foi neste clima funesto de intrigas políticas que em 1933 o círculo se reuniu pela primeira vez.
A palavra "eranos", de origem grega, significa "comida em comum". A própria etimologia da palavra aponta para o motivo de tão conspícua reunião, quiçá, uma reflexão pungente no campo dos conflitos ideológicos que grassavam a sociedade de então. Ademais, o pano de fundo teórico também não dispensava o arquétipo supracultural que a hermeneutica de então trazia a tona, fruto da discussão que emergia dos citados campos de estudo que emblemavam os componentes do círculo.
Destarte, o círculo também tinha como meta a aproximação epistemológica dos vários ramos do estudo do sagrado, fato que legitimava o símbolo escolhido por seus componentes, a saber, o deus pagão Hermes, o qual significa a conjunção de caminhos opostos. Tal conjunção de caminhos ambicionava a manifestação de um sentido para as irrupções arquétipas por meio de uma hermeneutica simbólica. Sendo esta a principal atuação do círculo.
Após 1933, as reuniões cotinuaram a acontecer uma vez por ano sempre no mês de Agosto e perduraram por, pelo menos; 70 anos, quando vieram a se extinguir. A cada ano um novo tema era proposto e cada participante tinha oportunidade de se manifestar e expor suas idéias, contribuindo, desta forma, para o "banquete de idéias".
O Círculo de Eranos é seguramente o mais notável dos grupos que já surgiu nestes moldes, a revelia de meu interesse pelo tema, tenho neste seleto grupo boa parte de meus teóricos favoritos, e, não obstante o fato deles estarem sendo lembrados neste texto in memorian, ressalto a relevância que cada um deles, em seus respectivos campos de pesquisa, trouxeram para o desenvolvimento da humanidade em geral.
O Círculo de Eranos, com mais algumas peças (que infelizmente não foram contemporaneas dos fatos), seria, a meu ver, uma espécie real do que chamaria de "Banquete".
O grupo original era formado por:
Henry Corbin,
Mircea Eliade,
Gilbert Durand,
Joseph Campbell,
Haya Kawai,
Karl Kerenyi,
Laurens Van Der Post,
Gershom Sholer,
D. T. Suzuki,
Victor Zukerkandl,
Heinrich Zimmer.
Fontes:
Revista Anthropos, nº 154.
Enciclopédia Livre,
www.adepac.org
sexta-feira, 13 de maio de 2011
MINHAS IMPRESSÕES SOBRE JOSEPH CAMPBELL, E O PODER DO MITO
Sendo uma das maiores autoridades do mundo em mitologia, Joseph Campbell nos legou um exemplo insofismável de que mente e coração podem, perfeitamente, andarem juntos. Novaiorquino de nascimento (1904), Campbell cresceu numa cidade interiorana e teve acesso a todas as benesses oriundas do poder aquisitivo da então emergente classe média. Desde tenra idade, o frágil Campbell sempre se mostrou suscetível a história e ao conhecimento popular de sua época, se interessando por contos folclóricos e, sobretudo, pela história dos índios que antecederam os primeiros ingleses a aportar no "Novo Mundo".
A partir de então, o mito e todas as suas implicações se amalgamaram de maneira tão pungente a vida do jovem Campbell que, não mais o deixaram até o dia de sua morte (1987). Para ele, mitologia não era um tatalar de histórias fictícias e incongruentes, não era a apelação objetiva de uma "ciência" emergente e, até então, aparentemente sem objeto, mas, o descobrir de uma "épica aventura".
Para Campbell, mitos deveriam ser estudados por pessoas apaixonadas e altruítas, pessoas que tivessem sensibilidade para sentir a brisa que emanava do Egeu durante as viagens de Odisseu, que sentíssem o respirar ofegante de Hércules em meio a seus exóticos "trabalhos", que perdessem o fôlego na fúria de Posseidon, que sentíssem o cheiro das matas intocadas dos muitos mitos nativos dos índios espalhados pelas américas, que preferissem sede excruciante a se dobrar ao Ente, que se deleitassem nas doces águas de Emnemosine, e que jamais perdessem o gosto por uma nova aventura [...]. Esse, em minha humilde opinião, seria, na perspectiva de Joseph Campbell, o perfil de alguém que gostasse de mitologia.
Destarte, em seu opúsculo "O Herói de Mil Faces", Campbell nos conduz aos sonhos que jazem nas mentes daqueles que se recusam a perder de vista a natureza lúdica da vida. Daqueles que insistem em não se render perante o secularismo ceticista que impimge nas mentes de nossos jovens a equivocada idéia de que mito e falácia são sinônimos. Nas páginas deste ditoso livro ovacionado pelo campo da fenomenologia, é possivle se ouvir um grito latente que se manifesta nos dizeres: "Fora com um pensamento assim tão pobre de espírito; tão vazio de vida". Não obstante serem os mitos, culturalmente falando, os balizadores do desenvolvimento social de todas as culturas hodiernas.
Ademais, falar de mito para Campbell era falar de vocação, dizia ele:
"Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida - Você não precisa de mitologia. Acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito sem ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas, você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?"
Resposta, melhorará a sua vida! Lhe dará novos óculos para ver o mundo! Este é o poder do mito.
A partir de então, o mito e todas as suas implicações se amalgamaram de maneira tão pungente a vida do jovem Campbell que, não mais o deixaram até o dia de sua morte (1987). Para ele, mitologia não era um tatalar de histórias fictícias e incongruentes, não era a apelação objetiva de uma "ciência" emergente e, até então, aparentemente sem objeto, mas, o descobrir de uma "épica aventura".
Para Campbell, mitos deveriam ser estudados por pessoas apaixonadas e altruítas, pessoas que tivessem sensibilidade para sentir a brisa que emanava do Egeu durante as viagens de Odisseu, que sentíssem o respirar ofegante de Hércules em meio a seus exóticos "trabalhos", que perdessem o fôlego na fúria de Posseidon, que sentíssem o cheiro das matas intocadas dos muitos mitos nativos dos índios espalhados pelas américas, que preferissem sede excruciante a se dobrar ao Ente, que se deleitassem nas doces águas de Emnemosine, e que jamais perdessem o gosto por uma nova aventura [...]. Esse, em minha humilde opinião, seria, na perspectiva de Joseph Campbell, o perfil de alguém que gostasse de mitologia.
Destarte, em seu opúsculo "O Herói de Mil Faces", Campbell nos conduz aos sonhos que jazem nas mentes daqueles que se recusam a perder de vista a natureza lúdica da vida. Daqueles que insistem em não se render perante o secularismo ceticista que impimge nas mentes de nossos jovens a equivocada idéia de que mito e falácia são sinônimos. Nas páginas deste ditoso livro ovacionado pelo campo da fenomenologia, é possivle se ouvir um grito latente que se manifesta nos dizeres: "Fora com um pensamento assim tão pobre de espírito; tão vazio de vida". Não obstante serem os mitos, culturalmente falando, os balizadores do desenvolvimento social de todas as culturas hodiernas.
Ademais, falar de mito para Campbell era falar de vocação, dizia ele:
"Vá em frente, viva a sua vida, é uma boa vida - Você não precisa de mitologia. Acredito que se possa ter interesse por um assunto só porque alguém diz que isso é importante. Acredito sem ser capturado pelo assunto, de uma maneira ou de outra. Mas, você poderá descobrir que, com uma introdução apropriada, o mito é capaz de capturá-lo. E então, o que ele poderá fazer por você, caso o capture de fato?"
Resposta, melhorará a sua vida! Lhe dará novos óculos para ver o mundo! Este é o poder do mito.
Não obstante, amiúde a idéia de "história fictícia" a que estamos acostumados e, corroborando a posição de Campbell, Mircea Eliade (1907-1986), acredita que o mito precisa ser estudado como uma "verdade". Não a sua verdade necessariamente, ou mesmo a verdade de sua cultura, mas, sobretudo, uma verdade que você precisa alcançar, compreender e respeitar. Opino que este posicionamento de Eliade, em pleno despertar do pensamento contextualizado do século XX, revolucionou a academia.
Ato contínuo, analisando conjuntamente as perspectivas destes diletos autores, percebo um "divisor de águas" no campo da contextualização bíblica. É indubitável a mudança de foco que estes argumentos produzem em nosso entendimento de comunicação cultural. Neste íterim, o missionário (comunicador) deixa de ser um espécie de destruidor cultural das sociedades que deseja alcançar, e passa a ser um estudioso de verdades que, se bem aplicadas, produziram uma ponte sólida para que o evangelho possa transformar sem, necessariamente, mutilar. Nas palavras de Campbell, "mitos são pistas para as potencialidades espirituais da vida humana".
A bem da verdade, é cedo para percebermos porosamente as mudanças que tenho objetado. Entretanto, o momento é alvissareiro.
Finalmente, num mundo em que os novos heróis estão morrendo de inanição, que fique claro a todos as culturas a laboriosa contribuição de Joseph Campbell ao estudo do homem e suas implicações culturais e metafísicas. São pessoas da estirpe de Campbell, que nos asseguram que a beleza dos contos jamais se perderão, enquanto jovens idealistas houver. Eu creio em heróis!
Enciclopédia Livre
O Poder do Mito, Joseph Campbell
O Herói de Mil Faces, Joseph Campbell
Marcadores:
Biografias,
História,
Livros,
Mitologia
segunda-feira, 9 de maio de 2011
UMA MENTE A SERVIÇO DO REINO, WILLIAM TYNDALE
Servo extritamente abnegado e de uma piedade peculiar, assim resumiria William Tyndale (1484-1536). Tyndale nasceu em Gloucestershire, Grã Bretanha, num período em que a verdade das Escrituras encontrava-se obscurecida pela ostentação e pela falibilidade da igreja católica - até então detentora suprema da "interpretação" bíblica. Poderosamente influenciado pelos ideais reformados, Tyndale foi o homem utilizado por Deus para colocar a Bíblia nas "mãos" do povo de fala inglesa.
Em meados do século XVI, pós reforma protestante, era lastimável a situação espiritual que grassava o Reino Unido e partes da Europa. As pessoas viviam em polvorosa a procura de orientação espiritual, ambicionando paz para suas vidas carcomidas pelo medo da morte e do inferno, os quais, tendo em vista as péssimas condições de vida da época, eram assuntos sempre recorrentes.
Amiúde a pobreza crônica da época, os sacerdotes, descendentes diretos do "legado apostólico", viviam de ostentação e luxúria, pouco se importando com a realidade do povo. Ademais, a obscuridade da época e a sempre presente incerteza espiritual, fazia com que o povo, hávido por segurança, se submetesse a todos os caprichos do clero, os quais, variavam desde grandes penitencias místicas, até a venda de indulgências e salvo condutos do limbo, purgatório, e, até mesmo do próprio inferno.
Toda e qualquer pessoa que se insurgisse contra este funesto comércio era prontamente perseguida (vide reforma). As penas, geralmente oriundas do que seria conhecido posteriormente como Tribunal do Santo Ofício, variavam entre flagelos, votos de silêncio, excomunhão e, não poucas vezes, até a morte. O clima era de total desassossego. Muitos mártires surgiram neste período de crasso anacronismo no seio da Igreja Cristã.
Destarte, foi neste clima de incertezas e desconfianças que uma das mentes mais brilhantes da história do cristianismo entrou em cena. Mestre em Artes pela Universidade de Oxford e um dos mais proeminentes acadêmicos ingleses, William Tyndale, insurgiu-se contra a política obscurantista da igreja da época e, contra todos os reveses que lhe foram impingidos pelo sistema, intentou e corajosamente conseguiu fazer com que "os camponeses conhecessem a Bíblia melhor que muitos clérigos", sendo providencialmente ajudado pela utilização da imprensa.
Respirando ameaças e a própria morte, Tyndale, que a princípio iniciou o trabalho de tradução da Bíblia ainda na Inglaterra, por causa da perseguição que lhe seguiu, teve que refugiar-se na Bélgica. Por muito tempo foi alvo do ódio oriundo de Henrique VIII que, grosso modo, enamorado por Ana Bolein, apenas abstraía em Tyndale seu exdrúxulo modo de viver. Foram muitos dias de exílio e solidão em prol de um ditoso e glorioso ideal, os quais resultaram numa das mais belas traduções da Bíblia para língua inglesa.
Nos diz a história - conforme é pacífico - que após uma emboscada das mais vis, Tyndale finalmente foi preso e levado manietado até ao tribunal, onde tenazmente recebeu a sentença de morte, sendo executado na fogueira em meados de 1536.
Finalmente, como um humilde adimirador dos grandes exegetas e tradutores bíblicos, tenho em Tyndale o expemplo de um grande estadista do Reino. Exímio conhecedor do grego e profundo conhecedor do que ficou conhecido como novo ingês, este homem piedoso nos deixou um poderoso legado de abnegação e amor pelas Sagradas Escrituras. Sobretudo por suas últimas palavras, proferidas ao então monarca que beligerantemente ordenou sua execução, "Senhor, abre os olhos do rei da Inglaterra".
Infelizmente, Tyndale não sobreviveu para ver o cumprimento de sua oração, concretizada cerca de um ano após sua morte, quando o puzilânime Henrique VIII, autorizou a publicação e consequente averbação da Bíblia de Tyndale como texto oficial da nova Igreja da Inglaterra.
Fontes:
Filme, O Fora da Lei de Deus.
Assinar:
Postagens (Atom)