sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A SECA NO SERTÃO

O que fazer diante disso?

Caros irmãos em Cristo,

Gostaríamos de pedir sua ajuda e suas orações para esta situação de emergência.

Desde o ano passado a Missão Juvep tem atuado junto aos Quilombolas (remanescentes de escravos) de Santa Teresinha (PE), através das missionárias Vilma e Bebel.
A seca este ano tem castigado duramente esse povoado, que tem sido esquecido pelo poder público. São aproximadamente 1.500 pessoas padecendo praticamente sem assistência!
A situação é gravíssima, como descrito no e-mail da missionária:


Olá irmãos, graça e paz
Estou vos escrevendo porque há um pedido urgente de oração é que o poço que o pessoal da Vila pegava água para beber e cozinhar secou, eles estão desesperados, pois só resta a ÁGUA VERDE e FEDIDA, CHEIRO PURA FOSSA e o povo já está adoecendo devido as bactérias que há na água.
Continuem orando pelos demais pedidos como pelos novos convertidos por mais conversões, pelos trabalhos, por mim, meu ministério, saúde...

Um grande abraço.
No amor de CRISTO,
Vilma.

O que fazer diante disso?
O plano da Juvep é:

1) Abastecer o povoado com 2 carros pipa por semana, o suficiente para beber e cozinhar, durante 3 meses.
Cada carro pipa tem capacidade para 7.000 litros de água, ao custo de R$ 120,00.

2) Viabilizar a construção de um poço profundo, no valor de R$ 10.000,00, que inclui perfuração e todos os equipamentos

3) Viabilizar o conserto da barragem do povoado, o que auxiliaria o abastecimento nos próximos anos, ao custo estimado de R$ 8.000,00

Como ajudar?
O orçamento estimado de acordo com as ações acima é de R$ 21.360,00.
Para ofertar, deposite a quantia que Deus lhe orientar, na seguinte conta bancária:

Missão Juvep
Caixa Econômica Federal
ag 0036
op 013
cc 317988-3

Que o amor que podemos expressar em nossos gestos em favor desse povo possam amolecer seus corações e abrir as portas para que o evangelho de Cristo entre!
Coloque os quilombolas de Santa Teresinha em sua agenda de oração!
Muito obrigado!!

A coordenação do Departamento de Desenvolvimento Comunitário da Missão Juvep
Marcio Sato
Tel: (83) 9630-1042 (83)32482095
 
OBS.: Artigo Publicado no site da Missão Juvep http://www.juvep.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=440:o-que-fazer-diante-disso&catid=34:institucional compartilhando para oração e atuação.
 
Equipe Supracultural Este endereço de e-mail está protegido contra SpamBots. Você precisa ter o JavaScript habilitado para vê-lo.

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

EVOLUCIONISMO CULTURAL, Celso Castro


EVOLUCIONISMO CULTURAL

Uma breve biografia dos principais autores:
 
LEWIS MORGAN

     Nasceu em 1918 em Nova Iorque. Profundo conhecedor das tribos iroqueses, estudou-as profundamente. Sua especialidade fora “parentesco”, com o livro “Sistemas de consangüinidade e afinidade da família humana” o maior e mais caro livro até então publicado pela Smithsonian Institution. Morgan chegou ã conclusão de que havia apenas dois sistemas de terminologia de parentesco, fundamentalmente diferentes: um descritivo (do hemisfério sul, tropical e claramente não-europeu) e outro classificatório (da Europa e do noroeste asiático).

Depois publica o “Castor americano e suas obras”. Contudo, seu opúsculo fora “Sociedade Antiga”, No livro, Morgan estudou os estágios de progresso da sociedade humana através da análise de cinco casos exemplares: os aborígines australianos, os índios iroqueses, os astecas, os gregos e os romanos. O desenvolvimento da idéia de propriedade teria sido, na interpretação de Morgan, o processo decisivo para o surgimento da civilização. Com o livro, Morgan tornou-se internacionalmente conhecido (embora também bastante criticado) e o principal expoente da antropologia nos Estados Unidos. Toda uma geração de jovens interessados na disciplina passou a procurá-lo em sua casa em Rochester. Este livro que influenciou profundamente Marx e Engels. Morreu em 1881.

EDWARD BURNETT TYLOR

     Pai do conceito moderno de cultura e do conceito de anima na natureza. Nasceu em 1832. O primeiro livro publicado pelo mesmo fora Anahuac: ou, México, antigo e moderno. Depois publicou Pesquisas sobre a antiga história da humanidade e o desenvolvimento da civilização. Sua obra principal fora “Cultura Primitiva: pesquisa sobre o desenvolvimento da mitologia, religião, linguagem, arte e cultura”.

Tylor é por muitos considerado o pai da antropologia cultural por ter dado pela primeira vez uma definição formal de cultura, na frase que abre Cultura primitiva — cujo primeiro capítulo, "A ciência da cultura", foi incluído nesta coletânea: "Cultura ou Civilização, tomada em seu mais amplo sentido etnográfico, é aquele todo complexo que inclui conhecimento, crença, arte, moral, lei, costume e quaisquer outras capacidades e hábitos adquiridos pelo homem na condição de membro da sociedade."

Em 1883, após terem sido feitas reformas universitárias na Grã-Bretanha, Tylor afinal pôde ser nomeado para um cargo público, tornando-se conservador (Keeper) do museu da Universidade de Oxford (atualmente, Museu Pitt-Rivers). Já era considerado a maior autoridade britânica em antropologia, razão pela qual tornou-se, no ano seguinte, o primeiro presidente da recém-criada Seção Antropológica da BAAS. Foi também, por duas vezes, presidente do Royal Anthropological Institute. Ainda em 1884, tornou-se o primeiro Leitor (.Reader) de Antropologia de Oxford e da Grã-Bretanha, e em 1896, Professor, o grau mais elevado da vida acadêmica britânica (equivalente ao professor titular no Brasil).

Foi tido como o maior antropólogo inglês, vindo a receber o título de “Sir”. Morreu em 1917 aos 84 anos.

JAMES GEORGE FRASER


     Nasceu na Escócia em 1854, estudou na Universidade de Glasgow, mudando-se depois para o Trinity College em Cambridge do qual jamais se desligou por toda a vida – o mesmo fora bolsista vitalício sem ônus. O mesmo fora um profundo conhecedor dos clássicos gregos e latinos, conhecendo os mesmos no original. Sua maior obra fora o “Ramo de Ouro”. O mesmo foi o primeiro acadêmico da antropologia a ocupar uma cátedra universitária – Universidade de Liverpool. Morreu em 1931, após receber o título honoris causa da Sorbone. Em 1922, iniciaram-se as Frazer Lectures [Conferências Frazer], realizadas anualmente até hoje, num regime de rodízio, pelas universidades de Glasgow, Cambridge, Oxford e Liverpool, com a participação dos antropólogos mais eminentes.

     Aqui um pequeno trecho do Ramo de Ouro:

Através de uma aplicação do método comparativo, creio poder demonstrar ser provável que o sacerdote representou em sua pessoa o deus do bosque — Virbius — e que seu sacrifício foi visto como a morte do deus. Isso levanta a questão sobre o significado do difundido costume de se matar homens e animais vistos como divinos... O Ramo de Ouro, creio poder demonstrar, era o visco, e toda a lenda pode, creio, ser posta em conexão, por um lado, com a reverência druídica pelo visco e os sacrifícios humanos que acompanhavam seu culto; e, por outro lado, com a lenda nórdica da morte de Balder. O que quer que se pense das teorias [do livro] descobrirão que ele contém um grande estoque de costumes muito curiosos, muitos dos quais podem ser novidade mesmo para antropólogos reconhecidos. A semelhança de muitos desses costumes e idéias selvagens com as doutrinas fundamentais da Cristandade é admirável. Mas não faço referência a esse paralelismo, deixando que meus leitores tirem suas próprias conclusões, de uma maneira ou de outra.

     Sua última obra fora Folclore no Antigo Testamento, publicado em 1918.

TEORIA EVOLUCIONISTA

O postulado básico do evolucionismo em sua fase clássica era, portanto, que, em todas as partes do mundo, a sociedade humana teria se desenvolvido em estágios sucessivos e obrigatórios, numa trajetória basicamente unilinear e ascendente. A possibilidade lógica oposta, de que teria havido uma degenera- ção ou decadência a partir de um estado superior — idéia que tinha por base uma interpretação bíblica — precisava ser descartada, como se poderá ver nos textos aqui reunidos. Toda a humanidade deveria passar pelos mesmos estágios, seguindo uma direção que ia do mais simples ao mais complexo, do mais indiferenciado ao mais diferenciado.

O caminho da evolução seria, nas palavras de Morgan, natural e necessário: "Como a humanidade foi uma só na origem, sua trajetória tem sido essencialmente uma, seguindo por canais diferentes, mas uniformes, em todos os continentes, e muito semelhantes em todas as tribos e nações da humanidade que se encontram no mesmo status de desenvolvimento."

Como decorrência da visão de um único caminho evolutivo humano, os povos "não-ocidentais", "selvagens" ou "tradicionais" existentes no mundo contemporâneo eram vistos como uma espécie de "museu vivo" da história humana — representantes de etapas anteriores da trajetória universal do homem rumo à condição dos povos mais "avançados"; como exemplos vivos daquilo "que já fomos um dia". Para Frazer, "o selvagem é um documento humano, um registro dos esforços do homem para se elevar acima do nível da besta".

Os pressupostos evolucionistas foram muito criticados, nas duas primeiras décadas do século XX, por antropólogos que preferiam explicar a questão da diversidade cultural humana através da idéia de difusão, e não da de evolução. Para a chamada escola difusionista, a ocorrência de elementos culturais semelhantes em duas regiões geograficamente afastadasdas não seria prova da existência de um único e mesmo caminho evolutivo, como pensavam os evolucionistas; o pressuposto difusionista, diante do mesmo fato, era que deveria ter ocorrido a difusão de elementos culturais entre esses mesmos lugares (por comércio, guerra, viagens ou quaisquer outros meios).

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

DÁ-NOS A PARAÍBA, SENHOR!


Não há como fazer uma simples oração como esta e não nos lembrarmos do servo do Senhor, John Knox. Há muito tempo atrás era esta a oração que o homem de Deus fazia ao retornar ao seu país – Escócia – após um período de aprendizado na Escola de Teologia de Genebra – que Knox chamou de a mais perfeita escola de Cristo desde os tempos apostólicos –, a qual era liderada por João Calvino.
Nestes últimos meses esta oração não sai de minha mente e coração, “dá-nos a Paraíba, Senhor!”. Em pouco mais de sete meses já podemos contar com algumas igrejas inauguradas e muitos Conselhos Missionários em pleno funcionamento. O último, por exemplo, ocorreu na cidade de João Pessoa, e muitos foram os sinais da presença de Deus naquele lugar ao longo de todo o evento missionário que ocorreu ali. Agora, o Senhor nos conduz a mais um desafio. Desta vez, o alvo de nossa saga missionária será a cidade de Alagoa Grande, mais precisamente a igreja OBPC que se reúne naquela cidade sob a liderança do Pr. Gilbemar.
Destarte, todos os contatos já foram feitos e os preparativos se encontram encaminhados, se Deus permitir, no próximo dia 20 deste mês, mais uma caravana partirá da cidade de Campina Grande para juntos com os amados da igreja local, somarmos forças na iminência de sermos uma pungente resposta a expectativa de Deus de “fulgurar a sua glória e fazer conhecido o seu nome até os confins da Terra”.
Pois é amados. Estas são apenas algumas das maravilhas que Deus tem realizado em nossas vidas e ministérios. Contudo, alguns desafios ainda insistem em nos preocupar, se bem que a nossa força está no Senhor. Um destes desafios, por exemplo, é o fato de algumas de nossas igrejas ainda não terem se envolvido na obra de missões, o que não apenas têm sobrecarregado as demais igrejas, como também, tem contribuído para dificuldade de se conseguir os recursos necessários a todos os projetos que estão sendo desenvolvidos e que, pela infinita misericórdia de Deus, tem tomado proporções que estão surpreendendo a todos. Outro desafio tem sido auxiliar as igrejas recém-visitadas pelo projeto de Implantação de Conselhos Missionários a permaneceram firmes na seara missionária, uma vez que as investidas do exército inimigo tem tentado minar as forças daqueles que tão zelosamente estão se mobilizando “no Nome do Senhor”. Mas, quanto a isso não há com o que se preocupar, pois, “maior é o que está conosco do que o que está com o mundo”. Existem ainda outras questões, mas, a meu ver, estas são as principais.
Não obstante, o Deus Todo Poderoso “é bom, é fortaleza no dia da angústia e conhece os que nele se refugiam”. Digo isto porque outro dia estive visitando um irmão e este me levou ao seu quarto de oração e me mostrou um mapa da Paraíba estendido, sob o qual o mesmo tem orado insistentemente, da seguinte forma:
            Dá-nos a Paraíba, Senhor!
No mesmo instante Deus me transportou em meus pensamentos a antiga Escócia de John Knox e me fez lembrar das maravilhas realizadas ali, e, com um cicio, declarou-me:
            Eu, o Senhor, não mudo” Ml 3.6
Pr. Jamerson Lopes do Nascimento
Departamento de Missões Estaduais

 
           Campina Grande, Outubro de 2012.

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

CURSO DE EVANGELISMO CONTEXTUALIZADO [3ª parte]


Parte

Baseado no Evangelho de João 4.31-45





Compreendendo o Propósito de Cristo


     1 – Porque Viajar por Território Samaritano, e Quanto a Sicar?

Neste ponto, gostaria de abrir um pequeno parêntese e comentar um pouco da intenção de Jesus em enviar os discípulos a Sicar. O mesmo orgulho que precisava ser trabalhado na vida da samaritana, precisava também ser arraigado da vida dos próprios discípulos.


Assim, Jesus, entrevendo o que aconteceria numa exótica visita destes a uma cidade samaritana, sem delongas, os enviou. Imaginemos a cena dos discípulos numa das “bodegas” samaritanas tendo que conversar com o comerciante? Imagine ainda os semblantes de ambos, judeus e samaritanos, se entreolhando pelas ruas empoeiradas da humilde cidade? Não seria preciso tanta imaginação para divisarmos os semblantes carregados num misto de reserva e repulsa, que os impelia a, o quanto antes, deixar aquela inditosa cidade e retornar, “incontaminados”, a presença do Mestre.
    

     A – A Verdadeira Postura de Um Cristão Frente ao Campo Missionário

O fato é que, enfim, eles retornaram: “Nesse ínterim, os discípulos lhe rogavam dizendo: Mestre, come! Mas ele lhes disse: Uma comida tenho para comer, que vós não conheceis. Diziam, então, os discípulos uns aos outros: Ter-lhe-ia, porventura, alguém trazido o que comer?” (V 31-33).


     Jesus, através da visita realizada pelos discípulos, procurava “abrir-lhes os olhos” para necessidade de perceberem seu ministério transcultural. Queria fazer com que os mesmos percebessem nos samaritanos, vidas que precisavam das Boas Novas trazidas pelo Mestre, todavia, eles não compreenderam esta sublime verdade, que como sempre, estava sendo ensinada por Jesus nas entrelinhas de sua vida cotidiana. Com as palavras “uma comida tenho para comer, que vós não conheceis” em resposta a pergunta feita pelos discípulos, Jesus nos deixa isto muito claro. Poderíamos conjecturar as palavras de Jesus: “vocês ainda não conhecem minhas verdadeiras necessidades, o teor da minha missão”.


     Ora, conforme percebemos em toda narrativa a respeito da missão do Cristo, a ambição deste sempre foi cumprir sua missão pré-estabelecida pelo Deus Pai, a qual seja se revelar ao homem conduzindo-o a reconciliação eterna. Observe: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra”. E, nesta obra de restaurar o homem a presença de Deus, os samaritanos, sim, “até eles”, para espanto dos judeus, estavam também inclusos. Algo que foi poderosamente expressado pelo Senhor Jesus num dos exemplos mais bonitos de toda a narrativa bíblica.


     B – O Ponto de Pior Compreensão da Igreja!


     Lembre-se que a mulher samaritana tinha abandonado o cântaro e corrido para anunciar aos seus conterrâneos o encontro que tivera com o Cristo, pois é ela tinha logrado êxito em seu “frenético evangelismo” e uma multidão a acompanhava para ver de fato o que estava acontecendo[1]. É neste ponto que Jesus reúne os discípulos em torno de si e nos dá um profundo exemplo da importância contextual do Evangelho para sua perfeita compreensão: “Não dizeis vós que ainda há quatro meses até à ceifa? Eu, porém, vos digo: erguei os olhos e vede os campos, pois, já branquejam para a ceifa” (V35).


     Os samaritanos, vindo ter com Jesus, no movimento natural do caminhar, mais pareciam com um campo de trigo quando açoitado pelo vento. Jesus se utilizou desta semelhança para criar uma ponte que melhor permitisse aos discípulos compreender o que Ele estava dizendo.


Ele dizia, Levantai os vossos olhos, olhem para os samaritanos que caminham até nós, vocês não dizem que eles não estão maduros (não são dignos) para o Reino de Deus, eis que Eu vos digo, observem melhor, pois, os campos (os samaritanos) já branquejam para ceifa (procuram desesperadamente a salvação).


Que exemplo belíssimo! Agora eles entendiam o por que de viajar por caminho, outrora, tão inditoso; entendiam o porque do convívio provocado por Jesus quando os enviou a Sicar; entendiam porque Jesus, para escândalo de qualquer “Rabino”, estava conversando com uma mulher samaritana. A resposta agora era óbvia: Os samaritanos também faziam parte do Reino de Deus!

     C – O Resultado de um Evangelismo Contextualizado

Nos versículos que seguem (36-38) o Senhor continua por ensinar a matemática da ceifa, os trabalhos realizados pelo que lança semente (evangeliza em solo ainda não semeado) e do colhe o fruto de seu trabalho (aquele que acolhe os que reconhecem a Jesus como Senhor) mostrando que tanto um como o outro, entesouram para a vida eterna. No caso, a samaritana havia plantado, e dentro em breve, eles estariam colhendo.  Isto sim é uma aula de cristianismo!


     Muitos samaritanos daquela cidade creram nele” (V41). Tanto o testemunho da mulher, como o convívio com Jesus e os discípulos, agora sim comunicadores, contribuíram para que muitos recebessem a Cristo como Salvador e tivessem suas vidas transformadas sem prejuízo algum a sua raça, a sua história, a sua cultura. O que prova que não é o evangelista que “retira as arestas” e sim a Palavra de Deus no trabalhar do Espírito Santo.

E Agora, Qual Será sua Postura Frente à Obra de Evangelização/Missionária?


     Consideração Finais


     Não restam dúvidas quanto à urgência de se comunicar a todas as etnias um evangelho verdadeiramente pertinente e significativo. Contudo, assim como ocorria com os discípulos que não compreendiam o amor que Deus sentia pelos samaritanos, também agora o povo de Deus tem evitado “passar por território samaritano” e com isso a causa de missões tem perecido.     Nossa intenção é levantar um povo cada vez mais parecido com Jesus, um povo amante dos perdidos, daqueles que vivem num mundo de trevas destituídos do evangelho santíssimo. Entretanto, a luta tem sido árdua, são muitas as dificuldades e, como fora dito, o campo é enorme e “branqueja para ceifa”. Portanto, que todos nós, ao término de mais este estudo, possamos parar um pouco em nossa vida e em nossos próprios projetos, para ouvirmos uma voz que continua a clamar:


A quem enviarei, e quem há de ir por nós?”
Is 6.8b

    
     Juntem-se a nossa igreja em resposta, nós já ouvimos essa voz...



[1] Todos somos salvos para salvar, quem não se compromete com a causa missionária deve urgentemente repensar sua salvação.

sábado, 4 de agosto de 2012

CURSO DE EVANGELISMO CONTEXTUALIZADO [2ª parte]


Parte


Baseado no Evangelho de João 4.19-29


Conceituando a segunda parte

           


          1 – Cosmovisão[1] Samaritana


     A – Uma Abordagem Fenomenológica – A Ideia de Templo
 

     Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6b).


     O profeta Zacarias (520 a.C.), contemporâneo mais jovem do profeta Ageu (520 a.C.), assim como este último, foi incumbido pelo Senhor de induzir o povo à “reconstruir o Templo”. Segundo Shedd, “A mensagem escrita de Zacarias, forma um significativo elo entre os profetas anteriores, a cujo ministério ele se refere e as fases posteriores da obra redentora de Deus, sobre a qual o seu livro presta tão eloquente testemunho”. Segundo se depreende, o elo a que se faz referência diz respeito à posição que o Templo ocupava na adoração do povo, fato que norteava a premissa de sua reconstrução e todo o empenho por parte daqueles responsáveis por esta tarefa.


     Segundo Mircea Eliade, um dos mais influentes estudiosos da religião do século XX, não apenas em culturas específicas (como a israelita), mas em todas as demais (mesmo que com centros e/ou objetos de adoração diversos), o templo, ou melhor, as hierofanias (algo de sagrado que se nos revela), representam para os povos (que podem ou não variar em termos de desenvolvimento cultural), uma ruptura no espaço cósmico (mundo), fato que provoca uma separação (limiar), entre o espaço sagrado e o profano. Daí a importante posição que os centros de adoração ocupam na identidade cultural de todos os povos, pois, o homem religioso (em todos os tempos) é sedento do ser (sagrado). Eliade, vai ainda mais longe em seu pensamento a respeito da posição do sagrado na vida dos povos ao dizer que “é graças ao templo (a manifestação do sagrado) que o mundo é ressantificado em sua totalidade”.


     “Uma vez perdido contato com o transcendente, a existência no mundo já não é possível”, por causa disso, o templo é tão importante, pois, denota singularidade num mundo onde “o sagrado e o profano constituem duas modalidades de ser” (Eliade).


     B – O Fenômeno Religioso Aplicado ao Texto


     Vislumbrado a importância do local de adoração para implementação da identidade cultural dos povos, passemos outra vez a analisar o texto extraído do Livro do Profeta Zacarias. Ele diz, “não por poder, mas pelo Espírito”. Com esta sentença, conforme mencionei acima, percebemos a semelhança entre o pensamento de Zacarias e o tratar de Jesus em relação à mulher samaritana.


     No diálogo que estamos analisando (Jo 4.1-42), ficou óbvio que o Mestre sempre procurou esclarecer a mulher através da atuação maravilhosa do Espírito Santo, e nunca, através do poder de sua possível “ascendência cultural”, ou de qualquer outro meio que não fosse pelo Espírito; fato que não somente válida, mas também especifica o teor da comunicação em contexto intercultural, o qual seria, “Pregai o Evangelho”. Além disso, tanto um (Isaías) como outro (Jesus) procuravam a “Reconstrução do Templo”, todavia, este que agora era pregado pelo Senhor Jesus, não seria reconstruído por mãos humanas (At 17.24), mas, a semelhança do primeiro, seria o local de habitação do Espírito de Deus (I Co 3.16; 6.19).


     Jesus estava nos revelando que cada ser humano (desde que presente em seu Corpo (Rm 8.9), seria Templo e morada do Espírito Santo, fato que expandiria o “local de culto” e ressantificaria (reorganizaria) um mundo que jaz no maligno (I Jo 5.19). Jesus implementava a “otimização” da luta contra o caos através de embaixadas (Templos Humanos) espalhadas por todo o mundo, as quais, representariam a presença d’Ele em todo lugar e funcionariam como uma tocha acesa em meio à escuridão, como o sal que não permitiria que o mundo de resto apodrecesse.


     Jesus comissionava à humanidade para que, com a mensagem supracultural do evangelho, funcionassem como “A Solução para o Caos!”.


OBS.: Uma vez compreendida a relação entre o texto de Zacarias e a nova proposta de Jesus em relação ao “Templo”, voltemos ao texto do Evangelho de João.



     A Verdadeira Adoração


     Ora, percebemos a relevância da “abordagem contextualizada” de Jesus através do progresso conseguido em tão pouco tempo de conversa. Lembre que no princípio do diálogo, conforme mencionamos, a mulher começa por tratar ao Senhor Jesus tão somente como um simples judeu. A seguir, após mais um momento de conversa ela já o trata como Senhor, e por fim, ponto que da início a análise do diálogo neste segundo momento, ela o chama de “Profeta”.


Neste ponto, voltemos ao texto.


     2 – O Poder Esclarecedor do Evangelho


     Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta” (V19). Essa foi à resposta da samaritana após a breve e esclarecedora observação do Mestre a respeito de sua vida particular. Jesus, em seu comentário, toca num ponto delicado da vida daquela mulher (sua situação conjugal) e a faz perceber a singularidade de sua pessoa. Como a postura assumida por Jesus denotava uma poderosa autoridade espiritual (algo raro naquela região), a mulher não perdeu tempo, e numa última tentativa de fazer surgir do coração de Jesus o possível “leão cultural” até então “adormecido” (fato que justificaria o questionamento, e que no “pensamento da mulher” revelaria de uma vez por todas o caráter de Jesus), fez o seguinte comentário, na esperança de super aguçar até o mais comedido de todos os judeus, “Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar” (V20).


     A – Nós Somos Convocados a Evangelizar, Não a Discutir[2]


     Obviamente ela estava muito interessada em ouvir a opinião de Jesus a respeito desta “disputa cultural” que ao longo dos anos já contava com a morte de inúmeras pessoas que, em seu zelo desmedido, já haviam ultrapassado todos os limites possíveis (Josefo). A grande questão em torno deste tema seria: Afinal, qual dos dois montes realmente seria o mais santo, Gerisim ou Ebal? Com esta indagação, a samaritana achava que estava preparada a arena para mais uma batalha entre uma e outra cultura. Mas, inevitavelmente, ela mais uma vez ouviu uma poderosa resposta de Jesus.


     Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são esses que o pai procura para seus adoradores. Deus é Espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade” (V 21-24).  

     B – Por que a Questão do Templo era tão Importante?


Desde muito antes e, a época deste diálogo, à “supremacia cultural” de cada povo estava intimamente relacionada à área de atuação que o seu deus controlava e ao poder de que este deus dispunha para, em tempo oportuno, livrar o povo que o adorava de possíveis inimigos (e ainda não é?).


Quem possuía o deus mais poderoso inevitavelmente era o povo mais forte, e essa particularidade norteava toda a vida social em praticamente todas as culturas. A intenção dos samaritanos era se tornar melhor que os judeus por serem o povo que detinham o verdadeiro local de “atuação e habitação” do Senhor (o templo de Gerisim), enquanto que os judeus pensavam exatamente o contrário (com seu templo no Ebal, Jerusalém). Percebe-se então, que com esta pergunta, o objetivo da samaritana era reacender a chama desta disputa.
    

     C – A Poderosa Aplicação Cultural de Cristo


Todavia, segundo Champlin, “a resposta dada por Jesus declarou a abolição da adoração sectarista, a derrubada de bandeiras religiosas, a remoção de reivindicações rivais do meio da adoração verdadeira, sem importar se essas reivindicações são judaicas ou samaritanas. O verdadeiro centro da adoração não era nem um monte e nem um templo, mais sim, uma pessoa – O Cristo”.


Cristo teria a missão de remir “pessoas de todos os povos” (Ap 5.9-10), o que “seria suficiente para destruir todas as barreiras que os homens teriam construído para satisfazer o seu orgulho nacionalista” e sectarista. 


A resposta de Jesus apontava para uma adoração que não precisaria de bandeiras, que não estaria restrita aos templos suntuosos construídos pelos homens, que viria como a mais poderosa resposta às barreiras culturais que separavam os povos e funcionaria como o mais poderoso símbolo da unidade, pois, os seus adoradores estariam todos habitando num mesmo corpo, reunidos em um único propósito; o qual seria: Adorar ao Deus todo poderoso de maneira que os pressupostos culturais não mais os separariam, pois, adorariam em “Espírito e em verdade”.


     Jesus transferia a autoridade (criada pelos homens) dos templos construídos em todas as culturas e a depositava sobre a vida das pessoas (esse é o sentido de reconstrução fomentada por Cristo a que me referia acima), acabava com os entreveros culturais que visavam supremacia e nivelava todos os homens à unidade (transformando-os em embaixadores do céu).                  


3 – O Evangelho é Supracultural


A – O Evangelho está Acima dos Usos e Costumes Humanos!


Ele disse: “Deus é espírito”. Com esta sentença, Ele afirmava que Deus não estava sujeito às estruturas, as formas, aos tipos, as cores, aos ritos, aos costumes ou a qualquer outro tipo de capricho humano. Segundo Champlin, o fato de Deus, conforme citação de seu Filho, “não possuir corpo físico, subtende, sim, até mesmo requer, que ele seja adorado de maneira não corpórea (não quero dizer com esta citação fora do corpo e sim sem a necessidade de estruturas humanas)”. Jesus descortinava diante daquela mulher uma verdade sempre presente nas Escrituras, mas até então mal compreendida pelos homens, uma realidade espiritual que estava acima de todas as culturas, um Evangelho supracultural.


     Com esta belíssima declaração, Jesus procurou retirar do homem toda reserva cultural que tanto o afligia, direcionando de uma vez por todas o foco de nosso verdadeiro ataque, o qual não poderia ser melhor definido se não nas palavras inspiradas do Apóstolo Paulo, “porque a nossa luta não é contra o sangue e a carne, e sim contra os principados e potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal, nas regiões celestes” (Ef 6.12). E trazia, segundo Bosch, os outrora não-humanos samaritanos a romper com o fundamentalismo judaico tradicional. Saciava dentro do homem, a sede do ser.

     B – O Evangelho como Destruidor das Barreiras Culturais


A última resposta dada pela mulher samaritana em nada tem haver com as primeiras. Ela não foi evasiva ou procurou desviar o foco da conversa através de seu sarcasmo. Mas, conforme Jesus pretendia desde o princípio, ela desvendara algo de melhor que havia em seu ser, e, numa resposta que denota uma profunda reflexão mística e religiosa em tudo quanto vinha sendo exposto por Jesus, ela replica: “Eu sei, que há de vir o Messias, chamado Cristo, quando ele vier, nos anunciará todas as coisas” (V 25).     Este “nos anunciará”, plural, que englobava nas palavras da própria samaritana até os inditosos judeus (pelo menos até agora), já nos descortina algo que fluía desde o mais profundo do seu ser, algo que denotava uma transformação não antes possível à mente mais otimista, um homem, enviado pelo Deus Todo Poderoso, que, até aos olhos da sectária samaritana, poderia por termo a esta nefasta barreira que os separava.
    

     C – A Importância da Aplicação do Conhecimento Cultural na Comunicação do evangelho


É fato conhecido que a adoração samaritana baseava-se tão somente na Torá, o conjunto de cinco Livros da Lei judaica escritos por Moisés. Jesus sabia que a mulher que conversava com Ele, e que ansiava pela revelação do Messias, conhecia muito bem cada sentença contida em cada um daqueles livros, principalmente as que faziam menção ao tão conhecido diálogo entre Jeová e Moisés, quando este era comissionado a libertar o povo das mãos de Faraó. 


Assim, numa sentença que serviu como um divisor de águas na vida daquela humilde mulher, Jesus, em alusão à resposta dada por Deus em referência a sua identidade indagada por Moisés, asseverou nas mesmas palavras tão caras ao coração daquela mulher: “Eu Sou, eu que falo contigo” (V 26).  Segundo Timóteo Carriker, a utilização por parte de Jesus do nome “Eu Sou”, sugere uma presença salvífica que, no próprio nome, Jesus pode ousar e aceitar em usar como dele próprio”.

     D – A Perfeita Adaptação da Mensagem, O Ouvinte como Comunicador


Diante disso, a reação da samaritana esboçada num misto de espanto e alegria estampados em seu rosto pálido era algo tão patente, que os discípulos que acabavam de voltar de sua épica viagem a Sicar, não ousaram perguntar o que estava acontecendo, embora estivessem espantados de Jesus estar conversando com uma mulher, “e pior” samaritana.


A mulher, maravilhada com o que se realizara em sua vida (graças ao Evangelho contextualizado pregado por Jesus), abandonou o seu cântaro junto à fonte, e a plenos pulmões voltou a Sicar, gritando a quem encontrava pelo caminho, “Vinde comigo e vede um homem que me disse tudo quanto tinha feito. Será este, por ventura, o Cristo? Saíram, pois, da cidade e vieram ter com ele” (v 29-30).


[1] Cosmovisão é um conjunto de suposições e crenças que alguém usa para interpretar e formar opiniões acerca da sua humanidade, propósito de vida, deveres no mundo, responsabilidades para com a família, interpretação da verdade, questões sociais, etc
[2] No sentido de perder o foco do Evangelho com discussões que em nada somam a vida das pessoas e ao Reino de Deus. Mas que apenas insuflam o ego.

terça-feira, 24 de julho de 2012

CURSO DE EVANGELISMO CONTEXTUALIZADO [1ª parte]



      O curso que ora apresentamos ambiciona preparar a igreja para a prática do evangelismo bíblico que leve em consideração o contexto cultural/social em que o ouvinte do evangelho esteja inserido.

     Para tanto, estaremos utilizando a passagem do Evangelho de João, capítulo 4, como texto base para nossas aulas. Sendo assim, nossa oração é para que ao término deste curso, a igreja esteja preparada para comunicar o evangelho de maneira pertinente e significativa, vivendo o Reino de Deus conforme o evangelho de Cristo.

    
JESUS E O PROBLEMA SAMARITANO


Parte


Baseado no Evangelho de João 4.1-18


     Entendendo o Contexto


1 – O Evangelho é para todos?


Desde que aprouve a Deus manifestar-se ao homem, sempre ficou claro que Ele era Senhor sobre Todos os Povos. Segundo o profeta Isaías (49.6) eramuito pouco para o servo (Jesus), restaurar (apenas) as tribos de Jacó e tornar a trazer os remanescentes de Israel, (assim) Ele também é luz para os gentios, e salvação até os confins da terra”. Todas as nações são alvo da proclamação do Evangelho, cada uma delas precisa desesperadamente de luz para lhes tirar das trevas do maligno e de sabor (do sal) para as vidas que não possuem mais prazer em existir.


2 – Porque escolher como base João capítulo 4?


Escolhemos o texto de João 4, por causa da premissa - que todas as culturas anseiam pela Palavra – ensinada através dele por Jesus.

Ora, mesmo o Senhor desenvolvendo um poderoso ministério na Judéia, (pois fazia e batizava mais discípulos que João 4.1), nos diz o relato que ele retornou mais uma vez para Galiléia. É nesta viagem de volta que começa o trabalhar de Jesus para, a princípio, nos ensinar a dimensão de nossaParóquia”, e em seguida, arrancar de nós todo e qualquer tipo de “reserva culturalque nos impeça de comunicar o evangelho. Uma vez que, “a missão de Jesus não se reduziu a cruzar barreiras geográficas. Jesus também atravessou barreiras sociais, incluindo alguns segmentos da sociedade antes negligenciados” (Carriker 2005).

Isto fica bastante claro quando analisamos o texto escolhido, pois, como é do conhecimento de todos, os judeus odiavam poderosamente os samaritanos e estes, os judeus. Jesus insistiu em viajar justamente por entre os assais inimigos de seu povo para que, através desta viajem, os mesmos compreendessem que Jesus é Rei sobre todos os povos[1] e, que mesmo para os samaritanos agora tão odiados, havia a possibilidade de salvação propiciada pelo Evangelho.


     3 – De onde vem o ódio dos judeus pelos samaritanos?


Diz o texto do evangelho citado que era necessário, para se viajar da Judéia para Galiléia, atravessar a província de Samaria. Ora, judeus e samaritanos se odiavam, num cisma que grassava as duas províncias desde a época da “caldeação” de um povo misto trazido pelos assírios com o que restou das Dez Tribos do Norte ao final da investida Assíria com Sargão II, que culminou com o desaparecimento das Tribos do Norte (721 a.C). Este fato histórico ficou muito bem fundamentado no trecho de II Reis 17.24-41, vejamos:


O rei da Assíria trouxe gente de Babilônia, de Cuta, de Ava, de Hamate e de Sefarvaim e a fez habitar nas cidades de Samaria, em lugar dos filhos de Israel; tomaram posse de Samaria e habitaram nas suas cidades. A princípio, quando passaram a habitar ali, não temeram o Senhor; então, mandou o Senhor para o meio deles leões, os quais mataram a alguns do povo. Pelo que se disse ao rei da Assíria: As gentes que transportaste e fizeste habitar nas cidades de Samaria não sabem a maneira de servir o deus da terra; por isso, enviou ele leões para o meio delas, os quais as matam, porque não sabem como servir o deus da terra. Então, o rei da Assíria mandou dizer: Levai para um dos sacerdotes que de trouxestes; que ele vá, e habite, e lhes ensine a maneira de servir o deus da terra. Foi, pois, um dos sacerdotes que haviam levado de Samaria, e habitou em Betel, e lhes ensinava como deviam temer o Senhor. Porém cada nação fez ainda os seus próprios deuses nas cidades em que habitava, e os puseram nos santuários dos altos que os samaritanos tinham feito. Os de Babilônia fizeram Sucote-Benote; os de Cuta fizeram Nergal; os de Hamate fizeram Asima; os aveus fizeram Nibaz e Tartaque; e os sefarvitas queimavam seus filhos a Adrameleque e a Anameleque, deuses de Sefarvaim. Mas temiam também ao Senhor; dentre os do povo constituíram sacerdotes dos lugares altos, os quais oficiavam a favor deles nos santuários dos altos. De maneira que temiam o Senhor e, ao mesmo tempo, serviam aos seus próprios deuses, segundo o costume das nações dentre as quais tinham sido transportados (...) . Assim, estas nações temiam o Senhor e serviam as suas próprias imagens de escultura; como fizeram seus pais, assim fazem também seus filhos e os filhos de seus filhos, até ao dia de hoje.


     Percebe-se ainda que esta intriga agravou-se ainda mais quando o Reino do Sul foi levado para Babilônia por Nabucodonozor (605 a.C.), pois, com a saída dos judeus que habitavam Jerusalém, os samaritanos (agora misturados a outras raças) obtiveram imensa liberdade, que perdurou até o surgimento de Ciro (539 a.C), quando este, ao conquistar a Babilônia, permitiu que os Judeus e seus sucessores retornassem a Jerusalém (535-445 a.C.), com ênfase na reconstrução do Templo e dos muros da cidade, fato que causou certo repúdio nas pessoas de Sambalate, Tobias e Gesem. Pois, estes quiseram impedir a reconstrução (Ne 4 e 6).

     Foi o ressurgimento de Jerusalém como a cidade do Grande Rei (Adonai), que fez com que a comunicação com os “impuros” e caldeados samaritanos (na visão agora zelosa do novo judeu que voltava do exílio) diminuísse ainda mais, fato que provocou uma multiplicação da imensa rivalidade existente.

     Na tentativa de melhor expormos esta disputa cultural, e a proporção calamitosa que tomou, pouco poderíamos somar ao comentário de Enéas Tognini (1980):


Maior se tornou à rivalidade quando Esdras (Es 9, 10) admoestou os sacerdotes a deixarem as mulheres estrangeiras. Muitos deles não aceitaram o conselho de Esdras. Um desses sacerdotes era genro de Sambalate e não querendo repudiar a mulher foi abrigar-se em Samaria e seu sogro prometeu-lhe construir um templo em Gerisim e ele seria , não mero sacerdote, mas Sumo-Sacerdote. Aceitou a proposta. O templo foi construído e ele investido na sua função. O ódio cresceu ainda mais quando João Hircano (130 a.C.) destruiu o templo de Gerisim. Herodes, o grande, construí-lhes outro templo (25 a.C.); não lhes agradou, nem mesmo chegaram a usar, por não ter sido construído no monte Gerisim. De tal maneira se acentuaram as rivalidades, que os judeus consideravam os samaritanos como cães. Os samaritanos eram imundos para os judeus. Não tinham o mínimo acesso ao Templo de Jerusalém.            


Com este breve panorama histórico do ódio que separava judeus e samaritanos, percebemos a “ousadia” de Jesus em não viajar pela Peréia, como costumeiramente faziam os viajores judeus para não passar por solo samaritano. Antes, viajando justamente por Samaria. Assim, diante desta decisão, eu até imagino a disposição dos discípulos, quando ouviram de Jesus que iriam justamente por solotão inditoso”. Que lição maravilhosa de que não se trata de quem queremos evangelizar e sim de quem precisa ser evangelizado, de que não importa a dificuldade cultural, ou os empecilhos físicos, temporais e espirituais, no pensamento de Jesus e nas palavras do brilhante missionário[2]: “uma alma vale mais que o mundo inteiro!”.



     A Comunicação da Mensagem



1ºMomento: O Choque Cultural


     A – Pregar é comunicar o Evangelho, não a nossa cultura!


O sol assumia sua posição mais imponente, o calor por aquelas paragens era exorbitante. Numa atitude que denota perfeitamente sua humanidade, Jesus, próximo de uma das cidades samaritanas chamada Sicar, assentou-se junto à Fonte de Jacó para descansar. “Nisto veio uma mulher samaritana tirar água. Disse-lhe Jesus: dá-me de beber”(V7).

     Antes de entrar no mérito do diálogo no mínimo exótico que se iniciava, gostaria de chamar-lhes atenção para a sentença seguinte: “pois os discípulos tinham ido a cidade comprar alimentos”(V8). Ora, era fato digno de nota um grupo de judeus estarem em pleno solo samaritano, como se não bastasse, Jesus, indo mais além em sua tentativa de “abrir os olhos” dos discípulos, os impele a ir até uma “cidade samaritana”. Não é difícil imaginar os comentários que regavam aquela caminhada tão difícil: “ vamos porque é ordem do mestre!”.

O fato é que Jesus estava prestes a trabalhar o caráter daquela mulher samaritana, ensinando-a que Ele é senhor sobre todos os povos, entretanto, simultaneamente, Ele queria a mesma coisa para os seus discípulos, pois, era notório que aquela barreira cultural também os afligia e infelizmente concorria para não comunicação do Evangelho. Ora, isto Jesus nunca permitiria, pois, não importando as insólitas questões culturais que separam os homens, o evangelho jamais poderá sofrer com isso, pois, ele é supracultural, urgente a todos os povos. E os discípulos, mas do que ninguém precisavam entender esta verdade! (A continuação veremos na parte 2)


     B – O Choque cultural como fruto do etnocentrismo


Continuando, a barreira cultural a que me referi, e que expressa muito bem o ódio que se nomeava entre aquelas duas culturas, fica patente na declaração da orgulhosa samaritana: “Como sendo tu judeu, pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana?”(V9). Observe que ela faz pouco caso de Jesus, e numa sentença rápida trata-o friamente como umsimples judeu”.

O etnocentrismo é justamente uma “visão do mundo” onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são pensados e sentidos através dos nossos valores, nossos modelos, nossas definições do que é a existência. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensarmos a diferença; no plano afetivo, como sentimentos de estranheza, medo, hostilidade, etc. Perguntar sobre o que é etnocentrismo é, pois, indagar sobre um fenômeno onde se misturam tanto elementos intelectuais e racionais quanto elementos emocionais e afetivos. No etnocentrismo, estes dois planos do espírito humano – sentimento e pensamento – vão juntos compondo um fenômeno não apenas fortemente arraigado na história das sociedades como também facilmente encontrável no dia-a-dia das nossas vidas.

Todavia, mesmo diante desta atitude preconceituosa e mal educada da samaritana, a resposta de Jesus, como sempre, provoca uma reação inesperada: “Se conheceras o dom de Deus e quem é o que te pede: dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva”(V10).


2º Momento: A Dificuldade na Comunicação


A – A Autoridade Necessária a Comunicação é Laboriosa


Estas palavras caíram como que um raio no coração daquela mulher, algo que fica óbvio, observando-se sua resposta: “Senhor, tu não tens com que a tirar, e o poço é fundo; onde, pois, tens a água viva? És tu, porventura, maior que Jacó, o nosso pai, que nos deu o poço, do qual ele mesmo bebeu, e, bem assim, seus filhos, e seu gado?”(V11-12).

     A princípio, como tínhamos mencionado, aquela mulher referiu-se a Jesus apenas como judeu (iudo), entretanto, quando Jesus a olhou e disse que se ela ao menos soubesse do presente que estava prestes a receber, e quem era que falava com ela, ela não estaria naquele “pedestal”, mas, estaria disposta a assumir a posição de serva e lhe pediria à água que lhe beneficiaria eternamente.

Ao ouvir isso a mulher não responde de maneira evasiva, mas, (mesmo surpresa pelo fato de um homem, e este judeu, estar conversando com ela), por causa da autoridade e amor com que Jesus lhe respondeu, ela retruca, senhor (kurios) tu não tens com que tirar – a astúcia aqui é algo impressionante, ela via em Jesus um homem diferente, porém, as experiências passadas não a permitiam uma confiança mais fácil, e num tom sobremodo sarcástico indaga a Jesus a respeito de sua totaldesprovidade de ferramentaspara lhe dar a água de que falara; lembrando-lhe ainda do possível risco em que incorria ao, de certa forma, procurar se igualar a Jacó, o idealizador daquele tanque.

     Talvez passasse pela cabeça daquela orgulhosa mulher: “ora, ele não tem balde, nem corda, nem carrega nada consigo. Como pode ele me prometer algo de que não dispõe de meio algum para cumprir?” E num insigth finalizou: “com certeza ele procura me ludibriar, para assim, conseguir a água de que precisa”.

Mal ela havia finalizado seu pensamento, Jesus a responde com a precisão de um exímio cirurgião que de maneira precisa abre caminho para o seu objetivo: “Quem beber desta água tornará a ter sede; aquele, porém, que beber da água que eu lhe der nunca mais terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der será nele uma fonte a jorrar para a vida eterna”.



     Que maneira humilde de responder a mulher, que este que agora falava, era superior a Jacó!  
  

     B – Não Importa qual seja a Cultura, O Evangelho Denunciará o Pecado


     Mas, ao que perece, além de cética, aquela mulher sofria de “sarcasmo crônico” (salientando ainda que ela mal podia engolir a simples presença de Jesus, lembra-se, ele é judeu) e sem perca de tempo responde: ”Senhor, dá-me dessa água para que eu não mais tenha sede, nem precise vir aqui buscá-la”(V15).

Em todo o relato que se tem até aqui, a samaritana jamais se abriu ao dialogo, mas sempre se posicionava numa posição em que observava ao Senhor Jesus do alto, sobre os auspícios de sua enorme altivez e de seu zelo samaritano. Agora, todavia, ela pedia a Jesus esta sublime água de que o mesmo falara, e numa sentença digna de nota (como sempre) Jesus, sem delongas, a tira de seu infortúnio pedestal, mostrando-lhe a urgência de uma novidade de vida, e ao mesmo tempo, mostrando-lhe que sua cultura, mesmo tida em tão alta estima, no que diz respeito a sua vida eterna, não lhe beneficiara em nada, como rapidamente ela percebeu com esta ordenança: “Vai, chama teu marido e vem ”(V16).
    

C – Para que haja comunicação intercultural eficaz, é preciso que haja conhecimento cultural prévio


Segundo Champlin (2002), uma conversa que visava um simples copo com água era algo corriqueiro entre viajante e nativo (mesmo este sendo uma mulher. vide Jó 22.7, Pv 25.21), entretanto, para qualquer outro tipo de negócio (no caso Jesus era quem oferecia a água) um homem (que detivesse autoridade sobre a mulher) deveria se fazer presente. Jesus conhecia muito bem esta tradição, bem como a situação conjugal daquela mulher, que não era das melhores (uma pergunta sabia física e espiritualmente). Ora, sendo Jesus o próprio Deus, ele sabia exatamente a real situação da samaritana, contudo, o simples examinar das circunstâncias que norteavam a conversa bastaria para esclarecer que ela passava por algum tipo de infortúnio (contextualização crítica).

Vejamos, era ora sexta – como se diz aqui no Nordeste “O Pingo do Meio-Dia” –, quando os raios solares caem quase que perpendicularmente ao continente, a hora mais inóspita de todas para um serviço como o que ela estava desenvolvendo. Mas, por que ela estava ali? Com certeza, conforme tradição cultural da época, sua vida conjugal inadequada a separava do convívio comum com as demais mulheres, por isso, ela não vinha ao poço junto com as outras como era comum naquelas paragens (Champlin 2002), mas, sozinha, condoendo-se em seu presente obtuso.


     D – É o Evangelho quem Confronta o Ouvinte, não o Evangelista!


     Após esta pergunta contundente, enfim a verdade brota dos lábios da mulher: “Não tenho marido”. Ao que lhe respondeu Jesus com a autoridade de sempre: “Bem disseste, não tenho marido; porque cinco maridos tiveste, e este que agora tens não é teu marido; isto disseste com verdade”(V17-18).

     A mulher pediu a Jesus a água da vida, com esta resposta Jesus começara a “cavar o poço”, ou seja, trabalhar o seu caráter, que por sua vez, se encontrava simbolizado no solo pedregoso do seu coração! Com a expressão cavar o poço (para melhor compreensão), perceba que Jesus procurava abrir os olhos da mulher para sua real situação (contextualização), não se tratava de supremacia cultural, de um simples capricho humano, mas do seu futuro eterno. A comunicação do evangelho para salvação daquela mulher sempre foi o objetivo de Jesus em toda esta conversa. Algo que ficou muito bem comunicado nas palavras de Champlin (2002):


Jesus tocou na ferida de sua vida, expondo aos seus olhos a culpa, e isso foi o primeiro passo concreto para cura de sua alma. Mediante um lance de olhos profético em sua vida privada tão vergonhosa, que após cinco casamentos sucessivos culminara em sua atual relação ilegítima, imediatamente ele afetou a consciência dela e desafiou a que ela deveria depositar nele. A convicção de pecado é a primeira condição indispensável para o perdão e é mesmo o princípio da conversa.


Jesus, em momento algum perdeu tempo com comunicação de cultura (Lausanne 1978), a despeito das investidas preconceituosas da mulher, mas, preocupou-se em comunicar o evangelho de maneira pertinente e significativa. Em parâmetros culturais que fizessem sentido aquela mulher, que a fizessem compreender a profundidade da mensagem, conforme continuaremos a ver.




[1] Vide Apocalipse 5.1-10
[2] LIDÓRIO, Ronaldo Com a Mão no Arado, pensando a vida cumprindo a missão.