sábado, 2 de julho de 2011

AMY CARMICHAEL, UM EXEMPLO DE CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA

Amy Carmichael (1868-1951), foi uma missionária de ascêndencia européia que marcou indelevelmente a história das missões cristãs em solo asiático. Nascida numa pequena vila na Irlanda no Norte, Amy era a filha mais velha do casal David e Catherine Carmichael, um casal de cristãos presbiterianos.

Em tenra infância a pequena Amy sonhava em ter "olhos azuis", assim como os demais membros de sua família. Ela não conseguia acreditar no fato de não possuir os tão desejados olhos azuis. Certo dia, em sua inocência de criança, Amy se recostou em sua cama e proferiu uma singela oração a Deus - "Senhor, quando eu acordar pela amanhã, faça com que tenha olhos azuis... amém!". Todavia, quando em fim o sol libertou os primeiros raios do dia que se avizinhava, a surpresa - Amy continuava com seus meigos olhinhos castanhos.

A menina, a princípio, não conseguiu conter a resignação que instava em sua mente juvenil. A pergunta que grassava seu coração era: Por que Deus não atendeu ao meu pedido, por que Ele não atendeu minha oração - eu pedi com tanta fé? A garotinha de olhos escuros compartilhou com sua mãe o sentimento que lhe combalia a alma e pesava a mente. Qual não foi sua supresa ao ouvir a resposta advinda de sua querida mãe: Minha filha, Deus também atua através de um não.

Alguns anos depois, Amy contraiu um sério problema de saúde. A enfermidade foi diagnosticada como neuralgia, segundo se sabe, tal enfermidade lhe impingia fortes dores pelo corpo a ponto de lhe fazer convalescer por semanas a fio. Destarte, por suas características físicas, Amy jamais seria aceita por qualquer agência missionária, as quais, no período em questão, possuíam um rígido programa de seleção de candidatos ao campo. Entretanto, mesmo que com uma compleição física tão frágil, Deus tinha grandes planos para vida de Amy.

Desta forma, o ano em que o Senhor começou a mudar as coisas foi o de 1887. O grande desbravador do "interior da China", Hudson Taylor, se recuperava fisicamente na europa para retornar ao seu amado campo missionário; quando fora convidado para falar sobre "Como é a vida missionária" no programa que ficou onhecido nos anais da história como  a Convenção de Keswick (1887). A palestra deixou a jovem Amy sensilvelmente impactada, de modo que a partir dali, ela resolveu se entregar completamente nos braços de Cristo e servir como missionária.

O Senhor abençoou o desejo que fruía do coração de Amy e lhe deu forças para o programa missionário, de modo que ela veio a ser cosiderada apta. O primeiro campo em que Amy fora designada era asiático, embora não fosse especificamente a parte da Ásia em que Deus queria que ela estivesse - se tratava do Japão. Ela ficara cerca de quinze meses na terra do sol nascente, contudo, sentia que aquele ainda não era o "seu local", e, ao fim deste período, se transferiu para o que seria a terra em que lutaria e consumaria sua vida pela causa de Cristo - sua amada Índia.

Uma vez lá, ela se filiou a missão "Zenana da igreja da Inglaterra" e passou a trabalhar com crianças descendentes de pais pobres (miseráveis), os quais, tinham como costume, "vender" seus filhos (dálits) no local conhecido funestamente como "Mercado de Crianças". Em se chegando neste tosco mercado, as crianças tinham os mais variados destinos. As mesmas podiam ser vendidas como mercadoria para troca, para serviços forçados em lavouras ou comércios, para trabalhos domésticos, e, principalmente, em se tratando de meninas, para exploração sexual. Amy ficou profundamente tocada com esta terrível situação enfrentada pelas crianças, de modo que resolveu fundar a "Dohnavur Fellowship". O trabalho desta mulher virtuosa era notável; Amy "comprava" as crianças e as conduzia carinhosamente a seu orfanato (que também funcionava como hospital) transformando através da Palavra de Deus o triste destino dessas crianças, lhes propiciando uma chance de ter uma vida feliz.

Neste ponto, adentramos no assunto que deixou esta grande missionária tão conhecida. Para ter acesso as crianças e finalmente comprá-las, Amy tinha que contextualizar-se. A mesme era européia, tinha pele clara e o comportamento natural de seu país. Não obstante, para conseguir vencer as barreiras culturais que lhe separavam de suas amadas crianças, Amy se vestia como as demais mulheres indianas, se comportava como tal, e, pintava sua pele clara com "pó de café", o qual lhe garantia a cor que precisava para passar desapercebida como indiana no Mercado de Crianças. Segundo consta, Amy chegava a viajar centenas de quilômetros nas estradas inóspitas da Índia para comprar uma criança. O ponto é que se Deus tivesse lhe dado os olhos azuis que ela tanto desejava, Amy estaria completamente impedida de se passar por uma mulher local e finalmente salvar seus amados pequeninos. Ademais, como sua mãe bem lhe ensinou, Deus também trabalha através de um não.

Desta forma, gostaria de lhes chamar atenção para o comportamento de Amy. Como missionária, ela sabia que tinha de transmitir o evangelho de maneira pertinente e significativa, através de símbolos culturais que fossem próximos a realidade indiana, mas que não tivessem qualquer associação a parâmetros sincréticos, de modo que a mensagem do evangelho não viesse a ser comprometida nem diluída pelos mesmos. Talvez o contato que Amy teve com Hudson Taylor tenha contribuído muito para isso, uma vez que, ele ficou muito conhecido nos círculos da época por viver contextualizadamente como chinês (ficamos devendo algo mais específico sobre Hudson) revolucionando, por assim dizer, o comportamento evangelical de sua época.

Portanto, mesmo com seu caráter supracultural, o evangelho precisa ser apregoado através de ferramentas que lhe propiciem os meios necessários para sua compreensão. Boa parte das empreitadas missionárias que foram frustradas ao longo dos anos possuem forte tendência a má contextualização. A bem da verdade, sabemos que o maior incentivador e mantenedor de missões é o próprio Espírito de Deus, no entanto, o próprio Deus "não teve como usurpação o ser igual"; e a si mesmo se esvaziou para nos comunicar sua mensagem da maneira mais perceptível possível - contextualizada. Por esvaziar, entendemos a capacidade que Deus possui de se fazer compreendido e não diminuído. Sendo esta a bandeira que as missões modernas têm levantado.

Finalmente, louvo a Deus por exemplos como o de Amy Carmichael, uma mulher piedosa que fez de sua vida um farol que conduzia e protegia as crianças indefesas da Índia. Um legado poderoso e um exmplo formidável para nossa geração. Amy veio a falecer na Índia - o país que ela amava e pelo qual deu sua vida - com cerca de 83 anos de idade. Após complicações oriundas de uma queda sofrida. Ela chegou a escrever 35 livros cristãos, sendo uma escritora prolífica. Uma vez indagada por uma jovem sobre como era ser uma missionária, asseverou: "A vida missionária é simplesmente uma forma de morrer". Ainda em vida, Amy pediu a seus amigos para não colocarem nada em sua lápide, ao invés disso, suas crianças escreveram "Amma" que em dialeto Tamil significa mãe.

Por tudo isso, muito obrigado - olhos azuis.

 

3 comentários:

Fabricio Santos disse...

Muito bom Professor Jamerson, fiquei entusiasmado ao ver um final tão maravilhoso, e segundo a vontade de Deus. Por muitas vezes não compreendemos a Sua vontade, mas ela é essencial, e tem um fim desejado. continue com seus artigos exelentes, Deus abençoe sua mente santa sempre...

adriano canuto disse...

Foi C H Spurgeon que disse ao seu filho: “Meu filho, se Deus te chamou para ser missionário, eu ficaria triste ao ver-te ser reduzido a um rei.” Spurgeon

adriano canuto disse...

Foi C H Spurgeon que disse ao seu filho: “Meu filho, se Deus te chamou para ser missionário, eu ficaria triste ao ver-te ser reduzido a um rei.” Spurgeon