terça-feira, 19 de julho de 2011

A MEDIAÇÃO CULTURAL COMO LOCUS METODOLÓGICO

Há algum tempo (eu) não era, de fato, persuadido por um livro que trata-se de teologia (pura). Não que os escritos não fossem excelentes, eles eram. No entanto, sempre me via entrementes a uma leitura, no mínimo, redundante. Todos sabemos que diuturnamente livros de "teologia sistemática" fluem aos borbotões nos prelos das editoras. Não obstante, os mesmos brotarem maiêuticos, regados a idéias originais e temas "relevantes", a tônica, sinceramente, é repetitiva.

Dias atrás, revirando alguns escritos que constavam na minha "insistente" lista de leitura, deparei-me, não euforicamente, com mais uma sistemática. Como o alfarrábio tinha surgido como presente de um amigo por demais estimado, resolvi, folheá-lo. Tratava-se da "Teologia Sistemática no Horizonte Pós-Moderno", um novo lugar para a linguagem teológica. O autor, Alessandro Rocha, o meio Editora Vida.

Sendo assim, amiúde tantos "só menos", imaginem qual não foi minha surpresa ao me deparar, ainda na introdução, com um pensamento desta natureza, "... a teologia sistemática manualística vive um momento de esgotamento de sentido, em que a fé cristã se restringe a repetição dogmática de reflexões histórico-sociais do passado, vimos a necessidade de abordar criticamente a "gestação" dos métodos e situá-los como construtos sociais". Resultado, enfim uma leitura sitemático/teológica sobejamente original - que benção, havia ganhado um livro genial!

Desta forma, em se considerando a proposta deste espaço, compartilho um trecho do livro, em que o Reverendo Alessandro discorre sobre "A mediação cultural como locus metodológico". Mas, o que vem a ser isto?

Alessandro pressupõe que em se tratando de cognoscibilidade a fórmula que sobresta experimentalmente nossa apreensão mística seria: Experiência de Fé --> Mediação Cultural --> Discurso Sistemático. Destarte, uma vez dirimida a fórmula, a "Mediação Cultural" - que é a parte que nos interessa - seria o meio inteligível em que aquilo que está no campo das idéias (metafísico/lógico) a "Experiência de Fé" seria posto de maneira cognoscível, através de símbolos conhecidos (sistema linguístico), fazendo com que tal experiência - sendo depreendida pelo receptor e posteriormente repassada - se tornasse um "Discurso Sistemático" (oragnizado culturalmente).

Ademais, sem a mediação cultural seria inevitável uma "polarização entre experiência de fé e discurso sistemático, uma incomunicabilidade que inviabilizaria qualquer discurso minimamente relevante. Sem mediação cultural, a experiência da fé não transmitiria nenhum sentido existencial, e o discurso sistemático não passaria de peça literária cristalizada". Sendo esta, portanto, a relevância contextual da mediação cultural.

Indubitável a importância da elaboração de um método de acesso a experiência da fé, para apropriação do discurso sitemático/teológico. Seria este o zênite do pensamento de Alessandro Rocha. Em sua palavras, "a mediação cultural é a parteira que arranca das entranhas da experiência da fé aquilo que virá a ser discurso sistemático". Percebam, que tal mediação não pode ser outra, se não, nossa própria língua local. Em nosso caso, a "última flor do lácio". Ademais, a língua, com toda sua relevância cultural, fulcrada na imarcessível característica supracultural do evangelho; funciona como uma espécie de chave hermenêutica para compreensão da experiência da fé, ou seja, para comunicação do evangelho de maneira contextualizada.

O autor, chama atenção para o fato de que a comunicação não pode ser relegada a segundo plano, uma vez que a mesma resume o que seria compreendido inteligivelmente por pessoa - homem/mulher - apontando para sua concretude, enquanto ser (figura epistemológica). Segundo Alessandro, "o grande desafio que se propoẽ à teologia e ao discurso que a quer comunicar é o de anunciar a homens e mulheres concretos, não à humanidade como categoria universal e genérica, aquilo que se mostra de forma hierofânica e indizível". Ainda segundo Rocha, no que tange ao discurso teológico, "o desafio não consiste apenas em comunicar esse fato (incogniscível), o que já seria complexo, mas comunicá-lo na dimensão do horizonte existencial daquele e daquela que constituem sujeitos históricos desse processo, dos que habitam um mundo particular".

Por tudo isso, a contextualização é de fundamental importância, uma vez que ela coloca em termos perceptíveis e concretos - culturalmente falando - uma verdade até então completamente desconhecida. Nas palavras de Libânio, "a comunidade na pessoa do teólogo (comunicador) cria a teologia, e a teologia, por sua vez, cria a comunidade com sua linguagem".

Portanto, conforme o autor, "pode-se afirmar que é no espaço da mediação cultural que os métodos são criados - andaimes ou pontes que possibilitam falar o indizível da experiência da fé para atender ao imperativo da necessidade/desafio que dela se deriva". Assim, é pacífico o entendimento que estabelece a contextualização bíblica como fundamental para perfeita comunicação do evangelho. No caso em questão, a sentença utilizada para rememorar a conotação da mesma foi "Meio Cultural", contudo, nada que desabone as caracteríticas fundamentais do ditame - absolutamente.

Finalmente, como mencionei à princípio, me encontrei felizmente surpreendido com a relevância da pena do Reverendo Alessandro Rocha. Se bem que o âmago do texto é uma crítica a maneira cristalizada com que pensamos/fazemos teologia com arrimo na cultura helênica clássica - fato que nos impede aprioristicamente de pensarmos nossa própria teologia pelos motivos exposados no texto - recomendo a leitura do mesmo como farol que nos ilumina a uma crítica sóbria no que tange a necessidade premente de "um novo lugar para a linguagem teológica".

Em se tratando da relevância dos aspectos contextuais e fenomenológicos para comunicação do evangelho, diria:

Enfim um "grande livro", fundado numa bela tese, relevante. Recomendo!


Rocha, Alessandro Rodrigues
Teologia Sistemática no horizonte pós-moderno: um novo lugar para a linguagem teológica - São Paulo: Editora Vida, 2007.   

Nenhum comentário: