quinta-feira, 5 de novembro de 2009

A CONTEXTUALIZAÇÃO BÍBLICA

Temos que ter o cuidado, conforme nos fala Nicholls (1983), de não dar uma ênfase exagerada no homem e sua cultura, mas apenas naquilo que é inerente à comunicação do evangelho. Ou seja, precisamos ter o cuidado de não colocar a cultura acima da Palavra de Deus, bem como não utilizar todas as reminiscências culturais como pontes para comunicação do evangelho, uma vez que, assim como toda criação, a cultura também foi corrompida quando da queda do homem tendo áreas que louvam a Deus e outras que não, precisando-se, portanto, de critérios para comunicação da mensagem.

O termo “Contextualização” surgiu pela primeira vez nos círculos do CMI, e só depois, segundo Bárbara Burns (2007), começou a ser usado pelos evangélicos , mais precisamente, no Pacto do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, na Suíça, em 1974, que rejeitou a então postura do CMI que progressivamente aceitou o humanismo secular na sua teologia e prática cristã, bem como a um ecumenismo sem critérios bíblicos, fato que descaracterizou o cristianismo genuíno, outrora praticado e fomentou o surgimento de uma Contextualização Bíblica. O Pacto de Lausanne foi uma declaração de fé que expressou fortemente a rejeição, por parte dos evangélicos, desta descaracterização do cristianismo, que infelizmente surgiu no seio do CMI. Este documento deixa claro que o Pacto de Lausanne rejeitou o liberalismo em que mergulhou o CMI e não a idéia de Contextualização idealizada por ele. Ao contrário, esta idéia foi fortemente difundida e utilizada por Lausanne.

Conforme observamos, através do erro cometido pelo CMI, não é suficiente ter um pensamento correto no que diz respeito à comunicação eficaz da mensagem, pois, quando a contextualização é praticada sem levar em consideração os critérios bíblicos, ela perde sua essência, caindo num tipo de apologia à cultura e ao liberalismo humanista (erro do CMI) que não é, de forma alguma, a perfeita comunicação do evangelho. Acerca disso, vejamos o que Nicholls (1983), nos diz:


(Nicholls) defende uma contextualização missiológica livre das influências seculares na medida do possível. Ele denuncia os perigos do relativismo, o pluralismo cultural e teológico, e a criação de uma “etnoteologia”, ou teologia baseada na cultura. Também adverte contra a falta de contextualização, quando
o missionário impõe sua própria cultura a outros povos, sem critérios bíblicos. (1983, p. )


Não vamos nos ater aos motivos pelos quais o CMI declinou de sua correta postura doutrinária, pois este não é o nosso objetivo. Nos ateremos tão somente à postura dos evangélicos que se levantaram contra o liberalismo praticado pelo CMI, fomentando o que entendemos como uma Contextualização Bíblica.

A Bíblia é determinante para a hermenêutica e a contextualização da mensagem. Burns (2007), nos diz que mesmo a Bíblia sendo normativa para a mensagem do evangelho e para a vida da igreja, alguns grupos do CMI começaram a questionar a relevância bíblica para a modernidade, até que chegaram à conclusão que as interpretações bíblicas são condicionadas à cultura, caindo num erro catastrófico, pois, “não há como colocar a cultura em primeiro lugar ou acreditar numa Bíblia condicionada culturalmente”. A Bíblia procede do próprio Deus, é sua Palavra inspirada, livre de erros e autoridade final. Nicholls (1983), afirma que:

É necessário uma hermenêutica correta, mas Deus exerceu soberania sobre o processo de escrever a Bíblia, inclusive sobre a cultura dos escritores. A Bíblia é transcultural e supracultural. Isto não significa que as pessoas que interpretam a Bíblia não são influenciadas pelos seus pré-entendimentos ou pré-supostos culturais (1983, p. ).

O referido erudito, continua defendendo a necessidade de uma contextualização que tenha a Bíblia como ponto principal, mesmo entendendo e levando em consideração fatores supraculturais, culturais e ideológicos. O que precisa ficar claro é que mesmo a cultura sendo muito importante para comunicação da mensagem cristã, ela não pode passar de um ponto de contato ou de um abre olhos , para que o nativo entenda, baseado em seu contexto cultural e nunca a partir dele, o que a Bíblia está dizendo. Quando os comunicadores da mensagem não entendem está verdade óbvia, caem no erro de diluir a mensagem cristã, comunicando através de compreensões culturais equivocadas ou através de conhecimento histórico alheio a Palavra de Deus, dividindo-a com certos elementos culturais ou mesmo substituindo-a por outros elementos que segundo eles podem “ajudar a uma melhor compreensão”, não levando em conta que apenas a Bíblia, conforme já afirmamos, é a única Palavra de Deus inspirada.

Fica claro que quando o comunicador da mensagem (missionário), não comunica de forma que a mensagem venha contextualizada em parâmetros culturais compreensíveis, mas, condicionada à cultura receptora, ele provoca um erro gravíssimo, muito bem descrito por Nicholls (1983):

A redução da interpretação para o evento interpretado, e a limitação da fé para fé baseada em conhecimento histórico, elimina da categoria “Palavra de Deus” qualquer compreensão de um elemento verbal e proposicional na revelação divina. A escritura na sua totalidade já não tem um valor normativo, e o conteúdo da fé é deixado sem definição. Estamos gratos pela ênfase dada pela nova hermenêutica (evangélica) ao papel da próxima experiência vivencial do intérprete sobre sua tarefa exegética e expositória. (1983, p. 34)

Ainda segundo Nicholls (1983), a verdadeira Contextualização defende a posição histórica da autoridade da Bíblia como sendo inspirada divinamente, autoridade sem igual, infalível (não importando a época) e confirmada pelo próprio Cristo nos seus discursos, que transcendem a nossa própria experiência dela. Quando alguém aceita Cristo como Salvador, também começa a aceitar pela fé a Bíblia como viva e eficaz. Desta forma, mesmo que a cultura humana em sua sabedoria (compartilhada por Deus numa escala incomparavelmente menor) procure acrescentar à Palavra de Deus, ela de maneira nenhuma atingirá seu objetivo, absolutamente, ela apenas reduzirá à Palavra há parâmetros culturais provincianos e jamais conseguirá, com este artifício, algum tipo de contextualização. Fato que aponta para a Bíblia como única fonte de fé e prática, de onde devem beber todos quantos querem de forma pertinente e significativa comunicar a mensagem cristã impreterivelmente. Baseado nisso, Nicholls (1983), ecoa a fé dos séculos quando diz:


O Pacto de Lausanne declara: “Afirmamos a inspiração, veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Antigo Testamento como do Novo, na sua inteireza, como a única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo quanto afirma, e a única regra infalível de fé e da prática” (§ 2). A declaração doutrinária da (...) Aliança Evangélica faz uma afirmação semelhante, assim como também fazem as declarações das igrejas e organizações para-eclesiásticas evangélicas pelo mundo afora, independentemente das suas próprias culturas. (1983, p. 35)

Mesmo que a Bíblia tenha sido produzida por autores inseridos numa determinada cultura (israelense), todos foram controlados pela providência de Deus (inspirados). Necessariamente não se tratou simplesmente de criar uma cultura que aglutinasse todas as características necessárias à perfeita comunicação da mensagem. Na sabedoria de Deus, conforme nos diz Nicholls (1983), “esta cultura conseguiu transmitir fielmente a qualidade sem igual da mensagem divina da criação, do pecado, da redenção e, supremamente, da Encarnação e ressurreição do Filho Divino”. Mesmo que repleta de falhas e notadamente rica culturalmente em todos os aspectos humanos a cultura israelense serviu como um veículo para o concebimento histórico da Palavra Escrita, mesmo que, assim como as demais, precisando ser transformada e regenerada por ela, conforme vemos:

Os traços nocivos das nações vizinhas foram eliminados, como a idolatria, a promiscuidade sexual, a corrupção e a injustiça. Nos momentos de enfraquecimento, quando Israel identificou-se e adotou as práticas abomináveis das nações, Deus enviou profetas para os advertir e castigos para que voltassem em arrependimento aos caminhos de Deus. (Burns 2007, p. 72).

Conclui-se, portanto, que todas as culturas, em todos os tempos, são submissas ou normativas à Palavra de Deus, não se eximindo nenhuma da urgente necessidade de transformação e regeneração fomentada por Ela, e que não existe nenhum parâmetro cultural que consiga levar o indivíduo à perfeita compreensão da Palavra de Deus a despeito da genuína Contextualização Bíblica, efetuada por princípios hermenêuticos que apontem para uma perfeita Teologia. E que “para tornar a Palavra viva e transformadora num contexto, o missionário precisa identificar-se com as pessoas e sua cultura” (Burns 2007). Por isso:

A encarnação (Jesus) é o modelo absoluto desta identificação, que envolve tanto a renúncia quanto a identificação. Não haverá qualquer comunicação transcultural à parte desta identificação(...) Esta é a chamada missionária da igreja, o preço a ser pago pela contextualização (Bíblica) verdadeira“ (Nicholls 1983, p. 40).

Um comentário:

Anônimo disse...

parabéns....o blog ficou uma benção que Deus possa continuar te usando; a linguagem ficou bem objetiva e de fácil entendimento.

Josseane Lopes