terça-feira, 15 de junho de 2010

DEUS NÃO NOS DESTINOU PARA IRA.


Deus não nos destinou para ira. Esta verdade tem retumbado ultimamente em meu sofrível coração. É interessante notar a fragilidade de nossa vida; num momento tudo está bem, mas, bastam alguns poucos minutos e “boom”, mas um momento difícil se inicia. Não há nada de novo nisso, momentos assim foram perenes nas vidas dos grandes homens de Deus. Quem não lembra da escolha de Abraão diante do corpo inerte de seu único filho já deitado sobre o altar? Da angústia que avassalou o coração de Moisés quando do ferimento da rocha? Do triste arroubo de arrependimento que grassou o coração de Davi após o revelar de seu pecado pelo profeta, pecado este que o fez amargar uma vida de sofrimentos pelo resto dos seus dias? Estes são uns poucos exemplos dos milhares de que dispomos.

A verdade é que nossa vida não está imune a adversidades, elas existem, e são sempre recorrentes, seja em maior ou menor intensidade, elas sempre estão lá. O que invariavelmente acontece, salvo raríssimas exceções, é que quando elas surgem nós agimos como se o fim do mundo nos espreitasse, como se não existisse mais solução para nós, como se não servíssemos ao Deus Todo Poderoso. Esquecemos que Deus não nos destinou para ira! Há pouco tempo eu andava em voltas com algo que me atormentava, que insistia em tirar-me a paz tão cara que em Cristo eu havia conquistado. Como de praxe eu achava que estava tudo acabado, que para mim não existia mais solução. Creio que o sentimento que tanto me afligia era semelhante ao sentido pelo Apóstolo Paulo quando este declarou: “Porque não queremos, irmãos, que ignoreis a natureza da tribulação que nos sobreveio na Ásia, porquanto foi acima das nossas forças, a ponto de desesperarmos até da própria vida. Contudo, já em nós mesmos, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortosII Co 1.8-9. Não sei a natureza do problema enfrentado por Paulo nesta situação, mas, conforme nos informa I Co 15.32, na Ásia ele “lutou com feras”.

Percebam que o fato de estarmos em plena comunhão com Deus necessariamente não nos exime de passarmos por momentos difíceis, ora, o próprio Senhor Jesus Cristo nos advertiu que no mundo teríamos aflições. Sendo assim, a pergunta que não quer calar é: O que fazer quando a adversidade se levantar?

Primeiro, creio que devemos dar tempo ao tempo. Explico – seria simplório se (eu) dissesse que no momento em que a adversidade se levanta nós não nos incomodamos, não sentimos nenhum tipo de abalo. Pois, na verdade, só é o que sentimos. Lembro-me bem de quando recebi a notícia de que minha filhinha recém nascida teria que ser internada na UTI Néo-Natal do hospital em que nasceu. Meu Deus, que sentimento terrível, ainda hoje insisto para que esta terrível lembrança aquiesça em meu coração. Que dia tenebroso! Todavia, dissipadas as primeiras nuvens cinzas que pairavam sobre a minha cabeça, a poderosa voz de Deus mais uma vez se fez ouvir retumbante pelos corredores sombrios daquele gélido hospital, através do tatalar singelo de uma humilde enfermeira que se deixou levar pela impetuosidade da Glória de Deus, meu coração descansou, e desde aquele instante eu descobri que aquela “prova” não era para morte, mas, para Glória de Deus. De fato, toda adversidade é para Glória de Deus.

Segundo, precisamos nos agarrar ao Evangelho, já dizia o Reverendo Piper, “as Boas Novas não são algo que simplesmente nos livram da justa ira de Deus, algo que nos salva, mas, algo que devemos nos agarrar todos os dias”. Nós precisamos desesperadamente do Evangelho todos os dias, ele é nosso sumo lenitivo, nosso amigo fiel, inabalável. É deveras difícil sobreviver a qualquer intempérie sem um abrigo apropriado, é praticamente impossível. E é justo quando se levantam as provas que nós enfim lembramos de nos abrigar, de nos proteger próximo a algo que nos ofereça “escudo e broquel”. Por isso, insisto que a adversidade, como tudo o mais que existe neste teatro maravilhoso chamado criação, serve apenas para supremacia do Nosso Deus, para glorificá-lo como tudo o mais. Agora, você deve estar se perguntando, como algo tão terrível como o sofrimento de um servo pode glorificar ao Deus ao qual serve? É simples, invariavelmente, o único abrigo deveras pertinente que encontramos durante as lutas é o nosso Deus. É na luta que corremos e recorremos a Ele, que descobrimos sua poderosa singularidade, seu amor constrangedor, seu fardo suave, sua poderosa voz, seu agir aterrador, e sua vontade sempre absoluta e soberana, enfim o “abrigo” de que tanto precisamos. No momento em que a adversidade chega é apenas o Evangelho da Glória de Deus que pode nos ajudar. É justamente o descobrir, ou melhor, o redescobrir (em alguns casos)deste abrigo, que glorifica a Deus

Terceiro, precisamos exercer a fé que nos foi outorgada pelo ouvir desta Palavra ora buscada. Mais uma vez, gostaria de recorrer ao amado Reverendo Piper. Foi num momento de profunda comoção que o Evangelho serviu-lhe como abrigo desejável, como uma bóia que lhe flutuava próximo em meio a um triste naufrágio no assaz profundo oceano Índico. No turbilhão de dor e insegurança que lhe afligia a alma, uma doce voz soou ao seu ansioso coração: “Porque Deus não nos destinou para ira, mas para alcançar salvação mediante nosso Senhor Jesus CristoI Ts 5.9. Após esta sentença, diz ele: “Paz como um rio”. É disto que falo, do que descobri com o ministério deste pastor amado, algo que ele chama em referência a Santo Agostinho de “O Legado da Alegria Soberana”. A alegria que não vê circunstâncias, que desdenha do impossível, que nos faz descansar mesmo em meio a mais cruciante batalha, que nos faz vislumbrar que após as nuvens espessas o sol fulgurante jamais deixou de brilhar, que nos impulsiona a levantarmos todos os dias na certeza de que a prova não frustra os planos de Deus, que ela não possui o poder de anular as promessas outrora feitas a cada um de nós, que ela é uma mera serva dos propósitos absolutos de Deus. Ó poderosa alegria!

Só quando esta alegria verdadeiramente inundar os nossos corações, é que entenderemos o que significa vivermos unicamente pela supremacia de Deus, pois, este legado triunfante nos fará compreender que as provas são parte da criação, e que neste circuito fechado, todas as coisas glorificam ao Deus que por tudo que criou glorifica a si mesmo. Tudo o que foi criado, mesmo que com funções diferentes, possui um mesmo fim – A Glória de Deus!

É por causa disso que me agarro ao Evangelho, para que junto com tudo mais venha eu também apontar para supremacia de Deus, através do sacrifício de Cristo, para alegria de todos os povos. Culminando com a alegria que só encontramos neste mister, quiçá a propagação do Evangelho.

Concluo...

Deus não nos destinou para ira, pois, conforme cremos, a prova não é um fim em si mesmo, mas, é, como tudo o mais, para a Glória de Deus! Para a Glória de Deus!

sexta-feira, 14 de maio de 2010

A IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA PARA OBRA MISSIONÁRIA

Palestra proferida na IEC da Liberdade, Campina Grande, PB.


Hoje, estarei me baseando no texto de Jó 1.1-3. Jó, sem sombra de dúvida é um legado sólido de alguém que em sua vida comunicava verdades extraordinárias, verdades estas, que até hoje contribuem consubstancialmente para o fortalecimento de muitas vidas e ministérios. Por pensar em fortalecimento, tendo como epígrafe o tema “A Importância da Família para Obra Missionária”, resolvi, para discorrer sobre o tema, destacar, dentre as várias características insofismáveis que emanam da vida deste homem “íntegro, reto, temente a Deus e que se desviava do mal”, pelo menos três, que ao meu ver, seriam uma resposta plausível a todo este atabalhoamento teológico que temos visto em nosso amado meio evangélico.

Como primeira característica eu destacaria a “Motivação”. Ora, não há que se reprisar a indubitável tragédia a que se incorreu o nobre Jó, por causa das ardilosas armadilhas de Satanás. Conforme nos assevera o texto, sendo Satanás acusador como é, estando presente em dado momento diante do Deus todo Poderoso, foi indagado por Deus acerca da postura incomparável de Jó. Por causa disso, numa simplória tentativa de macular os poderosos propósitos de Deus na vida do mesmo (como se fosse possível), questiona a Deus a cerca de todo o legado possuído por Jó, e se não seria este o motivo para tanta abnegação e zelo. Para prová-lo que não era o caso, se bem que Deus não precisa provar nada a quem quer que seja, num ato muito mais propício à posteridade do que a esdrúxula indagação de Satanás, Deus o permite (a Satanás) tocar em todos os bens de Jó, não lhe permitindo, porém, tocar-lhe fisicamente. Uma vez com suas ordens, Satanás deixa a presença de Deus e com sua permissão destrói completamente não só todos os bens que Jó possuía, como também, a toda a sua família, com exceção de sua esposa. Mas, para Glória de Deus, como de fato sempre foi essa a tônica dos fatos, ao fim de toda esta tragédia a postura de Jó foi sem precedentes. Após um relato fatídico protagonizado por seus servos, os quais ainda em pânico o colocavam a par de tudo o que o acontecia, sem titubear, este prolífico homem de Deus “se levantou, rasgou o seu manto, rapou a cabeça e lançou-se em terra e adorou”. E num ato de pura deferência a Deus, alçou voz num primeiro arroubo de fé que insiste em ecoar pelos séculos que se seguiram: “Nu sai do ventre de minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor”. Diante de tamanha barbárie, Jó, com seus lábios, não pecou, tão pouco atribuiu a Deus falta alguma. Isto sim é o que podemos chamar de “caráter inabalável”. Errou Satanás ao achar que a motivação de Jó estava em seus bens, pois, conforme nos asseveram estas palavras tão impactantes, o coração de Jó não estava nos bens que possuía, mas em Deus.

A própria postura de Jó, faz coro a poderosa afirmação do Apóstolo Paulo e pode ter sido um dos motivos de sua reflexão: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mais Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo, na carne, vivo-a na fé do Filho de Deus” Gl 2.20. O apóstolo com este texto belíssimo nos fala acerca da correta motivação de um servo; tudo quanto nós encontramos no caráter de Jó. Sendo assim, eu vos pergunto, qual tem sido a motivação de nossa geração? Infelizmente a Teologia da Prosperidade está aí para nos responder! Como primeiro ponto, assevero que se realmente quisermos ser uma resposta a tudo quanto estamos vendo em nosso evangelicalismo (falo daqueles que abandonaram o legado da reforma) precisamos fazer com que nossos jovens, que serão os futuros ministros da igreja, trabalhem impulsionados pela motivação correta. E que o Senhor nos proteja de ministros que prefiram receber o seu galardão por aqui. Por isso, fora com o pragmatismo que tem avassalado os púlpitos; fora com o hedonismo que gera vocacionados mais preocupados com suas auréolas do que com as almas dos homens; fora com a Teologia da Prosperidade e sua peçonha; fora com o Teísmo Aberto, com a Teologia Relacional, com a teoria da Evolução das Espécies; com o Liberalismo Teológico e tudo o mais que procure, conforme as mentes depravadas dos homens, deturpar o Glorioso Evangelho de Jesus Cristo. Que toda motivação que não almeje a Glória de Deus seja anátema! Para que a nossa família contribua para o fortalecimento da sociedade e para que os nossos jovens aspirem, como antes, as “Regiões Celestes”, precisamos da motivação correta!

Em segundo lugar, destaco como uma poderosa qualidade inerente à personalidade de Jó a “Disposição”. É certo que nosso Deus é tardio em irar-se, mas grande em poder e jamais inocenta o culpado (Na 1.3). O fato de se encontrar na qualidade de culpado na presença de Deus é algo terrível, todavia, o contrário também é deveras interessante, pois, conforme percebemos no testemunho de Jó, ele sabia que nada tinha feito para se encontrar em meio à tão intensa tempestade, por isso, ousadamente ele aspirava por uma oportunidade de indagar a Deus o porque de tanto sofrimento (não que exista alguém auto justificado, mas quando o pecado é tido como algo vexoso, tudo o possível é feito para evitá-lo, eis o porque da surpresa de uma conseqüência não produzida). Dizia Jó: “Ah se eu soubesse que o poderia achar! Então me chegaria ao seu tribunal” Jó 23.3. Saber o que procurar diminui em muito o nosso esforço em busca de algo. Neste ponto, encontramos um problema delicado, o qual tem contribuído indelevelmente para apatia espiritual de nossa época, a falta de referênciais. Nossos jovens estão morrendo de inanição teológica. A má disposição de muitos homens que se auto intitulam “Servos de Deus” têm fomentado terríveis referenciais teológicos. Tais homens com sua vida e teologia parecem fazer coro à famosa frase de Nietzsche: “Deus está morto”.

Não é preciso muito esforço para se refutar esta afirmação estapafúrdia. O problema não está em Deus, mas nos homens. “Homens mortos tiram de si sermões mortos e sermões mortos matam”. Referencial de nada serve se o desejo de dispor-se não brotar do coração. As famílias precisam urgentemente fazer com que os jovens voltem a se apaixonar pela vida ministerial, precisam reabrir a velha fábrica de missionários chamada “Lar Doce Lar”, precisam reacender a chama fulgurante que a muito aquiesce no coração de nossos jovens e que os consumia de desejo para entregar-se completamente a “Excelente Obra”. O fato é que nós temos desafeiçoado a mais plena de todas as vocações, que é a ministerial. Nossa resposta a esta geração têm sido paupérrima. A verdade é que nós temos produzido jovens que perderam o idealismo, a paixão e o fulgor. E este mal não tem sido produzido em laboratórios sofisticados custeados pelos demônios, não. Tem sido produzido nos lares. Que se retire da mente de nossos jovens que missão é sinônimo de miséria. Que se retire da mente de nossos jovens que missão é sinônimo de frustração. E que se pregue mais uma vez nos esquecidos cultos domésticos à “Glória” que é servir a Deus como poderosos Embaixadores do Céu. Que nossas mentes mais dinâmicas sejam tributadas a Deus, que nossos jovens mais zelosos sejam consagrados ao resgate dos perdidos, que as mentes mais promissoras funcionem para a Glória de Deus, que haja incentivo em meio às famílias e que estas não descansem enquanto a seara perecer por falta de seifeiros. Precisamos restaurar em nossa geração uma disposição que os inflame por almas.

Para que isto aconteça, creio que a única saída é restaurarmos no seio das famílias uma poderosa paixão pelas Sagradas Escrituras. Lembremo-nos do conselho do decano dos apóstolos “Jovens, eu vos escrevi, porque sois fortes, e a Palavra de Deus permanece em vós, e tendes vencido o Maligno” I Jo 2.14b. Para sermos uma família forte precisamos voltar a Palavra de Deus. Jó era um homem disponível porque conhecia o motivo de sua força: “nas suas pisadas, os meus pés se afirmaram; guardei o seu caminho, e não me desviei dele. Do preceito dos seus lábios nunca me apartei, e as palavras de sua boca prezei mais do que meu alimento” Jó 23.11-12. Jó sabia que só existia para servir a Deus. A semelhança de nosso Senhor Jesus Cristo que disse: “A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” Jo 4.34. Que belíssima afirmação. Cristo asseverava que a única coisa que o mantinha firme e lhe restaurava as forças (propriedade dos alimentos) era cumprir o pleno desígnio que lhe fora outorgado por seu Pai. A única coisa que Ele tinha a fazer era dispor-se. Nossa família precisa dispor o que possui de melhor a Deus.

Por fim, outra característica poderosa deste corifeu da fé é sem dúvida alguma a “Perseverança”. “Aquele que leva a preciosa semente, andando e chorando, voltará, sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos” Sl 126.6. Após a perca de todos os seus bens e de todos os seus filhos; este homem de Deus ainda teve que atravessar o tenebroso “vale da sombra da morte”. Diz o livro que leva o seu nome que diante de mais uma derrota, Satanás sugestiona a Deus que se tocado na “pele” Jó blasfemaria abertamente. Conhecendo seu servo, e na eminência de mais uma vez Glorificar o seu nome, Deus o permite. Ato contínuo, outra vez de posse de suas ordens, Satanás fere a pessoa de Jó com tumores malignos que o acometiam desde a planta do pé, até o alto da cabeça. Jó, tendo em vista seu estado, sentado em cinzas raspava-se com um caco. O que nos chama a atenção é que sua mulher, que tivera perdido todos os seus bens além de todos os seus filhos e todos os seus criados, ao ver o seu amado marido naquele estado caótico, não resiste a tamanho sofrimento e num ato muito forte assevera: “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” Jó 2.9. Por causa do terrível mal lhes afligido, a mulher de Jó, que não tinha sua estrutura, não resistiu e sucumbiu. Entretanto, Jó não se deixou levar e mais uma vez prorrompeu num segundo discurso que a semelhança do primeiro tem servido de estímulo e refrigério para milhares de pessoas ao longo dos séculos: “Falas como qualquer doida; temos recebido o bem e não receberíamos o mal?” Jó 2.10. Jó possuía uma Perseverança belíssima.

Precisamos fazer com que as famílias instruam-se sob a égide deste tipo de testemunho, angariando forças de exemplos como este. Pois, a batalha que nos espreita é terrível e só um soldado bem preparado prevalecerá. Gostaria, a título de exemplo, de citar um livro escrito pelo Pastor John Pipper, “O Sorriso Escondido de Deus”, neste livro ela fala circunspecticamente acerca de três compenetrados homens de Deus. Mas, tendo em vista o espaço, gostaria de citar-lhes ao menos um, nosso amado irmão John Bunnyan. Este homem, apaixonado pelo Senhor como era, não acolheu a ordem que lhe impingia a obrigação de comunicar a Cristo tão somente de sobre o púlpito, e saindo pelos campos e montes propagava a Cristo com um ímpeto tão contagiante que as pessoas rendiam-se a Cristo em converções tão singulares que chamaram a atenção dos clérigos. Estes, enciumados pela presença de Deus na vida de Bunnyan, acharam por bem manietar-lhe no cárcere da prisão. Todavia, o que mais o afligia não era a prisão em si, mas, ter que ver pelas grades gélidas de sua fétida cela, a sua amada filha, que cega, mendigava à rua que ficava em frente à torre. Que visão lastimosa! Talvez qualquer um de nós tivesse se recolhido a um sentimento de auto comiseração que desaguaria numa profundíssima depressão. Mas, Bunnyan não. Este buscou forças em Deus, e, de posse de uma pena, um cadinho de tinta e algumas poucas folhas clivadas, escreveu o livro que excetuando-se a Bíblia é o mais lido do mundo, o aclamado “O Peregrino”. Que exemplo de uma poderosa perseverança.

Concluindo, oro para que o Senhor da seara nos impulsione a vencermos os desafios que nossa geração nos impõe. Que as características exaradas do testemunho de Jó nos impulsionem a vencermos a inércia que insiste em nos afastar do embate. Que o Senhor por seu irresistível poder nos torne mais uma vez visionários inflamados, ávidos por um mundo melhor, mais saudável e iluminado. As circunstâncias nos são contrárias, o inimigo tem se fortalecido, e às vezes até avançado. Entretanto, jamais será adversário a altura da “Igreja do Deus Vivo, Coluna e Baluarte da Verdade”. Que haja sempre em nossos catecúmenos motivação, disposição e perseverança, pois, “a esperança e a chama da fé não se apagarão, enquanto jovens idealistas houver, e de vasos de barro, o Senhor nos suscitar grandes exemplos. Eu também tenho um sonho!”.

A Família é importantíssima para obra missionária!

sexta-feira, 7 de maio de 2010

A CONTEXTUALIZAÇÃO NÃO NOS TORNA LIBERAIS.

Nunca tive dúvida alguma de que quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo de Deus (Jo 16.8). Este convencimento, por sua vez, é produzido através da Pregação da Palavra de Deus de maneira pertinente e significativa. Com base nisso, ao contrário de muitos não me preocupo com resultados imediatos, com conversões em massa, ou mesmo com a forma com que a mudança regeneradora ocorrerá na vida do indivíduo que recebe a Palavra, seja em contexto transcultural ou não. Creio veementemente que minha única função é comunicar o Reino de Deus através do Evangelho de Cristo, e que os resultados, ficaram por parte de Deus. Minha única missão é me deter na comunicação. E para que ela tenha virtude em minha boca, procuro fazer com que o meu caráter preceda a minha habilidade de maneira que a minha vida se torne à vida de meu ministério. Ato contínuo, acredito que uma das maneiras de que dispomos para que esta comunicação se estabeleça de maneira genuína, seria através da pura e simples ortodoxia, a qual emana de uma vida de piedade e santidade.

Chamo atenção para o fato de que a premissa de se comunicar o Evangelho de maneira contextualizada não pressupõe de forma alguma um desapego à ortodoxia, absolutamente. É através da herança reformada de que dispomos que vislumbramos uma comunicação que conduza o receptor da mensagem a um Deus Soberano que nos encontra em estado de completa depravação, e que mesmo assim, conforme sua soberana vontade, se compadece de nós através do sacrifício perfeito de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atentem para o fato de que é através da pregação do Evangelho que Deus transforma a vida do pecador.

Comunicar um evangelho dissociado das doutrinas inalienáveis da reforma é uma completa perca de tempo, pois, a ortodoxia está para o evangelho, assim como a contextualização está para aplicação da mensagem. Notem que é através de uma visão progressista que a perfeita comunicação se efetua. O evangelho precisa ser pregado levando-se em consideração a identidade cultural de cada povo, assim como o momento histórico vivido por ele. Todavia, não há que se confundir visão progressista com liberalismo teológico. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, muito pelo contrário. O fato de se comunicar o Evangelho de maneira compreensível não pressupõe que o mesmo precise ser “diluído” para que as pessoas o compreendam. Isto é uma visão equivocada do que propõe a contextualização.

Muitos povos que teoricamente constam como “alcançados” infelizmente não estão tão bem evangelizados assim. Quando digo alcançados, necessariamente não associo presença evangélica com presença do evangelho. Existem povos que foram alcançados por evangélicos, mas que infelizmente não foram alcançados pelo evangelho. A Teologia Liberal em toda sua peçonha tem feito com que muito esforço e determinação culminem numa empreitada missionária desacreditada de verdade e vida. A comunicação de um evangelho que não expressa pormenorizadamente todo o desígnio de Deus não pode ser considerada salvífica, muito pelo contrário, é na verdade mais uma comunicação de engodo que precisa ser suplantada o quanto antes. Os liberais, hávidos por uma missiologia relacional, que suplanta a soberania de Deus, mais provocam dúvidas do que vida, e sempre que comunicam verdades apodíticas do Evangelho, o fazem de maneira que boa parte dos dogmas da igreja sejam vexosamente deixados de lado, para que ao seu bel prazer, às pessoas concebam um deus que não é o Deus soberano das Escrituras Sagradas, mas outro.

Em defesa da verdadeira missiologia, o missionário Ronaldo Lidório, sabiamente assevera que a comunicação intercultural do evangelho que não leva em consideração a contextualização, não passa de um simples compartilhar de idéias. Concordo plenamente. Porém, na mesma proporção, ao contrário do que crêem os liberais, creio que um Evangelho que não leve em consideração as verdades promulgadas pela Palavra de Deus em toda sua extensão, também não passa de um simples compartilhar de idéias. Ou seja, o evangelho pregado através de um viés neoliberal, em nada somará a vida dos ouvintes.

O que me faz prorromper em defesa dos sólidos alicerces ortodoxos em que repousam a missiologia genuína, são os comentários que vez por outra ouvimos de pessoas que pensam ser a comunicação contextualizada um sinônimo de liberalismo teológico. As doutrinas reformadas que emanam dos livros que relatam a história de missionários verdadeiramente comprometidos com o evangelicalismo retumbam em favor da práxis axiomática da comunicação centrada única e exclusivamente na Bíblia e comprovam que estão redondamente enganados todos os que pensam o contrário. Orgulho-me do fato de compartilhar o interesse pela compreensão do evangelho supracultural em contexto cultural com homens como o Apóstolo Paulo, Santo Agostinho, João Calvino, Martinho Lutero, William Karey, Hudson Taylor, David Brainerd, David Livinsgton, Jim Elliot e tantos outros que não compõem esta lista sucinta, mais que sem sombra de dúvida repousam seguros numa lista deveras mais importante.

É fato provado na história belíssima das chamadas “Missões Modernas” que o parâmetro que fez com que atuação missionária atendesse as expectativas almejadas foi a pregação da genuína Palavra de Deus na língua do povo de maneira a atender suas mais intimas expectativas. E isso, só foi possível graças ao legado imprescindível que nos foi deixado pela reforma. Falem na linguagem do povo! Era o grito de ordem dos nossos amados reformadores e foi ele que se fez ouvir no despertar missionário em tela. A ortodoxia que remonta o parecer apostólico e endossa nossas confissões de fé, é que foi decisiva para o despertar que nos impulsiona e alegra até os dias de hoje.

Depreende-se, que a comunicação conforme o padrão gramático-histórico das Escrituras, colocado em prática através da abordagem crítica da contextualização, nos dará a paz de que precisamos para deitarmos a noite e dormirmos tranqüilos na certeza de que “Estamos proclamando o Reino de Deus e vivendo o Evangelho de Cristo”. Mas, ainda assim, existem sempre aqueles que não querem dar ouvidos a verdade, conforme foi assaz demonstrada e continuarão a nos atacar rotulando-nos injustamente de liberais. Perseveremos, pois, existem muitos lugares para homens corajosos no céu, conforme bem nos alertou Paul Tournier:

O medo de ser julgado mata a
espontaneidade; impede os homens de se
manifestar e de se exprimir livremente, tal
como são. É preciso muita coragem para
pintar um quadro, para escrever um livro,
para construir um edifício com linha
arquitetônica nova ou pra formular uma
opinião independente, uma idéia original.


Nossa práxis remonta aquele que assumiu a semelhança de homem, o ápice da contextualização...

quarta-feira, 21 de abril de 2010

SOBRE O PODER DE DEUS.

Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra”. At 1.8

Aproveitamos este feriado, mais uma vez, para investirmos no fortalecimento do “Corpo de Cristo”. Ousamos, sobe a égide do Espírito Santo, obedecer a grande comissão e romper com nossa Jerusalém (igreja local) empreendendo vôo, num ônibus velho, até Samaria (uma favela próxima). E lá, em meio a córregos fétidos e pessoas desconfiadas, vislumbramos um pouco do Poder de Deus.

Para muitos, principalmente no momento que estamos vivendo, recheado com a teologia Neo-Pseudo-Pentecostail, com o Teísmo Aberto, com a Teologia Relacional e com a saga da Teologia da Prosperidade. Poder de Deus seria pular, correr, marchar... Filosofar sobre o metafísico... Duvidar da Soberania de Deus... Ou ganhar muito dinheiro... Porém, para alguns nobres soldados do Reino, poder de Deus foi ver alguns adolescentes alimentando um moribundo que mal podia ficar de pé degenerado por tanta fome. Foi ver um seminarista, inconformado com as páginas gélidas dos livros, colocá-lo (o moribundo) confortavelmente sobre um carrinho de mão e conduzi-lo serpenteante, morro a cima, até a igrejinha próxima, para com todo amor e carinho: banhá-lo, vesti-lo, alimentá-lo e piedosamente evangelizá-lo. Restaurando-lhe, mesmo a parcos recursos, num vislumbre de tempo, sua perdida e tão cara dignidade.

Poder de Deus foi prorromper em meio a uma terra inóspita com uma centelha de esperança. Foi ver uma pequena multidão de crianças carentes sorrindo, mesmo que por um pouquinho de tempo, com as afáveis brincadeiras de nossas professoras da Escola Bíblica, todas devidamente fantasiadas e quebrantadas. Foi observar em meio a um sol tórrido e causticante, um singelo voluntário percorrer corredores estreitos e hostis no intuito de fazer um simples teste glicêmico, num popular que por motivo outro, não podia deslocar-se até nossa base (devidamente montada com caibros e lonas). Foi me emocionar ao ver uma jovem recém convertida propalando um convite que até alguns dias atrás lhe parecia tão distante, esforçando-se por conseguir o maior número possível de pessoas para ouvir, na tímida igrejinha de favela, a impactante Palavra de Deus.

Poder de Deus foi ver um grupo de jovens com a Bíblia na mão e os pés nos esgotos. Foi perceber as lágrimas nos olhos de uma velhinha que não estava com a pressão arterial alterada. Foi ouvir um “muito obrigado minha filha, que Deus a abençoe!” Quando o simpático ancião concluía o seu corte de cabelo. Foi observar uma fila que insistia em não ter fim a espera de algumas poucas roupas doadas e surradas. Foi deixar aquela favela um pouquinho mais feliz ao final de mais um projeto evangelístico...

À tardinha, levantamos acampamento após um culto vivo, santo e agradável a Deus e dentro de nosso algoz transporte velho (que nos levava daquele amado lugar) vimos lacrimosos a igrejinha de favela se perder entre os barracos no limiar do horizonte distante. Reclinando-nos aos bancos, em silêncio, volvemos o pensamento ao longe... Valeu a pena! Valeu a pena!

Ao término desta épica empreitada missionária. Apenas o nosso Deus em sua Onisciência saberá discernir o impacto sentido por nossa comunidade ao conviver por algumas horas com aquela gente humilde e amável. Apenas Ele poderá aferir a mudança que experimentará aquela comunidade depois desta humilde, mas poderosa experiência de amor e operosidade.

Isto sim é Poder de Deus!

Por fim, no afago de minha família, após esta maravilhosa experiência, concluo corroborando o amado que poetizou nossa história...

Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra,
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas
e iguais também porque o sangue,
que usamos tem pouca tinta.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina


A morte até pode ser a mesma, mas a vida enquanto é vida, pode ser vivida.

Graças ao evangelho, Poder de Deus!

sábado, 10 de abril de 2010

O CONTEXTO E A COMUNICAÇÃO


Compartilhar a mensagem cristã de maneira pertinente e significativa tem sido o maior desejo dos servos de Deus ao longo de toda a história do cristianismo. A princípio isto era relativamente fácil, uma vez que, quando do início da igreja, as pessoas se comunicavam tão somente com indivíduos que faziam parte de uma mesma cultura – a israelense. Todavia, com a expansão do cristianismo, novas pessoas de culturas completamente diferentes se viram necessitadas de absorver essa nova realidade espiritual que possuía plenas condições de transformar suas vidas. Esta necessidade de transformação e salvação foi fomentada justamente pela exposição da mensagem cristã, fato que de antemão tinha sido ordenado pelo seu idealizador, o Senhor Jesus Cristo. Esta ordem de comunicar a mensagem (Evangelho), que foi sancionada quando da descida do Espírito Santo no princípio da igreja (pentecostes), unida ao sentimento de urgência que emanava daqueles que pereciam sob a égide de um mundo que jaz no maligno, foi o combustível que impulsionou a expansão do cristianismo.

É fato que os discípulos tinham sido comissionados a compartilhar a mensagem, não só em Jerusalém, mas em toda Judéia, Samaria e até os confins da Terra – “Mas recebereis poder, ao descer sobre voz o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria e até os confins da Terra” (At 1.8). Jesus utilizou estes termos locais como exemplos para ilustrar o fato de que toda humanidade carecia concomitantemente da restauração que provinha do evangelho e que a igreja era o órgão responsável por essa divulgação das Boas Novas. Por causa destas premissas – a grande comissão de Jesus e a urgente necessidade do mundo que clamava e clama por reconciliação –, a igreja, enquanto detentora deste poder restaurador e reconciliador, se viu com um problema (enquanto pertencente a uma cultura) diante de si: como compartilhar o evangelho de Jesus Cristo de maneira pertinente e significativa numa cultura completamente diferente da que a mensagem foi concebida e da que os missionários faziam parte?

A solução, encontrada a princípio por Jesus, e posteriormente utilizada por seus apóstolos, atualmente é o que entendemos ser o método Contextualizado. Jesus demonstrou através de seu ministério e do legado que deixou para os discípulos que para que uma mensagem concebida em contexto intracultural tivesse plenas condições de alcançar todo o mundo habitado, ela precisava ser comunicada de maneira supracultural (por que de fato ela é), ou seja, ela precisava ser fundamentada e extraída única e exclusivamente da Bíblia, todavia, através de parâmetros culturais inerentes ao indivíduo, os quais funcionassem como uma ponte para perfeita compreensão da mensagem, desde que os mesmos parâmetros não se encontrassem em discordância com o teor supracultural e sagrado da mesma. Isto é, a mensagem precisava ser comunicada de maneira contextualizada.

É a fundamentação deste “Pensamento Contextualizado” que dá sentido ao estudo das culturas e nos faz inteligíveis internacionalmente com a mensagem das “Boas Novas” de Salvação. Corroborando este pensamento, acreditamos ser inexorável fundamentar esta necessidade se o que realmente desejamos é uma perfeita comunicação transcultural.

Conforme se observa, é imprescindível que antes de qualquer atividade in loco conheçamos peremptoriamente as nuances culturais em tela e a perfeita relação (sempre crítica) entre o conteúdo cultural do povo alvo e a propagação do evangelho. Este plano de metas visa comprovar que cada povo possui sua própria identidade cultural, fato que justifica (não necessariamente) uma “abordagem diferente” para cada situação. Assim, uma vez definidos os principais objetivos que antecedem a atividade missionária, a Comunicação do Evangelho transcorrerá de maneira que os perigos do sincretismo e da alienação sejam poderosamente evitados. Ato contínuo, a genuína Palavra de Deus estará mais uma vez a realizar sua obra restauradora.

Por causa disso, depreende-se que a perfeita comunicação só pode ser conseguida em toda sua extensão através de uma perspectiva que solidifique a idéia de uma comunicação intercultural eficaz, através de um sólido conhecimento cultural prévio e da poderosa ação impulsionadora do Espírito Santo.

Que o Senhor da seara nos abençoe!

quarta-feira, 17 de março de 2010

PERSPECTIVAS DO CULTO AFRO-BRASILEIRO


Não é nosso interesse comentar toda riqueza cultural do culto Afro-Brasileiro, uma vez que, seria praticamente impossível. Mas, como temos recebido dicas para escrever sobre o assunto, resolvemos tratar de pelo menos uma única “nação tribal”, por entendermos, que é a etnia que mais contribuiu, dentre as várias que se somaram, para formação do culto afro tal como o conhecemos nos dias de hoje. Por causa de sua imensidão e tendo em vista a pobre divisão do continente africano baseada (apenas no papel) em “raças” e “áreas culturais”, as quais são deveras insuficientes (como os conflitos tem demonstrado), achamos por bem nos determos numa única região geopolítica, a chamada África Ocidental, e nesta, trataremos do maior tronco tribal do continente, os Yorubas. Foram justamente os Yorubas que mais contribuíram, tendo em vista suas características, para formação do rito afro-brasileiro como o temos hoje.

Os cultos de origem afro surgiram no Brasil por volta de 1850. As origens federativas destes cultos são diversas, não se podendo detectar tamanha profusão sincrética. Para os historiadores da religião, este apêndice não possui maiores relevâncias, uma vez que, independentemente de seus países de origem, tais cultos apresentam em sua multiformidade nuances autenticamente “africanas”, as quais variam desde as exóticas possessões pelos orixás até as famosas danças extáticas dos terreiros. Por causa de tamanha elasticidade cultural, a cada nova região política, levando-se em consideração as proporções continentais que compreendem o Brasil, o culto afro recebe uma nomenclatura diferente. No Nordeste, por exemplo, o culto é chamado de Candomblé. Este rito tem por base a anima (alma) da natureza, sendo portanto chamada de anímica, fora desenvolvida no Brasil com o conhecimento dos sacerdotes africanos que foram escravizados e trazidos da África para o Brasil, juntamente com seus Orixás, sua cultura, e seu idioma. No Sudeste temos a Macumba. E por fim, sendo a mais popular, a Umbanda oriunda do Rio de Janeiro, a partir de meados de 1925 á 1930.

Estas práticas religiosas, a princípio veementemente proibidas no Brasil, hoje representam uma fatia considerável da vida religiosa do nosso povo. Isso se deve principalmente ao fato de que com a abolição dos escravos, os negros (seres humanos duramente humilhados pelo seu semelhante) obtiveram uma maior liberdade (há controvérsias) para aperfeiçoarem a adoração laica que até então era peremptoriamente secreta (esta oriunda de seus respectivos países de origem), tendo em vista a iminência de possíveis (sempre presentes) maus-tratos por parte de seus “senhores cristãos”. Por causa desta pseudo-liberade a proliferação do culto-afro ganhou as raias do país há uma velocidade vertiginosa e em menos de um século já despontava fulgurante como uma das religiões que mais cresciam nas terras de Santa Cruz. Some-se a isso, o fato da religião ter se tornado semi-independente em regiões diferentes do país. Esta parcela de liberade foi fundamental para o fortalecimento étnico do culto-afro, uma vez que, os escravizados do Brasil pertenciam a diversos grupos étnicos diferentes, como os yoruba, os ewe, os fon, e os bantu. Entre esses grupos étnicos diferentes evoluíram diversas "divisões" ou nações, as quais se distinguiam entre si principalmente pelo conjunto de divindades veneradas. Fato que não só multiplicou a presença afro no Brasil, como também contribuiu indelevelmente para disseminação de sua cultura religiosa, se bem que, em algumas regiões (tendo em vista as distâncias), com características bastante diferentes, todavia, não deixando de serem siamesas culturalmente.

Étnicamente um grupo em especial se destacou quando da proliferação do culto-afro no Brasil, o grupo dos yorubas. Foram estes que mais contribuiram para a religião em destaque (afro-brasileira) conforme a conhecemos. O rito dos yorubas entre os africanos é provavelmente o que possui maior número de adeptos (cerca de 15 milhões). Dai um dos motivos para sua épica propagação no Brasil (a quantidade de seguidores). Uma vez conhecedores do grupo étnico que mais contribui para propagação deste rito, passaremos, então, ao estudo de suas práticas, pois, elas nos esclareceram o desenrolar destes ritos. Segundo Mircea Eliade, ainda neste século, a coletividade yoruba era dominada por uma confraria secreta que nomeava o mais alto representante do poder público, “o rei”. Antes de sua nomeação, o rei de nada sabia, pois não era membro da confraria dos Ogbonis.

Ainda segundo Eliade, particiapr deste círculo fechado (confraria) significava falar uma língua inteligível aos profanos e praticar formas de arte hierática e monumental inacessíveis aos demais yorubas. O culto dos yorubas até hoje continua um mistério. Sabe-se, porém, que no centro encontra-se Onila, deusa mãe do ile, que é o “mundo no estado caótico”, antes de organiza-se. O ile opõe-se, por um lado, ao orum, que é o céu enquanto princípio organizado, e, por outro, ao aye o mundo habitado proveniente da ação do orum no ile. Enquanto todos conhecem os aspectos assumidos pelos habitantes do orum, dos orixás que são objeto de cultos exotéricos, e do deus otiosus Olorum, que não é cultuado, a presença do ile na vida dos yorubas é sempre misteriosa e carregada do inquietante subterfúgio da ambivalência feminina. Desta ambiguidade temos, a princípio a deusa Yemanjá que é fecundada pelo próprio filho Orungã, e cujos produtos do incesto constituem grande número de deuses e espíritos. Yemanjá é a mestra das feiticeiras yorubas, que a tomaram por modelo dado o desenrolar excepcional e atormentado de sua vida.

Há ainda uma outra situação, cuja feiticeira chama-se Vênus Yoruba, Oshum, protagonista de todos os divórcios e escândalos. Nesse corolário temos ainda Obatalá, o deus criador para os yorubas, é justamente com ele que Orum enviou para o aiyê o deus dos oráculos, ou seja, a capacidade de se adivinhar, conforme vemos praticamente em todos os ritos afros. Ato contínuo, outro orixá importante nesta cadeia yoruba é o Exu. Este têm por função provocar o riso, e por outro, a trapaça. E por fim, tem-se o padroeiro dos ferreiros yorubas, o deus guerreiro Ogum.

Para os yorubas, ancestrais diretos de boa parte dos ritos afro-brasileiros, na morte do homem as partes componentes do seu corpo retornam para os orixás que as redistribuem pelos “recém-nascidos” (fato que explica a crença das manifestações singulares, “em nome de”). Há, porém, componentes imortais, pois os espíritos podem voltar para terra e tomar posse, conforme sua vontade, de um dançarino Egungum (fato que explica a manifestação de entidades em terreiros e mesas), e estes, têm como função, transmitir as mensagens dos mortos para os vivos.

Uma vez compreendido o aparato histórico, não me deterei nas diversas relações entre a cultura afro e o culto brasileiro. Tão pouco vou procurar pontes culturais para uma possível comunicação. Mas, discorrerei por uma humilde e por hora única perspectiva.

Sendo assim, através desta premissa, temos um vislumbre de como é grande a necessidade espiritual por parte das pessoas que abraçam estas doutrinas, estes ritos. Observe, que para os adeptos destas religiões de reminiscências afro, Obatalá seu deus criador, não itervém de maneira pessoal na vida de seus adoradores (deus otiosus), mas, apenas lhes envia um “espírito de adivinhação” o qual lhes capacita a burlarem as situações difíceis da vida. Enquanto que sua esposa Onila, deusa mãe do caos, da desorganização e do amorfo, que na cultura supra é conhecido como o ile, o mundo em seu estado caótico, luta contra o Orum, o princípio organizado, o céu. E trava batalha também contra o aiyê, o mundo habitado pelos vivos. Desta batalha espiritual concebida desde o topo da pirâmide dos seres espirituais que compõem a cúpula do panteão yoruba, cuja líder é Onila, surge através de incesto, duas peças principais não só na cultura nativa, mas, também na brasileira, em parte fruto desta cultura, são elas Yemanjá e Oshum. A primeira mestra das feiticeiras e a segunda rainha de todos os divórcios e escândalos.

Há! se ao menos nossos queridos irmãos yorubas ouvissem falar a respeito de um Criador Pessoal, Onipotente, Onipresente e Onisciente. Que não se retira de nossas vidas em momento algum, que se compadesse de nossas falhas e angústias e que está conosco todos os dias até que os céus se restaurem. Que diferença enorme faria para nossos corajosos yorubas, se eles soubessem que não existe nenhum tipo de contenda no caráter inabalável deste Deus que é perfeito em tudo que faz. Que nos enviou seu Filho Unigênito não para ser Rei sobre a discóridia, a intriga ou a confusão. Mas, para instaurar um tempo de paz e alegria, fundamentado no mais perfeito de todo os solos, o do coração. Que grande abismo existe entre um caráter inabalável e um declaradamente dúbio? Como pode-se viver nos abismos quando devería-se estar nos píncaros verdejantes?

Há cruciantes questionamentos! Não sois válidos em vós mesmos, porque, se estes fossem esclarecidos outrora, “não precisariam de pau-oco”, e eles mesmos, hoje, seriam preenchidos!

Louvo ao Senhor pelo fato de que mais e mais irmãos afrodescendentes têm descortinado diante de si o triste véu da ignorância espiritual e concorrido para o esclarecimento e libertação dos demais através do Evangelho Supracultural. Concordo com o amado Bispo Nordestino, “Nem toda manifestação cultural africana é tida como demoníaca, ou intressecamente relacionada a macumba. O preconceito etnocêntrico, a ignorância antropológica e a deplorável falta de intercâmbio com as igrejas concorrem para o fortalecimento desse erro de visão”.

A cada dia mais e mais afrodescendentes tornam-se cristãos, todavia, oro para que eles não tornem repugnante sua belíssima cultura, mas que apenas, como todos os demais, façam uma assepsia naquilo que não louva a Deus. Pois, ser cristocêntrico não impede a beleza das roupas, dos gostos, da alegria e da musicalidade. Em meu orgulho inflamado, vou até mais longe, e creio veementemente que se evangelizados por africanos, com certeza, os bombos e atabaques por aqui tocariam para Jesus.

Mas uma vez, citando o amado Bispo, se é estado laico, então, que sejam bem vindos os genuínos e apostólicos “Terreiros de Jesus”.

terça-feira, 2 de março de 2010

A RELEVÂNCIA DO CONTEXTO.


O contexto é importantíssimo para perfeita comunicação do Evangelho, pois, conforme oficializou o Relatório da Reunião de Consulta para Evangelização Mundial, ocorrido em 1978, na Cidade de Somerset Bridge, Bermudas, patrocinado pelo grupo de Teologia e Educação de Lausanne, se retirarmos o homem de seu meio cultural abruptamente, uma ruptura ocorrerá em seu meio social, fato que para os eruditos que elaboraram o relatório seria uma catástrofe, pois, conforme afirmam, homens e mulheres precisam de uma existência unificada. Sua participação em uma cultura é um dos fatores que lhes proporciona pertencer a algo. A cultura da um sentido de segurança, de identidade, de dignidade, de ser parte de um todo maior e de partilhar a vida de gerações anteriores e também das expectativas da sociedade com respeito ao seu próprio futuro. Se privarmos o homem desta experiência prática, nem todo conhecimento do mundo o fará pertencer a algo novamente, pois, segundo uma das mais confiáveis teorias sobre a inteligência humana de que se tem notícia (inteligência multifocal), o conhecimento humano jamais é deletado e reescrito, e sim, reeditado.

Esta premissa aponta para a questão de que não funciona comunicar o “erro” (pecado em nosso caso) a partir da perspectiva cultural do comunicador da mensagem (missionário que se coloca numa posição de superioridade), mas, a partir da cultura do próprio indivíduo (através de parâmetros contextualizados), fato que fará com que o mesmo (nativo), compreenda a dimensão do que está ocorrendo com ele de maneira pertinente e significativa, recebendo, assim, uma mensagem estritamente fundamentada, sem, no entanto, ter que diluí-la para isso. Nesse processo, a ortodoxia é estritamente preservada, nenhum tipo de pressuposto sincrético, ou mesmo liberal, tem parte no processo evangelístico, antes, a sólida teologia apostólica é comunicada axiomáticamente. A contextualização consiste de um compromisso com a perfeita comunicação e não num desapego a genuína evangelização, este preceito, é sempre apodítico.

Com base nisso, um dos textos sagrados que fundamentam muito bem esta premissa é encontrado no Evangelho de João, capítulo 7, versículos de 37 a 44.

Trata-se, resumidamente, da passagem de Jesus em Jerusalém por volta da comemoração de uma das três festas mais importantes para todo judeu, A Festa dos Tabernáculos. Conforme lemos, decorria-se o último dia da festa, deveras, o mais importante, pois, necessariamente neste dia, numa tradição que permeava as raias culturais em tela desde tempos outros, cada cidadão, num cortejo devidamente orquestrado, empunhava ramos de oliveira nas mãos, ao mesmo tempo em que orava por sete vezes ao redor do Altar das Ofertas Queimadas. Todavia, culturalmente falando, o fato que nos chama atenção é que durante os dias que antecediam este em questão, um sacerdote trazia um pouco de água em um vaso de ouro, água esta que, por sua vez, havia sido tirada do Tanque Siloé. Assim, sendo acompanhado pelo cortejo supra, o sacerdote seguia até o Templo, onde, diante do Altar, despejava a água, juntamente com vinho, ao mesmo tempo em que toda cerimônia era regada ao som da Halel (Salmos 113-118).

Para o devoto judeu, esta metódica cerimônia simbolizava, ou melhor, comemorava a provisão de água, fomentada por Deus, quando outrora, a rocha fora ferida por Moisés. Ato contínuo, também tinha como alvo buscar a benesse de Deus em favor de um ano bem servido por chuvas caudalosas, que, providencialmente, contribuiriam para um ano de colheitas fartas.

Ora, não é de admirar que neste contexto um pouco de água detivesse tamanho poder sobe as atenções do povo, pois, em se tratando de reservas hídricas, estamos falando de uma das regiões mais áridas do mundo. Depreende-se, desta nuance geográfica, que a água possuía um valor importantíssimo na vida dos judeus, e que, a simples menção há um ano desprovido sequer de poucos milímetros desta dádiva celeste, fomentava, obviamente, uma altercação no zelo de qualquer destes.

Sabendo disto, conforme percebemos, Jesus, sempre poderoso em palavras, numa profícua demonstração da importância do contexto para comunicação do Evangelho,talvez, procurando uma posição que o destacasse da multidão, gritava : “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”. Que mensagem! Isto sim é o que chamo de comunicar na linguagem do povo! Ora, todo aquele rito girava em torno do aprovisionamento de água, pois, conforme o povo compreedia ela era a "Fonte da Vida". Assim, através desta ponte cultural, Jesus, categoricamente afirmava: Eu Sou a fonte da Vida!

Pertinência, significância, esclarecimento, que mais poderia eu acrescentar a tão breves palavras que até hoje ressoam tão poderosamente. A verdade é que as pessoas procuravam suprir suas necessidades através de uma adoração vazia, pelo viés de uma cerimônia que exalava tradição por seus poros, mas, que não as conduzia ao encontro daquele que controla não só a chuva, mas, o Rio da Vida. Jesus demonstrava ao povo que eles não precisavam se desesperar, rasgar as vestes, chorar as cargas, ao simples fato de um tropeço do sacerdote que, inevitavelmente, derramava um pouco daquela riqueza tão cara e rara em suas debilidades. Ele dizia, em palavras assimiláveis, quem tiver sede, venha a mim e beba! Eu posso, dizia, agora mesmo, lhes transmitir a vida que a água vos transmite, e não apenas isso, mas, lhes proporcionar um advento de vida tal, que de seus ventres, fluirão rios de água da vida (V38).

Perceba, toda aquela multidão, implorando a plenos pulmões, hosana, hosana, hosana, tão somente procurando o auxílio do Deus Todo Poderoso, dizendo: Ó Senhor ajuda-nos! E Jesus, em resposta ao clamor do povo, respondendo de maneira que todo judeu (literalmente, pois, se tratava de santa convocação) lhe compreenderia prontamente, salvíficamente. Pois, em maior medida, a mensagem de Cristo lhes impulsionava não apenas a um novo direcionamento hídrico, mas, sobretudo, a uma novidade de vida que extrapolava a da simples água mineral, e saciava-os pela espiritual.

A profusão de um único rio talvez já bastasse, entretanto, Ele usa rios (plural), o que subtende o abastecer não só de uma única vida em especial, mas, de quem estiver disposto a recebê-lo.

Logicamente, conforme citado no verso (39), Jesus falava-lhes simbolicamente em referência ao Espírito Santo que haveria de receber todo aquele que n’Ele cresse. Mas, que não poderia ainda ser concedido, uma vez que, o próprio Jesus ainda não tinha sido glorificado, fato que inegavelmente apontava para o “derramar” do Espírito Santo, que ocorrera, posteriormente, no Pentecostes. O fato, é que este derramar, outrora prometido, hoje, é uma realidade “perene”, e disponível a todo aquele que, com sede, luta por suprir a cruciante necessidade da manutenção da vida, e esta, física e espiritual.

Hodiernamente, conforme bem dizia Dostoievski, as pessoas estão sim preocupadas em suprir suas necessidades, todavia, a semelhança dos antigos judeus, através de práticas que jamais conseguirão, pois, nas palavras do célebre escritor russo:

DENTRO DE CADA HOMEM EXSITE UM VAZIO DO TAMANHO DE DEUS.

Enfim, o que jesus estava procurando dizer era:

Preencha-se!