sexta-feira, 7 de maio de 2010

A CONTEXTUALIZAÇÃO NÃO NOS TORNA LIBERAIS.

Nunca tive dúvida alguma de que quem convence o homem do pecado, da justiça e do juízo é o Espírito Santo de Deus (Jo 16.8). Este convencimento, por sua vez, é produzido através da Pregação da Palavra de Deus de maneira pertinente e significativa. Com base nisso, ao contrário de muitos não me preocupo com resultados imediatos, com conversões em massa, ou mesmo com a forma com que a mudança regeneradora ocorrerá na vida do indivíduo que recebe a Palavra, seja em contexto transcultural ou não. Creio veementemente que minha única função é comunicar o Reino de Deus através do Evangelho de Cristo, e que os resultados, ficaram por parte de Deus. Minha única missão é me deter na comunicação. E para que ela tenha virtude em minha boca, procuro fazer com que o meu caráter preceda a minha habilidade de maneira que a minha vida se torne à vida de meu ministério. Ato contínuo, acredito que uma das maneiras de que dispomos para que esta comunicação se estabeleça de maneira genuína, seria através da pura e simples ortodoxia, a qual emana de uma vida de piedade e santidade.

Chamo atenção para o fato de que a premissa de se comunicar o Evangelho de maneira contextualizada não pressupõe de forma alguma um desapego à ortodoxia, absolutamente. É através da herança reformada de que dispomos que vislumbramos uma comunicação que conduza o receptor da mensagem a um Deus Soberano que nos encontra em estado de completa depravação, e que mesmo assim, conforme sua soberana vontade, se compadece de nós através do sacrifício perfeito de Nosso Senhor Jesus Cristo. Atentem para o fato de que é através da pregação do Evangelho que Deus transforma a vida do pecador.

Comunicar um evangelho dissociado das doutrinas inalienáveis da reforma é uma completa perca de tempo, pois, a ortodoxia está para o evangelho, assim como a contextualização está para aplicação da mensagem. Notem que é através de uma visão progressista que a perfeita comunicação se efetua. O evangelho precisa ser pregado levando-se em consideração a identidade cultural de cada povo, assim como o momento histórico vivido por ele. Todavia, não há que se confundir visão progressista com liberalismo teológico. Uma coisa não tem nada a ver com a outra, muito pelo contrário. O fato de se comunicar o Evangelho de maneira compreensível não pressupõe que o mesmo precise ser “diluído” para que as pessoas o compreendam. Isto é uma visão equivocada do que propõe a contextualização.

Muitos povos que teoricamente constam como “alcançados” infelizmente não estão tão bem evangelizados assim. Quando digo alcançados, necessariamente não associo presença evangélica com presença do evangelho. Existem povos que foram alcançados por evangélicos, mas que infelizmente não foram alcançados pelo evangelho. A Teologia Liberal em toda sua peçonha tem feito com que muito esforço e determinação culminem numa empreitada missionária desacreditada de verdade e vida. A comunicação de um evangelho que não expressa pormenorizadamente todo o desígnio de Deus não pode ser considerada salvífica, muito pelo contrário, é na verdade mais uma comunicação de engodo que precisa ser suplantada o quanto antes. Os liberais, hávidos por uma missiologia relacional, que suplanta a soberania de Deus, mais provocam dúvidas do que vida, e sempre que comunicam verdades apodíticas do Evangelho, o fazem de maneira que boa parte dos dogmas da igreja sejam vexosamente deixados de lado, para que ao seu bel prazer, às pessoas concebam um deus que não é o Deus soberano das Escrituras Sagradas, mas outro.

Em defesa da verdadeira missiologia, o missionário Ronaldo Lidório, sabiamente assevera que a comunicação intercultural do evangelho que não leva em consideração a contextualização, não passa de um simples compartilhar de idéias. Concordo plenamente. Porém, na mesma proporção, ao contrário do que crêem os liberais, creio que um Evangelho que não leve em consideração as verdades promulgadas pela Palavra de Deus em toda sua extensão, também não passa de um simples compartilhar de idéias. Ou seja, o evangelho pregado através de um viés neoliberal, em nada somará a vida dos ouvintes.

O que me faz prorromper em defesa dos sólidos alicerces ortodoxos em que repousam a missiologia genuína, são os comentários que vez por outra ouvimos de pessoas que pensam ser a comunicação contextualizada um sinônimo de liberalismo teológico. As doutrinas reformadas que emanam dos livros que relatam a história de missionários verdadeiramente comprometidos com o evangelicalismo retumbam em favor da práxis axiomática da comunicação centrada única e exclusivamente na Bíblia e comprovam que estão redondamente enganados todos os que pensam o contrário. Orgulho-me do fato de compartilhar o interesse pela compreensão do evangelho supracultural em contexto cultural com homens como o Apóstolo Paulo, Santo Agostinho, João Calvino, Martinho Lutero, William Karey, Hudson Taylor, David Brainerd, David Livinsgton, Jim Elliot e tantos outros que não compõem esta lista sucinta, mais que sem sombra de dúvida repousam seguros numa lista deveras mais importante.

É fato provado na história belíssima das chamadas “Missões Modernas” que o parâmetro que fez com que atuação missionária atendesse as expectativas almejadas foi a pregação da genuína Palavra de Deus na língua do povo de maneira a atender suas mais intimas expectativas. E isso, só foi possível graças ao legado imprescindível que nos foi deixado pela reforma. Falem na linguagem do povo! Era o grito de ordem dos nossos amados reformadores e foi ele que se fez ouvir no despertar missionário em tela. A ortodoxia que remonta o parecer apostólico e endossa nossas confissões de fé, é que foi decisiva para o despertar que nos impulsiona e alegra até os dias de hoje.

Depreende-se, que a comunicação conforme o padrão gramático-histórico das Escrituras, colocado em prática através da abordagem crítica da contextualização, nos dará a paz de que precisamos para deitarmos a noite e dormirmos tranqüilos na certeza de que “Estamos proclamando o Reino de Deus e vivendo o Evangelho de Cristo”. Mas, ainda assim, existem sempre aqueles que não querem dar ouvidos a verdade, conforme foi assaz demonstrada e continuarão a nos atacar rotulando-nos injustamente de liberais. Perseveremos, pois, existem muitos lugares para homens corajosos no céu, conforme bem nos alertou Paul Tournier:

O medo de ser julgado mata a
espontaneidade; impede os homens de se
manifestar e de se exprimir livremente, tal
como são. É preciso muita coragem para
pintar um quadro, para escrever um livro,
para construir um edifício com linha
arquitetônica nova ou pra formular uma
opinião independente, uma idéia original.


Nossa práxis remonta aquele que assumiu a semelhança de homem, o ápice da contextualização...

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