segunda-feira, 9 de julho de 2012

O PODEROSO EXEMPLO MORÁVIO

Poucos movimentos missionários ao longo dos tempos impactaram tão poderosamente a igreja mundial como o que surgiu em meados do século XVIII, sob a égide de um eminente conde alemão chamado Zinzendorf. Sob sua liderança a missão Moravia impactou todos os continentes com envio de missionários e apoio evangelístico a igrejas já implantadas. Tal foi o derramamento do Espírito Santo sobre aqueles jovens que os mesmos chegaram ao ponto de entregar-se como escravos para alcançar pontos longínquos do mundo de então. O despertamento missionário daquela geração foi tão grande que em vinte anos este movimento enviou mais missionários aos campos do que toda a igreja protestante em dois séculos.
Concordo com o Pastor Florêncio, falar da Morávia nos dias de hoje soa estranho aos nossos ouvidos. Apesar de sua aparente insignificância para história mundial, esta pequena região a muito absorvida pelas atuais nações do mundo figurou como o berço de um dos mais engajados movimentos de missões transculturais de todos os tempos. Entretanto, tudo começou algum tempo antes, na antiga Saxônia, quando nascia Nicolaus Ludwig Von Zinzendorf, no dia 26 de Maio de 1700, em Dresden, o qual ficou mundialmente conhecido como conde Zinzendorf. Este amado servo do Senhor, desde tenra idade já fora educado por sua família nos  caminhos de Deus. Seu pai morrera poucos dias após o seu nascimento, mas não antes de tomá-lo em seus braços e consagrá-lo ao sagrado ministério.

Desde então, Zinzendorf passara a ser cuidado por sua avó, a baronesa pietista Henrietta Catarina Von Gersdorf, a qual procurou fazer do lar de seu neto um lugar cheio de zelo pelas coisas do Senhor. Naturalmente, num clima que exalava um poderoso amor pelas coisas de Deus, o pequeno Zinzendorf, ainda com seis anos decidiu enfaticamente em seu coração: “Tenho apenas uma paixão. É Jesus, Jesus somente”.
Zinzendorf fora poderosamente influenciado pelo movimento pietista de sua época, o qual ocorreu dentro da igreja luterana no final do século XVII. Sob essa influência, o garoto saxão cresceu com o desejo profundo de entregar-se cada vez mais a obra de Deus. Neste azo, quando na escola primária, ali entre as crianças e adolescentes tornou-se líder das atividades religiosas, organizando entre os garotos a “Ordem do Grão de Mostarda”, cujo objetivo principal era a evangelização do mundo. O símbolo da ordem era um pequeno escudo, no qual estava escrito “Suas chagas nos curam”; e cada um dos membros da ordem também empunhava um anel, que dizia “nenhum homem é uma ilha”.
Ainda na juventude, Zinzendorf reuniu um grupo de pessoas para buscarem piedosamente a Deus, nunca passou pela mente daquele jovem apaixonado por Jesus dividir a igreja luterana, mas isso naturalmente aconteceu. Desde o princípio de sua vida religiosa Zinzendorf nutria o desejo de comunicar a Palavra de Deus a seus conterrâneos. O seu maior desígnio era consagrar a sua vida inteiramente a exposição do Evangelho. No entanto, antes de dar início a obra maravilhosa que se seguiria, o mesmo fora mandado por sua família para Wittemberg de 1716 a 1719 para estudar direito e assim ingressar no tão almejado funcionalismo público da época. Ao final do curso, que em tudo fora regado por leituras profundas dos melhores teólogos da época, Zinzendorf retorna a casa paterna e conhece aquela que seria sua mulher pelo resto de sua vida Edmuth Dorotéia, irmã do conde Henrique.
Destarte, a grande virada na vida de Zinzendorf aconteceu em 1722, em Dusseldorf, numa galeria de arte, quando viu diante de si o conhecidíssimo quadro ecce homo, que trazia inscrito: “Eu tudo fiz por ti, o que fazes por mim?”. Fato que tocou poderosamente o coração do jovem aristocrata que saiu dali com desejo resoluto de entregar a sua vida completamente ao serviço do Senhor. Algo que não seria fácil, uma vez que sua família queria que o mesmo aceitasse o serviço de eleitor na cidade de Dresden. A pressão fora enorme e naquele momento Zinzendorf percebeu que era hora de esperar, aceitou.
Neste ínterim junto com mais um nobre e dois pastores, o jovem magistrado funda o “pacto de quatro irmãos”, que tinha como meta levar o evangelho a todo o mundo. Nascia ali uma grandiosa obra. Em meados de 1736, tendo em vista o sucesso de sua empreitada, o mesmo fora banido da Saxônia, mas pouco tempo depois fora convidado a voltar e fundar uma comunidade. A verdade é que as coisas começaram a minguar com a saída do mesmo e penso que o governo entendeu que estar com ele seria infinitamente melhor do que perdê-lo.
Quatro anos antes desse acontecimento, ainda em 1722, por causa da grande perseguição na Boêmia, região próxima a Morávia, Zinzendorf permitiu que um grupo de irmãos se refugiasse na sua propriedade rural de Berthelsdorf. Desde então essa propriedade passou a ser habitada por boêmios, alemães e outros perseguidos religiosos. Para atender suas necessidades espirituais Zinzendorf funda a comunidade denominada Herrn-hut, que significa “Abrigo do Senhor”. O próprio conde e sua família residiam ali. E para que isso  fosse possível o mesmo demitira-se do emprego, para frustração da a aristocracia da época. O sonho deste jovem servo do Senhor era restaurar a mesmo paixão no povo alemão como o fora nos dias de João Huss e canalizar tudo isso para a obra missionária.
Uma vez iniciado este maravilhoso projeto, o dia “D” para seu adimplemento fora 13 de Agosto de 1727 - era celebrada a Ceia do Senhor em Herrn-hut -, quando o Espírito Santo veio sobre eles de uma forma tão poderosa que a partir daquela data surgiu um grupo cheio de comunhão entre os irmãos com o objetivo de ganhar todo o mundo para Cristo, essa reunião de oração durou por um século inteiro. Assim, nascia a Missão Morávia. Zinzendorf então torna-se o líder espiritual destes célebres missionários do Senhor até a sua morte, que ocorreu em 9 de Maio de 1760. O velho conde esteve à frente dos trabalhos por cerca de 30 anos.
Apesar de não ter frequentado um curso de teologia, Zinzendorf tornou-se um obreiro leigo da igreja luterana e serviu em Herrn-hut por toda a vida. O mesmo é tido como um poderoso pregador que difundiu com suas mensagens um grande ardor missionário.
Os morávios que a princípio surgiram de um grupo de irmãos que vinha sobrevivendo atrás das linhas inimigas da perseguição - o “Unitas Fratrum” um grupo de evangélicos genuínos que sobreviviam à surdina desde os idos de Huss. Ao serem aceitos por Zinzendorf prometeram retribuir a oportunidade entregando-se completamente a Deus como missionários. Desde então os mesmos tornaram-se muitíssimo conhecidos como missionários pioneiros em campos longínquos por todo o mundo. Para se ter uma idéia antes dos morávios a igreja protestante não possuía um trabalho forte de missões, tanto é que em vinte anos a Missão Morávia enviou mais missionários ao mundo do que toda a igreja junta em três séculos de história. Não é a toa que o século XIX é tido como o “Grande Século”.
Fora a partir dos morávios que foram criadas as sociedades missionárias da Inglaterra, Escócia, Estados Unidos e muitas outras. As quais enviaram grades missionários ao campo tais como William Carey, Hudson Taylor, Adoniram Judson, David Livingstone dentre outros tantos anônimos que foram tão importantes para o Reino de Deus.
Era impressionante o amor com que eles serviam a Deus como missionários. Geralmente viajavam sem qualquer sustento, como hoje conhecemos os Fazedores de Tendas. Sendo embalados pelo hino escrito por Zinzendorf “Cristo ainda nos conduz”.
Os morávios foram os primeiros a evangelizar os judeus, além de irem a várias partes do mundo tais como Rússia, Groelândia, Labrador, Ilhas do Caribe, América do Norte, Costa da América do Sul, sul da Ásia, chegando à Índia e Ceilão. Concordo com o Pastor Florêncio ao atribuir tamanho sucesso a uma vida de entrega total a Deus a qual fora regada exaustivamente a uma vida de devota oração. Nenhuma outra equipe de missionários na história conseguiu tamanho sucesso na oração!
O lema que impulsionava estes servos valorosos do Senhor por todo o mundo era:
Nosso cordeiro venceu, vamos segui-lo
Finalmente, minha oração é no sentido de que este mesmo amor por missões inunde a igreja nos dias de hoje. De modo que o nome do Senhor seja glorificado entre aqueles que ainda não o conhecem. Oh Senhor, dá-nos outra Morávia!

Fonte: ATAÍDES, Florêncio Moreira de História das Missões Moravianas/ Arapongas: Aleluia, 2008.           

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