Em todas as culturas se tem um entendimento, ainda que tácito, do que venha a significar uma aliança. In illo tempore povos de ascendência nômade demarcavam sua linha de circunscrição a partir de elementos que acreditavam sagrados e apercebidos da realidade advinda destas hierofanias organizavam um espaço que até bem pouco tempo era desprovido de sentido, amorfo.
Com vistas ao aperfeiçoamento deste espaço agora organizado – cosmos – os povos que viveram esta experiência no illud tempus, na iminência de aplacar a ira de possíveis espíritos anteriores a esta organização, os quais se mostravam irados com o novo status quo alcançado pela presença do item sagrado – um totem, um poste sagrado, uma tenda mística, um altar de holocaustos – impingiam as mais variadas formas de castigo aos povos que abitavam seus respectivos “domínios”. Destarte, fora a tentativa de apaziguar estes espíritos que dominavam o espaço habitado por estas tribos que fomentaram a necessidade de “alianças”.
A questão era basicamente esta. Os seres míticos acreditavam que momentos de escassez, mortes por doenças diversas, supremacia de povos/tribos inimigas, catástrofes naturais e coisas do tipo eram produtos da excentricidade dos deuses. Por vezes, na falta de uma maior devoção por parte destes povos (?) os deuses permitiam tais coisas na iminência de fazer com que tais povos lhes conferissem a atenção devida outrora negligenciada – fato típico da mitologia grega.
Com base no exposto é que entendemos ter surgido no seio da humanidade o conceito de alianças conforme depreendemos hoje. Com vistas a dirimir o máximo possível a sempre instável “longanimidade” dos deuses, os povos comumente antecipavam os momentos de calamidades com ritos de adoração que ambicionavam antecipar a sempre presente “cólera” dos mesmos. Desta forma, periodicamente estes povos – na pessoa de seus respectivos xamãs – firmavam compromissos de antecipada devoção – alianças – com seus respectivos deuses. A tônica de tais ritos de adoração era basicamente esta: eles se comprometiam a não negligenciar suas responsabilidades enquanto dominados, desde que os deuses cumprissem com suas responsabilidades de mantenedores da ordem necessária a vida da comunidade na qualidade de dominadores. A questão era simples; os povos faziam compromisso de manterem tenra devoção aos deuses que supostamente os dominavam e com isso se eximiam de amargar as intempéries provocadas pelos mesmos.
Tal tentativa de convívio mútuo envolvendo adoradores e adorados seria uma fórmula certa para o sucesso. Contudo, não é assim que percebemos tal convívio. São inúmeros os casos de catástrofes naturais e massacres de povos inteiros ao longo da história das civilizações. Fatos que nos impõem a obrigação intelectual de nos perguntarmos: em que sentido estes povos que se fizerem tão subservientes em relação aos seus deuses erraram? Porque estes deuses sendo tão apetecidos de adoração não cumpriram com sua parte no acordo firmado por meio das alianças? Simples!
A aliança só possui valor metafísico se partir dos deuses em relação aos homens e nunca se partir dos homens em relação aos deuses.
Sendo assim, onde encontrarmos uma aliança que tenha valor verdadeiramente sagrado? Onde encontrar em meio à história da humanidade uma aliança que possua de fato e de direito a aquiescência de um ser superior?
Ora, o único exemplo de uma aliança com estas características encontramos tão somente no que conhecemos por CRISTIANISMO.
Apenas no cristianismo a aliança parte de Deus em relação ao homem e não do contrário. Aqui é Deus quem cria o homem e o estabelece em seus domínios, fomentando-lhe o essencial a preservação da vida e com Ele firmando uma aliança. Interessante notar que nesta aliança todo o interesse é de Deus em manter o homem na sua presença livrando-lhe com isso de todo o tipo de mal que por ventura lhe pudesse ocorrer. Não há na história da raça humana Deus qualquer que se submeta a satisfação de sua criação sem que com isso a dignidade da mesma venha a ser depreciada. Nesta economia Deus é glorificado por sua suficiência e o homem é preservado pela suprema misericórdia de Deus.
Interessante ainda é perceber que alhures a crassa rebeldia do homem em não reconhecer a misericórdia de Deus e contra ela romper com Ele os laços ora firmados por meio da desobediência (vide Gn 3.1-17), Deus ainda assim prova o seu amor despretensioso para com o homem punindo-lhe com justa medida sua insensatez, mais ao mesmo tempo firmando com Ele um compromisso de restauração que daria sentido ao que chamamos de história da humanidade (Gn 3.15).
Não é objeto “deste” discorrer sobre a sucessão de alianças que O Ser Todo Poderoso firmou com sua criatura. Entretanto, se faz necessário frisar que tal iniciativa da Pessoa Divina em tudo denota a verdade de que é Deus quem encontra o homem e transforma-lhe a vida. Apenas a aliança vindicada na perspectiva cristã produziu resultados positivos para humanidade. Dado seu caráter sagrado por ter origem imanente.
A verdadeira aliança é a que parte Deus.
“Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” Hb 8.10
O homem por suas próprias forças jamais conseguiria uma aliança com um Deus grandioso assim. Por isso coube ao mesmo agraciar ao homem com sua maravilhosa presença.
A relevância desta aliança aponta para o fato de que sendo Deus o autor e consumador do contato com o homem, este se vê livre pela palavra de um ser que não pode mentir da mais variadas agrúrias que um reles mortal estaria sujeito. Aqui não é o homem que se vê as voltas para livrar-se da excentricidade de um deus, e sim um Deus que promete para sua própria satisfação que protegeria o homem mesmo que esse não merecesse. Esta postura sui generis do Deus de Israel causa uma “dobra” no estudo da fenomenologia da religião por que rompe com o encontrado em todas as demais culturas e desta forma faz com o que o cristianismo seja um divisor de águas no que tange ao estudo das religiões.
O que se percebe a partir da leitura da Bíblia Sagrada – livro que vindica autoridade sobrenatural no cristianismo – é que Deus procura fazer com que o homem perceba que a finalidade precípua da aliança ora aventada não é necessariamente a proteção/satisfação do homem, e sim, a manifestação da Glória de Deus.
“Para que se saiba desde o nascente do sol, e desde o poente, que fora de mim não há outro; eu sou o SENHOR, e não há outro. Eu formo a luz, e crio as trevas; eu faço a paz, e crio o mal; eu, o SENHOR, faço todas estas coisas”. Isaías 45:6-7
“Lembrai-vos das coisas passadas desde a antiguidade; que eu sou Deus, e não há outro Deus, não há outro semelhante a mim. Que anuncio o fim desde o princípio, e desde a antiguidade as coisas que ainda não sucederam; que digo: O meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade”. Isaías 46:9-10
Deus está fazendo a sua vontade, executando o seu projeto! Não há que se aventar submissão de IHWH ao homem que é sua criação, mas sim a completa misericórdia do mesmo em permitir a sobrevivência do homem em sua presença sem que a percepção do mesmo altere em nada a magnitude de seu Ser. Percebesse que o sucesso da aliança consiste na manutenção da glória de Deus que; sendo perfeito em todos os seus atributos confere ao homem a graça de permanecer em sua presença, sendo a sobrevivência e proteção do mesmo consequências acessórias ao projeto de Deus e nunca o seu fim.
Portanto, depreende-se que a aliança que Deus firmou com o homem consiste no fato de que a satisfação de Deus na glorificação do seu Ser empresta ao homem a prerrogativa de existir. Não há motivo para existência do homem a distrito da magnificação do ser absoluto de Deus. O que nos infere logicamente que a preservação da raça humana não é o fim último da aliança que Deus firmou com a mesma, e sim, condição mínima de execução de seu projeto que é a manifestação de sua glória sempiterna a seres que foram criados propositalmente com a capacidade de contemplá-la.
Em suma:
“Porque Deus, que disse: Das trevas resplandecerá a luz, ele mesmo resplandeceu em nosso coração, para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Cristo” 2 Coríntios 4.6
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