segunda-feira, 12 de julho de 2010

LIBERDADE, PARA QUE?


Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo” (II Co 2.14a). Não existe nada melhor que ser conquistado por Cristo, vencido por Ele, subjugado pelo seu poderoso poder, agrilhoado pelas correntes do Evangelho. Pode soar estranho, pois, diante das minhas afirmações, prontamente nos vem à mente o poderoso texto de Gálatas 5.1Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. Então pensamos, se Cristo nos conquistou para gozarmos de inteira liberdade n’Ele, como agora podemos dizer que temos prazer em nos encontrar cativos de seu imenso poder, este mesmo que nos libertou? A resposta a esta pergunta é o ápice do cristianismo como estilo de vida.

Se não vejamos. Para que haveremos de querer ser livres? De que nos adianta reivindicarmos liberdade? Não é esta a premissa de nossa geração? Liberdade. Mas, liberdade para que? Meditando sobre estas questões cheguei inevitavelmente a uma conclusão. Não quero ser livre. Eu não agüento nem ao menos pensar em ser livre. De fato, odeio tão somente a possibilidade de poder escolher por qualquer coisa.

Mas, de onde me vem tanto receio? É simples. Ao fazer uma breve reflexão, descobri que, todas as vezes que procurei (se é que é possível) viver de acordo com minhas convicções, apenas me decepcionei, e invariavelmente consegui mais problemas com que me preocupar. Descobri que neste mundo funesto, não existe nada mais aprazível, mais sublime, mais apaixonante que viver sobre a poderosa intervenção de Deus. De modo que, toda minha vontade fosse perdida em sua vontade absoluta, sem que ao menos eu tivesse um simples vislumbre de como poderia ser se, ao menos, eu pudesse opinar.

Vivendo sobre minhas convicções, eu acordava pela manhã e, às vezes, sentia-me feliz. Mas, bastava o dia timidamente começar e lá estava eu perdido em meus afazeres, alheio a centelha de felicidade outrora experimentada. Prontamente perguntava-me: Como a felicidade passou por mim sem que a agarrasse, sem que me deleitasse mais efusivamente nela? Por que cargas d’água não me sinto mais absorto em Deus, meu único deleite? Simplesmente, o dia, naturalmente, o absorveu. Inconscientemente eu apenas vivia, sem culpa alguma, eu apenas vivia. E inexoravelmente, em minha vida, bem vivida, alheia ao pecado e sujeita a ele em termos acidentais, as tarefas me roubavam d’Ele, simplesmente.

Quando, pois, percebia o terrível abismo que me espreitava, resolutamente procurava me recompor, lembrar-me de onde inexplicavelmente eu havia caído e, como um corifeu da fé, recomeçava a minha jornada épica em busca de plena satisfação em Deus. Ato contínuo, momentos depois, recomeçava tudo de novo. “Esmurrava o meu corpo” em busca dos paladinos que me serviam de exemplo, e para meu total desgosto, sempre encontrava-me aquém de suas mais tímidas empreitadas.

Diante desta situação, mais parecia com um discípulo de Sísifo, que de Cristo. Achava que estava em mim o querer, o buscar, o entender – esforçava-me. Que ingênuo fui. A partir de então, em meio a angústia de não encontrar a plena satisfação que perseguia, resolvi entregar-me, completamente, nas mãos de Deus. Sábia decisão! Iniciava-se minha saga por compreensão, sempre regada a mais tenra espiritualidade e a mais singela dependência. No meio do caminho encontrei-me com o Pr. Hernandes Dias Lopes e com o Pr. John Piper, já quase convencido de que algo novo poderia encontrar-me, encontrei-me com Paulo, e, a partir dele, com Cristo. Só que agora, em fim, e porque não finalmente, com uma nova compreensão.

Descobri, com estes homens experimentados, que Deus encontra-se mais glorificado quando estamos mais satisfeitos n’Ele. Que inevitavelmente viveremos plenamente satisfeitos se buscarmos a duras penas a satisfação de Deus, a manifestação sempiterna de sua glória; e não a nossa própria alegria e deleite. Percebi que ingenuamente eu freqüentava a igreja na iminência de fazer-me feliz, de me satisfazer, de viver mais um culto cheio de vida e sair dali alimentado com sólido alimento espiritual – Esquecia-me de minha única utilidade, o motivo que da razão a minha existência e a tudo o mais, a glória de Deus. Nesta perspectiva, descobri um novo sentido para o termo liberdade, a saber.

Ser livre é ser feliz, e felicidade é encontrar satisfação, e satisfação só encontramos em Deus. Após esta humilde e talvez óbvia observação, resolvi usar minha tão cara liberdade para tornar-me um escravo. Deliberei em meu coração usar todas as minhas forças para conseguir ser aceito na lida de Cristo, em sua “senzala” (permitam-me o termo, a pesar de sua inditosa conotação). Tenho buscado para mim, ser um escravo a semelhança daquele que culturalmente conhecemos, entretanto, não pelos mesmos motivos. Os escravos que conhecemos, e que penosamente foram injustiçados pelos prazeres avaros dos homens ignóbeis e vis em seus projetos ardilosos, serviam contra sua vontade e, a todo custo (mesmo com o da própria vida), procuravam fugir e encontrar guarida noutras paragens (Quilombos), sonhavam em ser livres, em voltar ao seio da bendita e amada liberdade. Eram homens e mulheres de valor, guerreiros de denodo pungente, humanos a mais sensível semelhança que qualquer outro. Entretanto, eu, “quero” ser um escravo. Não quero ter vontade própria, escolher quais serão minhas atividades, o que terei de comer ou mesmo o que terei que vestir – Quero a penas depender, obedecer, perder-me inteiramente na vontade de meu Senhor, escravizar-me.

Tudo isto, para ter a certeza que jamais me imiscuirei em meus próprios desejos, em meus próprios projetos. Para poder ouvir a tenra voz de meu Senhor a me ordenar nas coisas mais simples. Pois, ao contrário do sempre vil senhor de escravos que clivou os anais da história com suas práticas vexosas, o meu Senhor, vitorioso em me dominar, “sempre me conduz em triunfo”. Ou seja, meu Senhor tem prazer em me conduzir perante todos os homens como seu escravo (cativo pela batalha travada na cruz) e na mesma proporção eu tenho sublime deleite em me ver agrilhoado pelas garras da graça (que tanto me orgulham), acompanhando a pouca distância meu amado amo em vista de todos. Pois, para glória de Deus, percebi que, quando em fim perdi minha vida em Cristo (Mt 10.39), a encontrei. Percebi que deixando de viver para mim mesmo, e tornando-me cativo a vontade de Cristo, a felicidade não mais me abandonou, tornou-se eterna.

Pois o meu Senhor é a maior dádiva a que se pode ter, a maior alegria que se pode achar, o maior dom do Evangelho. Ele, sendo suserano, de que terei falta?(Sl 23.1) Oh, prefiro perder-me a vontade n’Ele, pois, “Ele me fará ver os caminhos da vida; na sua presença a plenitude de alegria, na sua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

Concluo – Se Cristo sempre nos conduz em triunfo, vos indago: Liberdade, para que?






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