domingo, 18 de julho de 2010

SHUTRUK-NAHUNTE, QUEM?


Shutruk-Nahunte I foi um líder elamita. Em meados de 1158 a.C. colocou a região de Elam (atualmente no sudeste do Irã) em seu apogeu.

Pouco se conhece da história de Shutruk-Nahunte. Filho de Hubannumena (Haludusinsusinak), pai de Kutir Nahunte II e o iniciador da dinastia Shutrukkides ou Shutrukida (Haludusinsusinak, Shutruknahunte I, Kutirnahunte II, Silhakinsusinak I, Huteludusinsusinak, Silhinahamrulagamar, Humbannumena II, Shutruknahunte II, Shuturnahunte I, Aksirnahunte Aksirsimut). Sabe-se também que ele foi rei da Anshand e Susa, sendo assim soberano da região de Elam durante 1180-1155a.C. Destruiu a cidade de Sippan (Sippar) com o "comando" do seu Deus Inshushinak. Acreditava também na deusa Napirisa (Kiririsha) tendo levantado um templo à ela em Liyan. Capturou muitos itens e levou para Susa, dentre eles as estelas de Hamurabi da Assíria e a estela de Naram Sin (Nirah-Sin) da Acádia, esta última foi levantada em homenagem ao seu Deus Inshushinak.

Shutruk-Nahunte é citado no filme "The Emperor's Club" (O Clube do Imperador, Universal, 2002), onde um professor de história o cita justamente por ser alguém que fez grandes conquistas por puro egoísmo, de forma que foi esquecido pela história. Shutruk-Nahunte também é citado no filme "Dead Poets Society" (Sociedade dos Poetas Mortos, drama estrelado por Robin Williams). Também, graças a sua qualidade de conquistar territórios sem porpósito algum [1]

Sucintamente, esta é a história de Shutruk-Nahunte. Um rei que em sua geração sobrepujava a todos. Por falta de notoriedade em seus feitos, o fato que melhor tem concorrido para posteridade é uma antiga citação que, segundo consta, foi proferida pelo mesmo.

Eu sou Shutruk-Nahunte, Rei de Anshand e Susa, Soberano da Terra de Elam. Sob o comando de Inshushinak, eu destruí Sippar, capturei a estrela de Nirah-Sin e a levei de volta a Elam onde eu a plantei como uma oferenda a meu Deus Inshushinak”. Shutruk Nahunte - 1158 A.C[2]

Diante deste arroubo de relevância, o mundo grita – e daí? O fato é que Shutruk-Nahunte, quando lembrado, é sempre sinônimo de egoísmo, de irrelevância. Tudo porque, enquanto governante, ele jamais se preocupou com os outros, mas, apenas consigo próprio, e, no afã de conseguir sempre mais, acabou por construir um grande império, só que erigido sobre um monturo de trivialidades. O que prova que, quando nossas atitudes não vislumbram um bem maior, elas são sempre fulgazes, efêmeras.

Nossa geração está repleta de homens à semelhança de Shutruk-Nahunte. Homens que andam as voltas com seu poderoso “umbigo”, e que vivem aquém da realidade que os cerca. Pessoas deste tipo estão sempre a procura de auréolas, de projeção celestial. Com suas vidas procuram a todo custo ofuscar a Glória sempterna do Todo Poderoso. Enrredam-se pelo pior de todos os erros. A paixão pela glória.

O fato é que Deus não compartilha de sua Glória com ninguém. Aqueles que escolhem este caminho, averão de encontrar-se com Caim, Balaão e Corá (Jd 11). Ai deles, pois, este caminho é caminho de morte.

Todavia, aqueles que em sua vida ambicionaram a projeção de outrem, sempre serão lembrados. Não como vassalos, mas, como idealizadores de um novo mundo. A história sempre é benévola com os coadjuvantes.

No campo espiritual, não é diferente. Nós temos aprendido assim – a quem honra, honra. Não se trata de retribuição, mas, de uma circunstância natural – somos aperfeiçoados para as boas obras. Todo aquele que vive, enquanto servo de Deus, não vive mais de maneira amorfa. Ele agora passa a ser uma pessoa de mente transformada, que possui a única missão de transformar todo o espaço em que vive, de modo a impactar e beneficiar a vida dos demais, não para deleite próprio, mas, para alegria dos demais e, inevitavelmente, para Glória de Deus.

Por isso, Shutruk-Nahunte não têm parte nesta extirpe, uma vez que, ele vivia para sua própria glória e, apesar dos reveses da vida, conseguiu. Só que como a luz que ele produzia só brilhava em si mesmo, com a sua morte, sua luz também se foi, apagou-se, nada mais restou, apenas vaidade. Em seu vexame, Shutruk-Nahunte me faz lembrar um pensamento de José Ingenieros[3]:

A popularidade ou a fama costumam dar, transitoriamente, a ilusão da glória. São suas formas expúrias e subalternas, externas porém, não profundas, esplendorosas mas fugazes. São mais que o simples êxito, acessível ao comum dos mortais, porém são menos que a glória(...) São ouropel, pedra falsa, luz de artifício. Manifestações diretas do entusiasmo gregário e, por isso mesmo, inferiores: aplauso de multidão, com algo de frenesi inconsciente e comunicativo. (...) tais aspectos caricaturescos da celebridade dependem de uma aptidão secundária (...), ou de um estado acidental da mentalidade coletiva. Amenizada a aptidão, ou transposta a circunstância, voltam a sombra e assistem am vida seus próprios funerais. Então pagam caro sua notoriedade; viver em perpétua nostalgia é o seu martírio”.

Diante da bela explanação de Ingenieros, reflita. Vale mesmo a pena afadigar-se em busca da própria glória? Como você será lembrado? De que forma será julgado?

A bíblia está repleta de testemunhos de homens que lutaram a todo custo para se perderem em Deus, para tributarem a Ele toda a glória por seus feitos. Homens que fizeram tudo o possível para passarem disapercebidos pela história, e que até acharam que haviam conseguido, todavia, aprouve a Deus conseder-lhes lugar de honra e, na cruciante batalha em prol da manifestação da glória de Deus, jamais serão esquecidos, porque “Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus” Hb 11.16.

Todos nós vivemos por um único motivo, a manifestação da Glória de Deus, nunca a nossa. Não caia no erro de Shutruk-Nahunte. O tempo urge. Aproxima-se o dia em que você ouvirá – “Vinde benditos de meu pai!” (Mt 25.34) ou – “Shutruk-Nahunte! Chegaram os que faltavam!”.

A partir de agora é com você! Seja utilizável, abençoe, sirva, viva! Em ti serão benditas todas as famílias da terra!

[1] Enciclopédia Livre.

[2] Encontrando todos os deuses.

[3] INGENIEROS, José O homem medíocre/ 1ª Ed. Curitiba: Juruá, 2009.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

LIBERDADE, PARA QUE?


Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo” (II Co 2.14a). Não existe nada melhor que ser conquistado por Cristo, vencido por Ele, subjugado pelo seu poderoso poder, agrilhoado pelas correntes do Evangelho. Pode soar estranho, pois, diante das minhas afirmações, prontamente nos vem à mente o poderoso texto de Gálatas 5.1Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão”. Então pensamos, se Cristo nos conquistou para gozarmos de inteira liberdade n’Ele, como agora podemos dizer que temos prazer em nos encontrar cativos de seu imenso poder, este mesmo que nos libertou? A resposta a esta pergunta é o ápice do cristianismo como estilo de vida.

Se não vejamos. Para que haveremos de querer ser livres? De que nos adianta reivindicarmos liberdade? Não é esta a premissa de nossa geração? Liberdade. Mas, liberdade para que? Meditando sobre estas questões cheguei inevitavelmente a uma conclusão. Não quero ser livre. Eu não agüento nem ao menos pensar em ser livre. De fato, odeio tão somente a possibilidade de poder escolher por qualquer coisa.

Mas, de onde me vem tanto receio? É simples. Ao fazer uma breve reflexão, descobri que, todas as vezes que procurei (se é que é possível) viver de acordo com minhas convicções, apenas me decepcionei, e invariavelmente consegui mais problemas com que me preocupar. Descobri que neste mundo funesto, não existe nada mais aprazível, mais sublime, mais apaixonante que viver sobre a poderosa intervenção de Deus. De modo que, toda minha vontade fosse perdida em sua vontade absoluta, sem que ao menos eu tivesse um simples vislumbre de como poderia ser se, ao menos, eu pudesse opinar.

Vivendo sobre minhas convicções, eu acordava pela manhã e, às vezes, sentia-me feliz. Mas, bastava o dia timidamente começar e lá estava eu perdido em meus afazeres, alheio a centelha de felicidade outrora experimentada. Prontamente perguntava-me: Como a felicidade passou por mim sem que a agarrasse, sem que me deleitasse mais efusivamente nela? Por que cargas d’água não me sinto mais absorto em Deus, meu único deleite? Simplesmente, o dia, naturalmente, o absorveu. Inconscientemente eu apenas vivia, sem culpa alguma, eu apenas vivia. E inexoravelmente, em minha vida, bem vivida, alheia ao pecado e sujeita a ele em termos acidentais, as tarefas me roubavam d’Ele, simplesmente.

Quando, pois, percebia o terrível abismo que me espreitava, resolutamente procurava me recompor, lembrar-me de onde inexplicavelmente eu havia caído e, como um corifeu da fé, recomeçava a minha jornada épica em busca de plena satisfação em Deus. Ato contínuo, momentos depois, recomeçava tudo de novo. “Esmurrava o meu corpo” em busca dos paladinos que me serviam de exemplo, e para meu total desgosto, sempre encontrava-me aquém de suas mais tímidas empreitadas.

Diante desta situação, mais parecia com um discípulo de Sísifo, que de Cristo. Achava que estava em mim o querer, o buscar, o entender – esforçava-me. Que ingênuo fui. A partir de então, em meio a angústia de não encontrar a plena satisfação que perseguia, resolvi entregar-me, completamente, nas mãos de Deus. Sábia decisão! Iniciava-se minha saga por compreensão, sempre regada a mais tenra espiritualidade e a mais singela dependência. No meio do caminho encontrei-me com o Pr. Hernandes Dias Lopes e com o Pr. John Piper, já quase convencido de que algo novo poderia encontrar-me, encontrei-me com Paulo, e, a partir dele, com Cristo. Só que agora, em fim, e porque não finalmente, com uma nova compreensão.

Descobri, com estes homens experimentados, que Deus encontra-se mais glorificado quando estamos mais satisfeitos n’Ele. Que inevitavelmente viveremos plenamente satisfeitos se buscarmos a duras penas a satisfação de Deus, a manifestação sempiterna de sua glória; e não a nossa própria alegria e deleite. Percebi que ingenuamente eu freqüentava a igreja na iminência de fazer-me feliz, de me satisfazer, de viver mais um culto cheio de vida e sair dali alimentado com sólido alimento espiritual – Esquecia-me de minha única utilidade, o motivo que da razão a minha existência e a tudo o mais, a glória de Deus. Nesta perspectiva, descobri um novo sentido para o termo liberdade, a saber.

Ser livre é ser feliz, e felicidade é encontrar satisfação, e satisfação só encontramos em Deus. Após esta humilde e talvez óbvia observação, resolvi usar minha tão cara liberdade para tornar-me um escravo. Deliberei em meu coração usar todas as minhas forças para conseguir ser aceito na lida de Cristo, em sua “senzala” (permitam-me o termo, a pesar de sua inditosa conotação). Tenho buscado para mim, ser um escravo a semelhança daquele que culturalmente conhecemos, entretanto, não pelos mesmos motivos. Os escravos que conhecemos, e que penosamente foram injustiçados pelos prazeres avaros dos homens ignóbeis e vis em seus projetos ardilosos, serviam contra sua vontade e, a todo custo (mesmo com o da própria vida), procuravam fugir e encontrar guarida noutras paragens (Quilombos), sonhavam em ser livres, em voltar ao seio da bendita e amada liberdade. Eram homens e mulheres de valor, guerreiros de denodo pungente, humanos a mais sensível semelhança que qualquer outro. Entretanto, eu, “quero” ser um escravo. Não quero ter vontade própria, escolher quais serão minhas atividades, o que terei de comer ou mesmo o que terei que vestir – Quero a penas depender, obedecer, perder-me inteiramente na vontade de meu Senhor, escravizar-me.

Tudo isto, para ter a certeza que jamais me imiscuirei em meus próprios desejos, em meus próprios projetos. Para poder ouvir a tenra voz de meu Senhor a me ordenar nas coisas mais simples. Pois, ao contrário do sempre vil senhor de escravos que clivou os anais da história com suas práticas vexosas, o meu Senhor, vitorioso em me dominar, “sempre me conduz em triunfo”. Ou seja, meu Senhor tem prazer em me conduzir perante todos os homens como seu escravo (cativo pela batalha travada na cruz) e na mesma proporção eu tenho sublime deleite em me ver agrilhoado pelas garras da graça (que tanto me orgulham), acompanhando a pouca distância meu amado amo em vista de todos. Pois, para glória de Deus, percebi que, quando em fim perdi minha vida em Cristo (Mt 10.39), a encontrei. Percebi que deixando de viver para mim mesmo, e tornando-me cativo a vontade de Cristo, a felicidade não mais me abandonou, tornou-se eterna.

Pois o meu Senhor é a maior dádiva a que se pode ter, a maior alegria que se pode achar, o maior dom do Evangelho. Ele, sendo suserano, de que terei falta?(Sl 23.1) Oh, prefiro perder-me a vontade n’Ele, pois, “Ele me fará ver os caminhos da vida; na sua presença a plenitude de alegria, na sua destra, delícias perpetuamente” (Sl 16.11).

Concluo – Se Cristo sempre nos conduz em triunfo, vos indago: Liberdade, para que?






terça-feira, 6 de julho de 2010

CARGO CULTS.


O Cargo Cults ou Culto de Carga é um tipo de prática religiosa que pode aparecer em sociedades tribais tradicionais. Os cultos estão centrados na ostentação da riqueza material da “cultura avançada”, através de pensamentos mágicos, rituais religiosos e práticas místicas. Os nativos que cultuam desta maneira acreditam que as riquezas pertencentes aos “brancos” eram destinadas a eles por seus “deuses e ancestrais” [1].

Na região do Congo, pode-se observar um exemplo clássico desta prática. Por estas cercanias, existe um mito que diz que por ocasião da independência do país (em suas lutas étnicas), em algumas aldeias os indígenas retirarão os tetos das casas, a fim de dar passagem as moedas de ouro que seus ancestrais farão chover (...) Em meio ao abandono geral (por parte das autoridades e dos próprios nativos que deixam suas habitações sem qualquer manutenção), apenas os caminhos que levam aos cemitérios são conservados, a fim de permitir que os ancestrais cheguem a aldeia. Percebemos neste mito ainda outra prática comum, pois, os recorrentes excessos orgiáticos significam, segundo o mito, que ao despontar desta nova era fundada com o Cargo Cults, todas as mulheres pertencerão a todos os homens [2].

Em meados do século XX, uma idéia melhor burilada deste mito passou a figurar em meio aos círculos acadêmicos. Os eruditos procuravam uma explicação mais plausível a manifestação cultural em tela. A partir desta premissa, novas teorias a respeito do surgimento deste rito foram surgindo, dentre elas destacamos a que diz que com a aproximação do homem branco (usamos esta nomenclatura apenas como uma forma de diferenciar o nativo do visitante) em território nativo, este último percebeu que os visitantes recebiam suas “encomendas” (cargas) através de navios ou aviões. Assim, os nativos, por não compreenderem a origem destas cargas, mais reconhecendo seu valor pecuniário, acabavam por atribuir estas remessas a entidades espirituais, o que inevitavelmente fomentou o tipo de culto que ora analisamos.

A maneira que os eruditos encontraram para substanciar suas conjecturas lhes foram advindas dos próprios nativos que em seu zelo pela acolhida da “carga sagrada” abriam clareiras nas selvas numa espécie de imitação dos aeroportos onde as “canoas voadoras” poderiam pousar com suas cargas sagradas; além destes pseudoaeroportos encontraram ainda a elaboração fictícia de rádios, equipamentos de comunicação, roupas características dos pilotos e marinheiros, e até réplicas de aviões talhadas em madeira. Tudo isso, servindo para provar que este mito não tinha origem “in ilo tempore”, mas, na chegada do visitante que deveras avançado exercia forte influência em meio à cultura nativa invariavelmente menos desenvolvida. Todas estas manifestações culturais serviram como prova do gérmem do Cargo Cults.

O fato que nos chama atenção e que nos impulsiona à escrita deste artigo é a premissa de que este mito pode servir como uma ponte para comunicação do Evangelho. Esta exótica manifestação cultural, mesmo em meio a este aparato “fantástico” pode ser revertida em Glória a Deus. Se não vejamos, diz o mito que no tempo da libertação, quando o deus tribal local enfim triunfar sobre todos os seus adversários, então, a “Carga Sagrada” será o coroamento da vitória e apontará para o triunfo final de todos os que esperaram esta dádiva advinda do céu. Esta crença corrobora o que foi idealizado a muito por Mircea Eliade, que mesmo não pensando numa perspectiva cristã, muito tem contribuído para o estudo das culturas religiosas. Segundo ele, em suma, os mitos descrevem as diversas, e algumas vezes dramáticas, irrupções do sagrado no mundo. É essa irrupção do sagrado que realmente fundamenta o mundo e o converte no que ele é. É em razão das intervenções dos seres sobrenaturais que o homem é o que é hoje, um ser mortal, sexuado e cultural [3].

Diante desta profícua explanação, o que nós compreendemos é que existe uma forma de se comunicar o evangelho a estas culturas sem, no entanto, destruí-las. Ora, é o sentimento de pertencer a algo que faz com que o homem consiga viver em sociedade [4]. Muitas empreitadas missionárias tem falhado ao longo dos anos porque não levam em conta a identidade cultural dos povos e ao invés de enlevar o que de bom existe e reparar as arestas que não louvam a Deus, mutilam completamente toda uma cultura, que por sua vez era acreditada como verdade absoluta, às vezes por milênios, criando não um convívio propício a comunicação do evangelho, mas, uma barreira quase que intransponível. A forma como nós podemos preservar a identidade cultural dos povos e faze-los adoradores do único Deus Verdadeiro é pregando o evangelho de maneira contextualizada.

Segundo Don Richardson, em cada cultura, seja ela qual for, existem parâmetros (os quais ele chama de pontes) que se bem trabalhados serviram para esclarecer as pessoas para a singularidade do Evangelho. Estas pontes estão inseridas na própria cultura evangelizada e funcionaram como um “abridor de olhos” que fará com que a verdade parcial que eles conhecem se transforme na verdade absoluta do evangelho de Jesus Cristo. No caso em questão, a ponte seria o próprio mito do Cargo Cults, que diz que na vitória do deus tribal a recompensa virá do céu. Este pensamento aponta de uma maneira maravilhosa para promessa que nos feita em Apocalipse 21.2Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo”. Ora, observem que ponte maravilhosa, se bem utilizada a promessa de Apocalipse pode eclipsar o falso pensamento das culturas do Cargo Cults. Eles, enfim, poderão compreender a perspectiva verdadeira daquilo que eles acreditam ser a verdade. Tudo através de um parâmetro cultural encontrado na própria sociedade e que aponta para uma verdade que fará com que estes povos deixem a penumbra nefasta das trevas e passem a viver sobre uma fulgurante luz, a qual emana unicamente do Evangelho.

Por isso o Senhor Deus nos abençoou com um Evangelho Supracultural, pois, uma vez que ele se encontra a cima das culturas, elas precisam conforme a comunicação dos santos, se amoldar ao evangelho, e nunca o contrário. Todavia, a pesar da total depravação tanto da humanidade quanto da criação, apenas os aspectos da própria cultura que não se encontram moldados à semelhança do Evangelho é que precisaram sofrer alterações, não apenas para o bem da cultura, mas, sobretudo, para Glória de Deus. Por isso, quando se fala em comunicação do Evangelho, o que se está em jogo não é à vontade daquele que comunica a mensagem, tão pouco a supremacia de sua cultura em detrimento da que está sendo evangelizada, e sim a manifestação da Glória de Deus. Nós não comunicamos o aniquilar da cultura receptora para manifestação a Glória de Deus, absolutamente! Nós comunicamos a supremacia de Cristo sobre todas as coisas, para Glória de Deus, e para alegria de todos os povos [5].

[1][2][3] ELIADE, Mircea 1907-1986
Mito e Realidade/Mircea Eliade; [Tradução Pola Civelli]. -- São Paulo:Perspectiva, 2007. -- (Coleção Debates; 52/dirigida por J. Guinsburg)

[4] Comissão de Lausanne para a Evangelização Mundial. O Evangelho e a Cultura. Série Lausanne 3.

[5] PIPER, John
God is the Gospel Deus é o Evangelho/ John Piper; [Tradução Marilene Paschoal, Ana Paulo Eusébio Pereira] -- São José dos Campos: Fiel, Missão Evangélica Literária.