quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

ALÉM DO VÉU DE MAYA.


Na Mitologia Hindu (Dighanikaya), o neófito (não iniciado), está sujeito ao self (uma espécie de sono, ignorância, prisão ou véu), até que é esclarecido por alguém que conhece o verdadeiro ser, “Brahma”, que simpaticamente o ensina acerca do conhecimento do mundo e da vaidade, desta forma, o homem é livre de suas próprias ilusões e conhece então o seu verdadeiro ser, encontrando enfim a orientação necessária para romper o “Véu de Maya”.

O Véu de Maya seria uma distração sensorial que impede o homem de ver o mundo da forma como ele é. Imagine uma imensa fila indiana a vagar pelo deserto, e imagine que existam inúmeras possibilidades de se empreender uma nova direção, todavia, todos os homens, por causa de um “tapa olhos”, não conseguem vislumbrar o que acontece a sua volta, sujeitando-se a tão somente olhar a nuca daquele que vai a sua frente. Romper o Véu de Maya seria deixar esta fila indiana através do conhecimento de que se é possível percorrer um outro caminho, um caminho não percebido até então pelos demais pelo fato do véu que os engana. Por causa do Véu, os homens pensam que estão orientados e no caminho certo, e por vezes não conseguem divisar o mal que vos espreita, o qual seja o caminhar para lugar algum e esquecer de seu lugar de origem.

Segundo Mircea Eliade, nos ensinamentos hindus os deuses caem do céu quando lhes falha a memória e seu pensamento se confunde; paradoxalmente, os deuses que não se esquecem são imutáveis, sublimes, eternos, de modo que não reconhecem qualquer tipo de mudança. O esquecimento equivale ao “sono”, ao acaso, a perda de si mesmo, à desorientação, à “cegueira” (a venda nos olhos).

Diz um velho texto hindu, o Chandogya-Upanishad que certo homem foi seqüestrado por salteadores com os olhos vendados, e após ser liberto num local ignorado passou a bradar: “Fui conduzido pra cá com os olhos vendados, fui abandonado por aqui com os olhos vendados!”. Após algum tempo alguém lhe remove a venda, e o homem passa a indagar o seu caminho de aldeia em aldeia, até que enfim consegue retornar para casa. Fato interessante, é que este mesmo texto diz que aquele que tem um mestre competente (que o ensina o caminho) consegue livrar-se das vendas da ignorância e atingir finalmente a perfeição.

Um certo sábio hindu comentou que este homem tolhido pelos salteadores foi levado para longe do “Ser” (seu lugar de origem) e se vê preso na armadilha do seu corpo (na fila indiana). Os ladrões representam as falsas idéias, sua vida transitória (o medo de romper a fila). Seus olhos estão vendados com a venda da ilusão (o véu de maya), a qual provoca um frenesi de incertezas, “sou o filho de fulano, sou feliz ou infeliz, sou inteligente ou estúpido, sou piedoso, etc. Como devo viver? Onde existe uma via de evasão? Onde está minha salvação? É neste estado nefasto e recheado de dúvidas que ele se encontra até que alguém “esclarecido” lhe retira a venda que o impede de ver a realidade concreta, o que está além do véu da ilusão e o coloca na direção correta.

A idéia de um estado de ilusão que se nos revela foi de certa forma ensejada a cultura ocidental de maneira mais ampla através dos escritos de J.J. Benitez (Operação Cavalo de Tróia), os quais tem colocado deveras caraminholas nas mentes do menos esclarecidos, bem como através da Trilogia Matrix, produção cinematográfica que de maneira direta exemplifica o estado de alguém que não ciente de uma realidade patente, se torna mero coadjuvante de uma realidade que o envolve drasticamente excluindo-o de participar de um acontecimento real. Ambas as idéias não apontando para o sentido real de que se poderia derivar o conceito de uma ilusão que acomete o homem e o torna escravo de uma teia de incertezas.

Todavia, o Apóstolo Paulo, muito antes que qualquer destes, já nos advertia a respeito de um véu que nos impedia de ver uma profunda e urgente realidade tão patente aos nossos olhos, mas, camuflada por um “tapa olhos” que nos impedia de divisar sua importância. Ele disse: “Mas, quando se converterem ao Senhor, então o véu se tirará” (II Co 3.16).

Paulo procurava nos alertar, através da Palavra de Deus, que o homem que não é esclarecido pelo Espírito Santo por meio da pregação do evangelho (paro o hindu seria o Brahma), encontra-se envolto numa bruma (na mitologia hindu o véu de maya) que o impele a caminhar distante em busca de um futuro longe de casa (nos lugares baixos, ínferos), distante de seu Criador. Todo homem que não conhece a salvação fomentada pelo Espírito de Deus, que só pode ser concedida através da morte de Jesus (Jo 16.7) na Cruz do Calvário, encontra-se escravo deste mundo de ilusões transitórias que se esvaem sem prédicas de tempo ao simples fluxo do viver. Mas, com o revelar da Palavra que é compreendida por meio da fé, o homem tem diante de si descortinado o “Véu da Criação” e passa a compreender a verdade perene que o envolve desde a fundação do mundo, entendendo o plano de ação do Criador de todas as coisas para restauração de sua vida. Quando a revelação do Deus Todo Poderoso irrompe na mente do que crê, o Espírito o liberta desta realidade transitória e lhe responde as dúvidas crucias que o infligiam tamanha angústia, fazendo-o perceber de onde ele veio, para onde ele vai, o quê o espera, e o que há além do caos disfarçado pelo véu.

Paulo, no mesmo texto, também fez menção à tristeza que o acometia pelo fato de alguns não se aperceberam da existência do véu, pois estes, mesmo sendo ensinados, continuavam sem compreender (II Co 3.14-15). Muitos, ainda hoje, talvez não acreditem na realidade do véu, pois, esta é a função do “tapa olhos”, ele existe para isso, não permitir a visão, a rememoração, a libertação, a salvação. Para essas pessoas, a única coisa a fazer é rogar a Deus que os liberte da efêmera ilusão da vida, dessa teia de vaidades que os envolve e os permita ver a realidade da vida, a qual está bem ali, “Além do Véu de Maya”.

Nas sábias palavras de Fauzi Beydoun:

Você vê o meu corpo e pensa que sou eu
Ele não é eu ele não é meu
É só uma dádiva dada emprestada
Deus foi quem me deu por breve temporada
É só uma roupagem, densa embalagem
Que não me pertence
Aliás, nada me pertence nesse mundo
Tudo é transitório, tudo é ilusório
Ainda que se pense que o que se vê é pura realidade
Na verdade, o que se está a ver
Não é mais que um lapso
Distorcido da eternidade

LIBERTE-SE!

3 comentários:

Igor disse...

É interessante observar como em todo o mundo existem doutrinas ou ideologias para explicar a ignorância (cegueira) do homem referente ao divino, demonstrando, com isso, a carência ou necessidade espiritual do ser humano, de reencontrar com o seu criador, busca esta originada no edem, quando o homem se apartou do convívio com Deus.
Irmão tenho uma duvida em relação a origem das religiões africanas, nas suas pesquisas se achares algo compartilhe conosco.
Um abraço fraterno, do seu irmão Igor.

Anônimo disse...

Aio Jamerson,a paz do Senhor!!
Desde que você falou acerca desse mito nas nossas aulas eu fiz umas duas pesquisas sobre o assunto e pra meu espanto o mesmo é bem discutido e defendido com unhas e dentes pelos seus seguidores.Me corrija se eu estiver errado,os ensinos desse mito estão diretamente ligados ao gnosticismo e sua busca pelo pleno conhecimento.Confesso que quando começei a ler sobre o mito me senti o proprio Keanu Reeves no filme matrix,me arrisco a dizer que os irmãos wachowski escritores do filme beberam dessa fonte pois as relaçoes enter ambos são incontestaveis principalmente quando lemos acerca da fila indiana que vagueia pelo deserto da ignorancia esperando a libertaçao por meio do conhecimento e o que mais me chama a atenção é que muitos esclarecidos se rendem a essas teorias que desvirtuam o sagrado evnagelho,mesmo que para os que tem um pouco de conhecimento de fenomenologia,sabe que tudo isso não passa de uma manifestaçao do sagrado só o que temos que ter cuidado é o quanto esse sagrado fere a santo evangelho.
Bom post estarei atento a novas publicaçoes!!!
No amor eterno Daquele que nos chamou das trevas para o reuno do seu amor,seu amigo Joel!!!!

Mateus disse...

Interessante também é a visão de Arthur Schopenhauer a respeito do Véu de Maya. Excelente texto parabéns.