terça-feira, 2 de março de 2010

A RELEVÂNCIA DO CONTEXTO.


O contexto é importantíssimo para perfeita comunicação do Evangelho, pois, conforme oficializou o Relatório da Reunião de Consulta para Evangelização Mundial, ocorrido em 1978, na Cidade de Somerset Bridge, Bermudas, patrocinado pelo grupo de Teologia e Educação de Lausanne, se retirarmos o homem de seu meio cultural abruptamente, uma ruptura ocorrerá em seu meio social, fato que para os eruditos que elaboraram o relatório seria uma catástrofe, pois, conforme afirmam, homens e mulheres precisam de uma existência unificada. Sua participação em uma cultura é um dos fatores que lhes proporciona pertencer a algo. A cultura da um sentido de segurança, de identidade, de dignidade, de ser parte de um todo maior e de partilhar a vida de gerações anteriores e também das expectativas da sociedade com respeito ao seu próprio futuro. Se privarmos o homem desta experiência prática, nem todo conhecimento do mundo o fará pertencer a algo novamente, pois, segundo uma das mais confiáveis teorias sobre a inteligência humana de que se tem notícia (inteligência multifocal), o conhecimento humano jamais é deletado e reescrito, e sim, reeditado.

Esta premissa aponta para a questão de que não funciona comunicar o “erro” (pecado em nosso caso) a partir da perspectiva cultural do comunicador da mensagem (missionário que se coloca numa posição de superioridade), mas, a partir da cultura do próprio indivíduo (através de parâmetros contextualizados), fato que fará com que o mesmo (nativo), compreenda a dimensão do que está ocorrendo com ele de maneira pertinente e significativa, recebendo, assim, uma mensagem estritamente fundamentada, sem, no entanto, ter que diluí-la para isso. Nesse processo, a ortodoxia é estritamente preservada, nenhum tipo de pressuposto sincrético, ou mesmo liberal, tem parte no processo evangelístico, antes, a sólida teologia apostólica é comunicada axiomáticamente. A contextualização consiste de um compromisso com a perfeita comunicação e não num desapego a genuína evangelização, este preceito, é sempre apodítico.

Com base nisso, um dos textos sagrados que fundamentam muito bem esta premissa é encontrado no Evangelho de João, capítulo 7, versículos de 37 a 44.

Trata-se, resumidamente, da passagem de Jesus em Jerusalém por volta da comemoração de uma das três festas mais importantes para todo judeu, A Festa dos Tabernáculos. Conforme lemos, decorria-se o último dia da festa, deveras, o mais importante, pois, necessariamente neste dia, numa tradição que permeava as raias culturais em tela desde tempos outros, cada cidadão, num cortejo devidamente orquestrado, empunhava ramos de oliveira nas mãos, ao mesmo tempo em que orava por sete vezes ao redor do Altar das Ofertas Queimadas. Todavia, culturalmente falando, o fato que nos chama atenção é que durante os dias que antecediam este em questão, um sacerdote trazia um pouco de água em um vaso de ouro, água esta que, por sua vez, havia sido tirada do Tanque Siloé. Assim, sendo acompanhado pelo cortejo supra, o sacerdote seguia até o Templo, onde, diante do Altar, despejava a água, juntamente com vinho, ao mesmo tempo em que toda cerimônia era regada ao som da Halel (Salmos 113-118).

Para o devoto judeu, esta metódica cerimônia simbolizava, ou melhor, comemorava a provisão de água, fomentada por Deus, quando outrora, a rocha fora ferida por Moisés. Ato contínuo, também tinha como alvo buscar a benesse de Deus em favor de um ano bem servido por chuvas caudalosas, que, providencialmente, contribuiriam para um ano de colheitas fartas.

Ora, não é de admirar que neste contexto um pouco de água detivesse tamanho poder sobe as atenções do povo, pois, em se tratando de reservas hídricas, estamos falando de uma das regiões mais áridas do mundo. Depreende-se, desta nuance geográfica, que a água possuía um valor importantíssimo na vida dos judeus, e que, a simples menção há um ano desprovido sequer de poucos milímetros desta dádiva celeste, fomentava, obviamente, uma altercação no zelo de qualquer destes.

Sabendo disto, conforme percebemos, Jesus, sempre poderoso em palavras, numa profícua demonstração da importância do contexto para comunicação do Evangelho,talvez, procurando uma posição que o destacasse da multidão, gritava : “Se alguém tem sede, venha a mim e beba!”. Que mensagem! Isto sim é o que chamo de comunicar na linguagem do povo! Ora, todo aquele rito girava em torno do aprovisionamento de água, pois, conforme o povo compreedia ela era a "Fonte da Vida". Assim, através desta ponte cultural, Jesus, categoricamente afirmava: Eu Sou a fonte da Vida!

Pertinência, significância, esclarecimento, que mais poderia eu acrescentar a tão breves palavras que até hoje ressoam tão poderosamente. A verdade é que as pessoas procuravam suprir suas necessidades através de uma adoração vazia, pelo viés de uma cerimônia que exalava tradição por seus poros, mas, que não as conduzia ao encontro daquele que controla não só a chuva, mas, o Rio da Vida. Jesus demonstrava ao povo que eles não precisavam se desesperar, rasgar as vestes, chorar as cargas, ao simples fato de um tropeço do sacerdote que, inevitavelmente, derramava um pouco daquela riqueza tão cara e rara em suas debilidades. Ele dizia, em palavras assimiláveis, quem tiver sede, venha a mim e beba! Eu posso, dizia, agora mesmo, lhes transmitir a vida que a água vos transmite, e não apenas isso, mas, lhes proporcionar um advento de vida tal, que de seus ventres, fluirão rios de água da vida (V38).

Perceba, toda aquela multidão, implorando a plenos pulmões, hosana, hosana, hosana, tão somente procurando o auxílio do Deus Todo Poderoso, dizendo: Ó Senhor ajuda-nos! E Jesus, em resposta ao clamor do povo, respondendo de maneira que todo judeu (literalmente, pois, se tratava de santa convocação) lhe compreenderia prontamente, salvíficamente. Pois, em maior medida, a mensagem de Cristo lhes impulsionava não apenas a um novo direcionamento hídrico, mas, sobretudo, a uma novidade de vida que extrapolava a da simples água mineral, e saciava-os pela espiritual.

A profusão de um único rio talvez já bastasse, entretanto, Ele usa rios (plural), o que subtende o abastecer não só de uma única vida em especial, mas, de quem estiver disposto a recebê-lo.

Logicamente, conforme citado no verso (39), Jesus falava-lhes simbolicamente em referência ao Espírito Santo que haveria de receber todo aquele que n’Ele cresse. Mas, que não poderia ainda ser concedido, uma vez que, o próprio Jesus ainda não tinha sido glorificado, fato que inegavelmente apontava para o “derramar” do Espírito Santo, que ocorrera, posteriormente, no Pentecostes. O fato, é que este derramar, outrora prometido, hoje, é uma realidade “perene”, e disponível a todo aquele que, com sede, luta por suprir a cruciante necessidade da manutenção da vida, e esta, física e espiritual.

Hodiernamente, conforme bem dizia Dostoievski, as pessoas estão sim preocupadas em suprir suas necessidades, todavia, a semelhança dos antigos judeus, através de práticas que jamais conseguirão, pois, nas palavras do célebre escritor russo:

DENTRO DE CADA HOMEM EXSITE UM VAZIO DO TAMANHO DE DEUS.

Enfim, o que jesus estava procurando dizer era:

Preencha-se!

Um comentário:

Igor disse...

Meu irmão paz do Senhor, para não perder o costume irei dar uma pincelada a respeito desse assunto tão complexo que é a CONTEXTUALIZAÇÃO BÍBLICA, tal complexidade me deixa sem muita bagagem para falar sobre o tema, mais mesmo assim me arriscarei.
Vejamos, concordo plenamente nesta questão de conhecer a cultura para pregar o evangelho (inclusive tens um artigo sobre o assunto), porem o perigo mora ai, pois deixa uma brecha enorme para muitos desavisados e oportunistas,(sem discernimento divino) conhecendo a cultura a aceita, concorda e comunga, para atrair muitos a “sua igreja”, questão de quantidade, infelizmente uma igreja abençoada tem que ter muito gente,(mesmo que esses estejam enraizados na tradição da adoração ao deus sol...). Como assim, vamos fazer uma pequena viagem ao passado, primeiramente a igreja católica, quando Constantino (que acredito ter sido o primeiro papa) se converteu, Roma não deixou de perseguir (só que agora o contrario), antes perseguia os cristãos, agora perseguem aqueles que não são "cristãos", e para atrair a muitos ela simplesmente aderiu ao politeísmo disfarçado, ou seja, como muitas regiões adoravam vários deuses ela simplesmente quando conquistava um povo dizia: (para não haver um grande choque) “não se preocupem vocês adoram a água, o céu, a arvore etc, nós temos estes santos que representam seus deuses”, o próprio Constantino colocou a data do nascimento de Cristo para o dia do deus sol e seu aniversário (é o que mais me deixa perplexo, pois muitos evangélicos acreditam mesmo que Jesus nasceu em 25 de dezembro) mais isto é outro assunto, voltemos para a contextualização, agora no âmbito dos protestantes, quando a América do norte foi colonizada existia uma "seita" chamada Quaker (origem inglesa), que tinha como representante na América um homem chamado Penn, este fundou a cidade da Pensilvânia, que era considerada a cidade mais desenvolvida das 13 colônias inglesa, um dos principais motivos era devido esta cidade tolerar todas as religiões (abrindo caminho para o ecumenismo) então muitos que eram perseguidos pelos puritanos (ditos fundadores dos EUA) refugiavam-se lá, com isso houve vários choques de doutrinas entre as "seitas", coisa que Penn fundador e incentivador de tal tolerância não concordava. Trocando em miúdos, em Roma a moda era dominar regiões e inculcar sua cultura na cabeça do povo, que significava domínio pleno e, e no sec. XVI e XVII, com a modernidade a moda é o plural e a diversidade, infelizmente benção neste período (e hoje) é sinônimo de riqueza então a Pensilvânia estava exatamente nestes padrões de ser uma região abençoada por exatamente tentar "contextualizar" a palavra de Deus aceitando todas as formas de culto.
Irmão, acho que me alonguei, mas estou terminando, a referencia bíblica que colocaste é um exemplo que devemos como Jesus procurar propagar o evangelho da forma que não choque a população, acostumada com culturas de muito tempo, mas temos de estar em total sintonia com Deus para que fiquemos apenas no “abre olhos” não se acostumando, deixando-se levar pelo que estar na moda ou que atraia mais gente, (pois sabemos que o caminho é estreito) e com isso não nos contaminemos com as “iguarias do rei” (ou do sistema mundial e para nós particularmente p....). A modernidade tem criado vários deuses, que adoramos sem perceber e nos afastamos do nosso principal alvo, só para encerrar, verifique o nome da campanha da fraternidade deste ano fala sobre um desses deuses. E é por isso que reitero com o apostolo Paulo “a tua graça me basta Senhor”.