terça-feira, 4 de setembro de 2018


Simão e a Pecadora

Considerações acerca das possíveis motivações que nos conduzem até o Senhor Jesus


O mesmo Deus para duas motivações distintas (V36-39)
                Lucas nos diz que o fariseu Simão, convidou o Senhor Jesus para que fosse jantar com ele. Seguramente este homem já tivera oportunidade de ouvir as palavras de Jesus, de modo que, provavelmente esperando alguma espécie de promoção pessoal; resolveu recebê-lo em sua casa – perceba que várias pessoas ilustres também são convidadas para prestigiar a Simão e seu convidado.
Uma vez na casa de Simão, Jesus tomou lugar. A mesa daquela época seria como um centro, um divã, nos dias de hoje. Ela era baixa, quase rente ao chão, tinha forma de “U” e era toda cercada com almofadas. Ao sentar, os que não eram escravos tiravam as suas sandálias e reclinavam-se sobre um dos braços, enquanto que o outro ficava livre para comer e os pés permaneciam voltados para trás.
O fato que chama atenção é que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que Jesus estava à mesa na casa do fariseu, levou até Ele um vaso de alabastro com unguento. O fato de Lucas mencionar que ela era da cidade, aponta para o fato de que o fariseu a conhecia bem. Ou seja, Simão conhecia quem era a mulher e que espécie de vida ela possuía.
Por sua vez, sabendo a mulher que Jesus estava na casa do fariseu, resolveu presentear-lhe com o que tinha de mais precioso. Sua postura perante o Senhor Jesus deixa isso bastante claro, uma vez que ela, estando por detrás, passa a acariciar-lhe os pés, chorando.
A pecadora vai ainda mais além em sua profunda entrega a Deus, e, num ato proibido a todas as mulheres judias da época, ela desprende o véu dos seus longos cabelos, e, com eles, passa a enxugar os pés de Jesus. Enquanto ela lavava os pés empoeirados do Mestre com suas lágrimas e enxugava-os com seus cabelos, enternecia-os com seus lábios beijando-os profusamente.
Quando, finalmente, percebera que os pés do Mestre estavam prontos, quebrou o preciosíssimo vaso de alabastro e perfumou os pés de Jesus. Um vaso de alabastro era um objeto caríssimo feito de um material mais nobre que o mármore, e que só era encontrado nas regiões da Cilícia. A história assevera que eles possuíam um gargalo muito longo, de modo que para serem usados, precisavam ser quebrados.
                A visão da mulher tocando em jesus e lhe prestando todo aquele cuidado deixou o fariseu Simão estupefato. Talvez, naquele momento, Simão achasse que se realmente Jesus fosse um profeta, saberia prontamente “quem e qual” a mulher que estava lhe tocando. Ele provavelmente deixava transparecer a todos a maneira com que estava abismado pelo fato d’Ele deixar-se tocar por uma pecadora.
Neste ponto eu pergunto: - Você consegue perceber a nítida diferença nas motivações de Simão, o fariseu, e da mulher que estava furtivamente em sua casa?
Simão estava preocupado com status, em ser visto com Jesus. Ele sabia que Jesus era um mestre festejado e poderoso, conhecia sua reputação e a maneira com que ele estava revolucionando Jerusalém com sua mensagem. Logo, Simão não queria perder a oportunidade de estar mais próximo de um homem assim. Sua ambição era meramente social e intelectual.
A Mulher, por sua vez, reconhecia em Jesus o Messias, àquele que finalmente poderia restituir toda a dignidade que o pecado havia roubado de sua humilde vida. Ela não queria perder a oportunidade de ser transformada pelo Mestre, de entregar sem reservas a Ele tudo o que de mais precioso possuía. Ela não queria simplesmente ser vista com Ele, queria servi-lo, amá-lo, adorá-lo.
Eis, portanto, a grande diferença de postura entre Simão, o fariseu, e a mulher pecadora. Para Simão, Jesus era a possibilidade de manter-se na mesma vida, de aperfeiçoá-la, enquanto que para a mulher, jesus era a possibilidade abandonar a àquela vida, de acabá-la de uma vez.  
Em outras palavras, Simão estava meramente envolvido com Jesus, enquanto que a mulher estava profundamente comprometida.

O conhecimento que temos do nosso próprio pecado nos dará uma ideia da dimensão que temos de nossa própria dívida (V40-43)
                Sabiamente, o Senhor Jesus aproveita o clima criado pela postura de Simão e o objeta da seguinte maneira: - Simão, tenho uma lição para você! Ao que Ele respondeu: - Dize-a Mestre.
Simão achava que Jesus estava por instruir-lhe com uma das áridas lições farisaicas, destituídas de calor humano, de vida. Não sabia ele que como um ser onisciente, Jesus sabia exatamente o que se passava em seu coração, e, desta forma, estava prestes a dar-lhe uma lição que mudaria para sempre a sua vida.
Desta forma, o Senhor Jesus passa a contar-lhe a história de dois homens que coincidentemente possuíam uma dívida com o mesmo credor. Com a diferença de que um devia 500 denários, enquanto que o outro apenas 50. Um denário era o equivalente a um dia de trabalho. Logo, um dos devedores devia o equivalente a 500 dias de trabalho árduo, uma verdadeira fortuna, enquanto que o outro devia apenas 50.
Jesus diz que o credor, graciosamente, perdoou a ambos, e, ao final, olhando nos olhos de Simão, pergunta: - Qual deles, portanto, o amará mais?
                Até este ponto o pobre e cego fariseu não conseguia distinguir que Jesus se referia a ele e a mulher. Isto porque Simão achava que sua condição diante de Deus era muito diferente da condição da mulher. Afinal, ele era um poderoso fariseu, enquanto que ela, não passava de uma pecadora. Não sabia ele que na verdade suas condições diante de Deus eram exatamente as mesmas. A compreensão destas é que era diferente!
                Momento em que finalmente Simão responde: - Suponho que aquele a quem mais perdoou. Ao que Jesus ajuntou: - Pela primeira vez, Simão, julgaste bem!
                Ao que parece, fora neste momento que, para surpresa de Simão, ele finalmente percebeu que aquela história dizia respeito a ele. Neste ponto, a bruma que envolvia o coração daquele soberbo fariseu estava se dissipando, enquanto Jesus percebia que o mesmo estava finalmente pronto para ser confrontado pela mensagem!

Quando compreendemos quanto devíamos e a maneira com que fomos perdoados, podemos, também, perdoar (V44-50)
                - Vês esta mulher? Ora, Simão só conseguia enxergar uma pecadora, e não uma serva de Deus que recebia a Cristo de todo coração. Com esta pergunta, o Senhor Jesus queria que ele abrisse os olhos para algo mais, algo que àqueles que se auto justificam jamais conseguiram ver – a premente necessidade que todos temos de Jesus!
Àquele homem se orgulhava da maneira zelosa com que “servia a Deus”, quando, na verdade, nunca tinha ao menos se achegado aos pés de Jesus, nunca tinha vivido uma experiência real com Ele.
“Quem vê a si mesmo como bom, não percebe a sua necessidade de um Salvador. Quão diferente é quando compreendemos que somos pecadores condenados, e entendemos que basta um único pecado para nos condenar por toda a eternidade” Martin Lloyd-Jones.
É com base nesta observação que Jesus mostra a Simão quem verdadeiramente o amava, Ele diz: - Não me deste água para os pés, enquanto ela regou meus pés com suas lágrimas e os enxugou com seus cabelos. Não me beijastes no rosto, ela, por sua vez, não cessa de beijar os meus pés. Não ungistes a minha cabeça com óleo, enquanto que esta pecadora, com bálsamo caríssimo, ungiu-me os pés.
É como se o Senhor Jesus estivesse dizendo: - Você está vendo, Simão? Sendo meu anfitrião, não me fizeste o mínimo, não me deste o menor valor, enquanto que esta mulher, de maneira tão doce, demonstrou-me todo o seu amor.
Talvez isto aconteça porque, somente aqueles que compreendem sua real necessidade de um salvador, poderão de fato encontrá-lo e agradecê-lo por sua gloriosa salvação.
                Logo, é verdade dizer que a maneira com que nós amamos a Jesus é diretamente proporcional a dimensão do perdão que sabemos ter recebido d’Ele. Em outras palavras, enquanto o fariseu só queria ostentar nobreza com a presença de Jesus, a mulher estava disposta a entregar tudo o que possuía para estar próxima do Filho de Deus – pois ela sabia o valor que Ele tinha.
Portanto, apenas àqueles que conseguem dimensionar o tamanho da dívida que possuíam podem dar o devido valor a pessoa do Senhor Jesus e consequentemente ao perdão que receberam d’Ele.
                Que hoje, prostrados aos pés de Jesus, nós possamos provar para Ele como é precioso para nós o seu perdão. Que Ele tenha certeza, assim como teve daquela mulher, que nós o amamos. Só esse amor pode fazer com que a nossa adoração seja verdadeira. Sendo assim, aproxime-se de Jesus com amor suficiente para ouvi-lo dizer: A tua fé te salvou; vai-te em paz!