Hoje, gostaria de escrever sobre algo diferente. Nada de fenomenologia da religião.
Ao contrário, aproveito para compartilhar com os amados irmãos um dos momentos mais especiais de toda minha vida - minha ordenação ao ministério pastoral.
Desde que me vi completamente absorto na obra de nosso Senhor Jesus Cristo, entrementes minha conversão - momento em que fui irresistivelmente alcançado pela graça salvífica - sempre sonhei com o dia em que me tornaria (ou seria tornado) um Ministro do Evangelho.
Não obstante, o primeiro contato que tive com esse sonho foi através das folhas pontilhadas de teologia pastoral escritas pelo Rev. C.H. Spurgeon. Conheci este homem de Deus através de uma referência que mencionava o mesmo como "o Príncipe dos Pregadores". Ao ter contato com este singelo "pronome de tratamento", não tive dúvidas, tinha que ler o mesmo. De posse desta premissa, parti em direção a uma das duas únicas livrarias evangélicas de que minha cidade dispunha. Ao chegar lá, de pronto, percebi o quão "caro" é procurar conhecimento através de literatura evangélica. Percorri os corredores da livraria sabendo o que tinha de procurar - um livro do senhor Spurgeon. Se ele era o príncipe dos pregadores e eu queria me tornar um (pregador), então, seria com ele que eu iria ter que começar. Após alguns minutos de procura, enfim, a descoberta, lá estava, meio amarelado pelo tempo (penso que não eram muitos os irmãos que conheciam o senhor Spurgeon na minha cidade) o livro tão desejado. Peguei o mesmo e não me preocupei em ler a sinopse, podia tratar do tema que fosse, se era do Spurgeon, para mim estava ótimo. Desta forma, qual não foi minha surpresa quando percebi que não possuia nem mesmo metade do valor estipulado pela loja, decepção. Entretanto, escondi o mais que pude o livro na prateleira que achei menos vasculhada e sai daquela loja disposto a conseguir o dinheiro o quanto antes.
Cerca de um mês depois, lá estava eu. Com várias moedas no bolso, um monte de notas surradas (as de menor valor são as que mais circulam, daí o motivo de tamanho disgaste) e pelo menos uma nota de maior valor (uma benção recebida do papai). Altaneiramente saltei de um pulo no ônibus e parti em busca de minha jornada épica, a procura daquilo que inevitavelmente seria o motivo de tanto deleite futuramente, livros. Mas, não se tratava de um livro qualquer, era o meu primeiro livro!
Lembro de ter corrido o máximo que pude para rever o objeto de dias de trabalho árduo. Temia que algum teólogo de plantão o tivesse achado para somar a sua, talvez, robusta biblioteca, enquanto eu ainda não possuía nenhum exemplar. Contudo, graças a Deus, o meu "O melhor de C.H. Spurgeon" ainda estava lá. Abracei-me com o mesmo e parti, na mesma rapidez com que vim, de volta para minha casa. Tomei o livro nas mãos, trancado no meu quarto e rasguei demoradamente o plástico que o revolvia, - não ousei assiná-lo, hábito que sigo até os dias atuais. Lembro-me que o li demoradamente, afinal, não sabia quando encontraria, e, teria condições, de comprar outro.
Foi com Spurgeon que aprendi que um verdadeiro homem de Deus deve amar o conhecimento, se dedicar a leitura, a piedade, a comunhão, a comunicação axiomática das doutrinas inalienáveis da reforma. Entretanto, o que mais me chamou atenção, foi o fato do velho pregador considerar a comunicação do evangelho genuíno a maior honra que um homem pode receber, isso, e nada mais. Creio que vocês devem imaginar o que aconteceu depois. Lá estava eu, nas palavras de Martin Lloyd-Jones, "sonhando com a plataforma superior". Tornei-me, decididamente, irremediavelmente apaixonado pelo conhecimento e deleite deste Deus Todo Poderoso.
Dois anos depois, mesmo fazendo parte de uma igreja de orientação pentecostal (tipo a "letra mata"), decidi matricular-me num seminário, e o fiz. Descobri o mundo maravilhoso da Plenitude dos Tempos; encantei-me com os ensinamentos de Cristo, empolguei-me com a realidade austera da igreja apostólica, surpriendi-me com a velocidade com que os pais apostólicos atearam fogo no mundo de então, decepcionei-me com a estatização da fé, com o negrume das cruzadas; com o relaxamento do credo e com a venda das indulgências. Entretanto, ganhei ânimo novo com a reforma protestante, expandi meus horizontes com o estudo das línguas clássicas, empolguei-me com as missões modernas, vibrei com a teologia do século XVIII (até hoje recorro a este século mavioso), e acentei em continuar um legado que percebi pertinente, em finalmente, encontrar-me com o já conhecido senhor Spurgeon e a geração maravilhosa daqueles que continuaram o seu legado.
Em todo este tempo, o púlpito e a glória que dele emanava me encantavam. Deixei as salas como aluno, retornei como prefessor. Entretanto, sem nunca deixar de aprender, ou de concordar com o "título" hora recebido. Neste íterim, descobri o reverendo Hernandes, e, no mesmo período, o reverendo John Piper. Encontrei-me com a teologia da alegria, e identifiquei-me de pronto. Deste contato me sobreveio outros tão maravilhosos quanto. Não tenho palavras.
Com o amadurecimento teológico veio também o físico. Fui achado pelo amor e casei-me com a moça mais bela que já tinha visto em toda a minha vida, sendo esta, também, fruto dos meus dias como seminarista, foi lá, nos corredores do seminário qua a vi pelo primeira vez, como esquecer? - o Senhor preparou todas as coisas. Rayssa foi o melhor presente que Deus poderia me dar. Mas, como em Deus as coisas ainda podem melhorar, quatro meses após o nosso enlace matrimonial, o Senhor nos abençoou com a notícia de que Rayssa havia acabado de engravidar de nossa"pequena notável", Yasmim. Que nasceu nove meses depois para coroar nossa dileta relação. Sendo estas, as duas mulheres da minha vida - o meu legado.
Após o casamento e o término do seminário, o púlpito se tornou um lugar cada vez mais frequente, mas, jamais, acostumado - jamais! Sempre que tenho oportunidade de enfrentá-lo; o faço com temor e tremor. E jamais, em todos estes poucos anos, desci do mesmo com a certeza de um "dever cumprido", sempre me pego esquecendo do principal[...].
Desta forma, faltando pouco mais de dois meses para completar dez anos de busca incessante por mais da Glória de Deus, mais um convite. Desta vez, irresistível. O tempo havia finalmente chegado! No dia 20 de Agosto de 2011, para a Glória sempiterna de meu Deus, fui ordenado Ministro do Evangelho. Creio não ter assimilado ainda o que estou vivendo. Não sei se um dia conseguirei, mas, de uma coisa eu sei, esta promessa gloriosa enfim se cumpriu, e eu estou como os que sonham[...] não tenho palavras para descrever tamanha alegria, tamanha honra, meu Deus, que momento fantástico, que o Senhor seja louvado!
Jamais esquecerei este dia. Da palavra proferida pelo reverendo Pedro da Juvep, que foi poderosamente usado por Deus e me fez, ao longo de sua ministração, reviver intensamente e em detalhes, tudo o que acabo de compartilhar com vocês. Como esquecer todas as "confirmações" deste momento, de todos os familiares que compareceram, dos alunos que estavam presentes, da palavras de força e ânimo, do amigo que fora instrumentalizado pelo próprio Deus e que, quebrando o "protocolo", sentou-se ao meu lado, em meio aos demais oficiais da igreja, e declamou-me, enquanto esperava o momento de subir a plataforma, trechos dos livros do Pr. Spurgeon que se tornaram tão caros ao meu sofrível coração, que me fez em poucos segundos lembrar-me do princípio de minha caminhada, e reviver todas as promessas (frutos daquele primeiro livro, lembram?). Nos meus sonhos mais altaneiros eu jamais houvera pensado que o tão esperado grande dia seria assim[...], obrigado meu Deus!
Finalmente, queridos. Se eu detalhasse melhor cada pequeno momento (tão grande), creio que iria escrever por um bom tempo. O fato, é que amo poderosamente este Deus maravilhoso que enviou o seu Único Filho para morrer expiatóriamente por mim, amo cada palavra, cada vírgula, cada sentença de sua Palavra maravilhosa, a qual me causa um prazer e um deleite que são tão profundos e tão especiais que jamais ousarei defini-los. Amo fazer parte do seleto grupo de pessoas separadas por ele para repartir o pão e celebrar o vinho, creio não ter nascido para outra coisa.
Por tudo,
Obrigado, meu Deus!
P.S. O caráter precede a habilidade e uma alma vale mais que o mundo inteiro.