quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

AS VIGÍLIAS DA NOITE

“Havia, naquela mesma região, pastores que viviam nos campos e guardavam o seu rebanho durante as vigílias da noite” Lc 2.8

Poucas são as pessoas dispostas a viverem os bastidores da vida. Neste frenético ativismo ditado pela ditadura do consumo não resta mais espaços à vida simples.

Exercícios em tudo salutares como momentos com a família, períodos de reflexão e de contemplação são avessos a sempre malgrada agenda de tarefas “urgentes” que possuímos todos os dias.

Ademais, aqueles que, mormente o caos instaurado por um mundo que jaz no maligno possuem a função de servir como contracultura ao que expomos, em sua imensa maioria se percebem imersos nas águas do Lete, completamente esquecidos de sua verdadeira função, quiçá, lutar por aliviar o sofrimento impingido àqueles que não têm como se defender dos sempre atraentes caprichos do mundo.

Entretanto, há muito tempo atrás, “Havia, [...] pastores que vivam nos campos e guardavam o seu rebanho nas vigílias da noite”. Eram homens sábios e experimentados, dispostos a agarrarem leões e ursos pelas barbas para defender uma ovenlhinha indefesa. Homens que sorviam despretensiosamente o orvalho da noite, e que regavam conversas sóbrias ao sempre presente frio do deserto. A estes, coube à graça de numa noite de contemplação, de solilóquios e assossegos, serem banhados não pelo luar, mas pela glória do Senhor Todo Poderoso – que minutos antes havia entregue seu único Filho à humanidade, deitando-o por meio de uma mulher no conforto de uma manjedoura.

Esta história me faz perceber que a luta por relevância não se trava nos tablados da ribalta, tão pouco sob os olhares auspiciosos dos críticos sempre de plantão, ou dos que procuram a todo o custo visibilidade social, não. A relevância se dá no dia-a-dia. No regaço confortável da família, no aprisco aveludado dos amigos, na presença afeiçoada dos irmãos, e, também, nos momentos de vigília, reflexão e contemplação.

O problema, a meu ver, é que tais iniciativas não encontram guarida na vida super ativista das pessoas de nossa geração. Pior. Também não encontram na vida daqueles que foram abençoados por Deus com esta ditosa função, os pastores. Onde estão aqueles que deveriam vigiar nas madrugadas solitárias da noite? Penso que não são muitos que estão a contemplar o balido de suas ovelhas em meio ao doce orvalho que deveria lhes servir de lenitivo.

Neste período de reflexão que se aproxima – O Natal – experimentemos a nostalgia que lhe é própria para sopesarmos nossa vida. Por que os anjos já não nos visitam? Por que as madrugadas não mais nos convidam? Quem está a vigiar nossas ovelhas?

Lembremos que o nosso Supremo Pastor se serviu de nos usar como despenseiros de sua vida simples, mas em tudo feliz. Que a lembrança de seu nascimento nos embale a uma vida que tenha um propósito. Que a sedução do discurso não nos roube de nossa verdadeira missão – aproveitar e fazer com que as pessoas aproveitem a vida.

Vivamos nosso Natal hoje como o viveram nossos amigos pastores ontem:

“Glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes fora anunciado” Lc 2.20

Já vimos o suficiente, vimos o bastante. Nossa experiência é mais que suficiente para um milhão de vidas. É tempo de começarmos a vivermos de acordo com aquilo que já alcançamos. Ò, “Protetores do Rebanho”. Que nossa vida exale o Natal continuamente! Jesus nasceu. É mais que suficiente. Tal relato é “exultação expositiva”.

Um Feliz Natal a todos quantos Ele quer bem!