domingo, 7 de novembro de 2010

SITUAÇÕES INEVITÁVEIS


Após algum tempo sem escrever... venho com palavras que, em muito, divergem das que estou acostumado a compartilhar. Entretanto, como sempre, escrevo sobre o que tenho.

Consoada

Quando a Indesejada as gentes chegar
(não sei se dura ou caroável),
Talvez eu tenha medo.
Talvez sorria, ou diga:

- Alô, iniludível!

O meu dia foi bom, pode a noite descer.
(A noite com os seus sortilégios.)
Encontrará lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta, com cada coisa em seu lugar.



Ah, querido Bandeira...
Você sabe o que sentimos agora. De fato não é bom escrever sobre nossos receios. Já dizia Pessoa:

Num desolado alvoroço
Mais que triste não me ignoro.
Hoje em dia apenas choro
Porque já chorar não posso.


Os pensamentos destes baluartes da poesia denotam algo interessante – As pessoas possuem as mais diversas maneiras de reagir ao inevitável. Estes dias algo parecido aconteceu. Uma irmã. Amiga. Aluna. Por estar saudável, adoeceu. Inevitavelmente. Uma das veias que oxigenam seu cérebro veio a se romper. Neste momento ela está inerte em uma cama de hospital, inconsciente. O coma não permite maiores detalhes.

Como iniciei, foi, de fato, como reagi. Diante de inditosa notícia, pensei – Há de ser, mais uma vez, a “Indesejada de todas as gentes”. Esta inditosa credora, “iniludível”. Mas, ela não foi feliz. Há vida. Há esperança. Tudo acontecerá conforme a vontade absoluta de Deus, inexoravelmente. Entretanto – graças há Deus! Em poucos segundos, outra verdade me ocorreu.
- A iniludível encontrou,

[...]lavrado o campo, a casa limpa,
A mesa posta, com cada coisa em seu lugar.


Tudo estava em seu devido lugar! Ah, certeza maravilhosa! As reações foram as mais variadas. Cada um de nós reagiu à nova de maneira diversa. Contudo, cessado o rubor do inesperado, uma certeza. Tudo estava em seu devido lugar. Foi o que ouvi do meu querido aluno, que por sinal é marido, e, também, companheiro de seminário da pessoa em tela.

- Está tudo bem, Deus está no controle.
- Está tudo bem.

Minha reação instantaneamente mudou... Glória a Deus!
É bem verdade que a forma de sentir continua lúdica, contudo a motivação é outra. Nada de armaduras, estereótipo dos insensíveis. Mas, sensatez. Aprendi a chorar com os que choram, se bem que minhas reações não me furtaram a sobriedade do momento. Todavia,

Hoje em dia apenas choro
Porque já chorar não posso.


Obrigado, meu Deus querido, por me permitir amigos tão caros. Dá-nos forças...


1 - BANDEIRA, Manoel, 1886-1968. Manuel bandeira: uma antologia poética.

2 - PESSOA, Fernando,Fernando Pessoa: Mensagem.